Destruição criativa em andamento #SP500


Estamos presenciando uma época diferente das habituais. Não estou falando da Covid-19, que também se acomoda na descrição. Minha observação é sobre a evolução da economia mundial.

O economista Joseph Schumpeter desenvolveu uma teoria que se aplica muito bem à atualidade. Vejamos sua definição: Schumpeter compreende que a superação de um ciclo econômico ou paradigma técnico no mercado faz parte de seu próprio desenvolvimento. Esse processo de superação, entretanto, acontece através da falência de diversas empresas, setores e iniciativas. Ou seja, as novas criações e inovações surgem ao destruir o que está estabelecido, com uma força incontrolável.

Vocês não acham que o cenário atual se encaixa perfeitamente nessa teoria? Ao mesmo tempo que diversas empresas estão à beira da falência, outras crescem de forma exponencial. Há desemprego causado pelos segmentos afetados, e há setores com dificuldade de contratação. Na bolsa de valores, as empresas Tech valorizam-se continuamente, enquanto outros setores as ações estão muito baratas.

É inegável que a pandemia foi um fator amplificador e acelerador desse processo, e que agora que a economia está voltando ao normal, pelo menos nos países desenvolvidos, está ocorrendo uma rotação nas ações dessas empresas. Mas será que as pessoas vão voltar a comprar nas lojas físicas ou é muito mais cômodo e barato comprar na Amazon?

Outro dia participei de um call sobre tecnologia. Diferentemente do que se imagina, além dos setores já conhecidos, a inovação acontece agora nas indústrias, o que vai trazer enormes mudanças de produtividade e eficiência.

Empresas pequenas se organizam de forma artesanal, oferecendo produtos que concorrem com as grandes marcas, através de canais de distribuição sem custo fixo. Como vem ocorrendo no mercado de cerveja para dar um exemplo de como a Ambev tem dificuldade de crescer do produto tradicional.

Quando o assunto é bolsa de valores, além das pujantes altas observadas no último ano, uma mudança também ocorre na emissão de ações, como podemos ver no artigo de Justina Lee e Lu Wang na Bloomberg.

Graças à emissão recorde, ao boom do SPAC – Special Purpose Acquisiton Company, e ao colapso das recompras provocado pela pandemia, a oferta de ações em todo o mundo desenvolvido tornou-se positiva pela primeira vez em uma década, de acordo com Sanford C. Bernstein. Com US$ 273 bilhões nos 12 meses até o final de março, ficou definitivamente para trás o desespero com a tendência à descapitalização após a crise financeira.

O que começou como uma corrida para reforçar os balanços durante a crise da Covid transformou-se em uma onda de negócios para explorar o apetite insaciável dos investidores por um mercado que desafia avaliações históricas. Desde a Coinbase Global Inc. e Deliveroo Plc às famosas empresas de cheque em branco, as ofertas iniciais e secundárias saltaram para um recorde de US $ 208 bilhões nas 13 semanas até 9 de abril, mostram os dados da Ned Davis Research.

É o mais recente sinal de euforia no mercado de Wall Street.

"Normalmente, a emissão de ações atinge o pico no final do ciclo ao mesmo tempo em que o sentimento dos investidores fica mais forte", disse Emily Roland, estrategista-chefe de investimentos da John Hancock Investment Management. "O rápido aumento da emissão líquida de ações é outro sinal para nós de que esse ciclo de mercado está acontecendo em altíssima velocidade."

Tudo isso é uma grande reversão da era pré-pandemia, quando o número de ações caía ano após ano e a moda era fechar o capital.

Isso estimulou os temores de que o mercado estava perdendo seu atrativo como mecanismo de preços e porta de entrada para levantar capital — sem falar da aflição pelos investidores que estavam perdendo o bonde do capitalismo americano.



A pergunta agora é: os gestores de dinheiro vão engolir essa oferta, ou as recompras corporativas vão dar gás para os mercados nas máximas?

Quanto a esta hipótese, há boas notícias para os otimistas com a Alphabet Inc. e a Apple Inc comprometendo-se a recomprar suas ações após ganhos expressivos. As empresas americanas anunciaram no último trimestre US$ 339 bilhões em recompras, um aumento de 68% em relação ao fundo do mercado na pandemia, embora ainda aquém de US$ 569 bilhões durante o auge de 2018, de acordo com dados da EPFR Global Inc.

As empresas europeias, que tradicionalmente preferem pagar dividendos, podem estar à beira de uma onda de recompra, de acordo com o Morgan Stanley e a Societe Generale SA.




