Mounjaro na economia #S&P 500

 

A história recente da economia argentina parece um espelho imperfeito da luta contra a obesidade. Nos últimos anos, medicamentos como o Ozempic ganharam fama mundial por ajudarem no controle do peso, até que o Mounjaro surgiu como a nova promessa milagrosa. Mas, como aprendi ao longo da vida, milagres não existem. Pessoalmente, cheguei a perder 17 quilos em alguns anos — e não foi com comprimidos mágicos, mas com disciplina diária, mudando hábitos de alimentação e mantendo o exercício físico. Os primeiros dez quilos caíram relativamente rápido, mas os últimos custaram tempo, esforço e paciência. Essa experiência pessoal serve de metáfora para entender economias desarranjadas. No início, as medidas drásticas podem trazer resultados visíveis, mas a estabilização duradoura é lenta, quase sempre dolorosa. O Brasil passou por isso: foram anos até transformar uma inflação de três dígitos em índices civilizados. A Argentina, sob Javier Milei, vive exatamente esse dilema.

Milei assumiu a Casa Rosada em meio ao colapso deixado pelo kirchnerismo. Vendeu à população a ideia de um choque imediato, um remédio capaz de cortar o mal pela raiz — como se fosse possível aplicar um “Mounjaro econômico” e resolver em meses décadas de descalabro. O início foi, de fato, surpreendente: os ajustes fiscais impressionaram investidores, e o discurso radical contra o populismo parecia resgatar a credibilidade perdida. Mas, assim como no emagrecimento, o efeito rápido tem limite. Quando as dores da austeridade se espalharam pela sociedade, a paciência começou a se esgotar. A perda do governo nas eleições da província de Buenos Aires não foi apenas um tropeço eleitoral; foi um voto de desconfiança nas promessas de Milei. E como ocorre sempre em economias frágeis, a política contaminou os mercados: bolsa, juros e câmbio entraram em colapso.

Fonte: Bloomberg

A deterioração obrigou Milei a recorrer a Washington. O secretário do Tesouro dos EUA, Scott Bessent, prometeu “todas as opções de estabilização” — swap de moedas, compras de títulos e até apoio direto à liquidez argentina. Foi um gesto extraordinário, lembrando os resgates das décadas de 1980 e 1990, mas desta vez carregado de simbolismo político. Para a Casa Branca, Milei é mais que um presidente latino: é aliado ideológico de Donald Trump. Essa proximidade abriu espaço para um apoio quase incondicional, embora analistas tenham visto o gesto como um “resgate incomum” e até arriscado. No curto prazo, funcionou: acalmou os investidores e evitou uma espiral descontrolada.

Fonte: Bloomberg

A metáfora do Mounjaro volta a ser útil. Quem aposta apenas na pílula milagrosa ignora que o verdadeiro desafio está nos hábitos. Milei parece obcecado com a taxa de câmbio, como se estabilizar o peso fosse suficiente para transformar a economia. No entanto, o problema estrutural está na política. Sem maioria no Congresso e cercado por governadores hostis, o presidente acreditou que poderia governar sozinho, contando apenas com a legitimidade do voto e sua retórica agressiva. Erro fatal. Quando a dor da população apertou, faltou-lhe a rede de apoio necessária para sustentar reformas impopulares. Foi nesse contexto que a observação de Robin Brooks, economista do Brookings, ganhou força no X. Ele lembrou que, mesmo com rumores de intervenção americana trazendo algum alívio, nada muda a realidade de fundo: o peso argentino está substancialmente sobrevalorizado e só um câmbio realmente flutuante poderia corrigir esse desajuste. Intervenções, disse ele, não resolvem o problema — apenas adiam o inevitável.

Os mercados reagiram como sempre reagem em países com histórico de calotes e improvisos: multiplicaram o risco