Fiquei impressionado com a alta das receitas relativo as FAAMG no último trimestre, parecem empresas em estágio inicial de crescimento, e não mastodontes com valores de mercado maiores que US$ 1,0 trilhão. Não se pode esquecer que para essas empresas de serviço, a receita nesse estágio é quase igual ao lucro, o que as torna enorme geradoras diárias de caixa.




Alimentada pela atividade de fusão, o boom de private equity e as empresas americanas comprando ações em massa, a escassez de ações nos dias pré-vírus ajudou a alimentar o mercado de alta. A coisa foi para um extremo: em novembro de 2018, a oferta caiu quase US$ 1 trilhão, mostram dados de Bernstein.

No passado, as corretoras compilavam os dados aos clientes como um aviso de que um aumento na oferta trazia retornos futuros mais baixos. Desta vez, as coisas podem ser diferentes.

"Podemos somar altas avaliações e vários meses de entradas recordes como uma série de sinais potencialmente negativos", disse o estrategista Inigo Fraser Jenkins. "Mas eu ainda acho que é certo ter uma visão positiva das ações, pois há um bom argumento de que as taxas reais permanecerão mais baixas por mais tempo, e os investidores de outros ativos pouco rentáveis provavelmente serão forçados a comprar mais ações."

Com os retornos diminuindo em todo o mundo da renda fixa, as ações são cada vez mais vistas como a única opção. Após um boom de especulações no varejo no último ano, os US$ 600 bilhões de entradas em ações globais nos últimos cinco meses superaram o total dos últimos 12 anos, de acordo com o Bank of America Corp.

E não há sinais óbvios de que a demanda vai desmoronar tão cedo.




Embora a economia global esteja apenas emergindo da desgraça e da depressão de 2020, uma onda de ofertas e avaliações elevadas são tipicamente sintomas de ganância nos estágios finais do ciclo de negócios. Para alguns, é um sinal de que a festa das ações está com o salão lotado. Desde que subiu 119% em um ano para a máxima em fevereiro, um fundo negociado em bolsa que rastreia IPOs caiu mais de 15%.

Ainda assim, não há meios seguros para operar num ciclo Covid que continua crescendo graças a estímulos maciços.

"O interesse por ações em geral tem sido muito, muito alto em comparação com os últimos dois anos", disse Katy Kaminski, estrategista-chefe de pesquisa da empresa de quant AlphaSimplex Group LLC. "Muitas pessoas acham que é um momento razoável para emitir essas ações, então pode continuar por muito tempo até que você tenha algum tipo de evento disruptivo."

Tudo parece combinar com um cenário aparentemente confuso. Dependendo de onde se observa, podemos ficar otimistas ou pessimistas, e é isso exatamente o que ocorre nessas mudanças estruturais.

Fica a observação de que: muitas empresas que estão baratas ficarão mais baratas ainda, podendo ter que fechar as portas; empresas caras, principalmente as novas, ficarão menos caras no futuro — e outras não conseguirão decolar.

No post diferença-entre-especular-e-arriscar, fiz os seguintes comentários sobre o SP500: ...” no curto prazo cálculo uma alta que deveria levar o índice a 4.345 linha amarela III para em seguida sofrer uma correção ao redor de 4.155, e por último os objetivos imersos nos retângulos amarelo e azul” ...

 


Hoje, sem a menor explicação, o mercado está caindo mais de 1%. Nem a taxa de juros de 10 anos, a culpada-mor nos últimos meses, pode ser a selecionada — tem estado bem-comportada nas últimas semanas, ao redor de 1,5%/1,6% a.a. Agora, não se preocupe: até amanhã virá alguma explicação — sempre tem.

Esse movimento modificou um pouco minhas expectativas, que começaram a se materializar na última semana. Veja o gráfico a seguir.




O que acabou ocorrendo foi um “encurtamento” desse ciclo de alta. Não vou tentar explicar o que ocorreu, pois para quem não segue a teoria de Elliot Wave certamente não entenderia os detalhes — para quem segue, compare os dois gráficos acima e note que a onda III em amarelo deve ter terminado no final de abril, quando antes, eu esperava uma sequência maior dessa onda.

A correção em andamento deveria terminar ao redor de 4.080. Em seguida, um novo movimento de alta levaria o SP500 ao patamar de 4.350/4.380 - níveis ainda tentativos.

Quero observar que essa deve ser a última alta antes que ocorra uma correção maior. Se hoje a queda de mais de 1% não foi agradável, a que deve vir mais adiante, será menos agradável ainda. Mas vamos nos concentrar no curto prazo por enquanto.

O SP500 fechou a 4.164, com queda de 0,67%; o USDBRL a R$ 5,4330, com queda de 0,15%; o EURUSD a 1,2017, com queda de 0,38%; e o ouro a U$ 1.778, com queda de 0,75%.

Fique ligado!

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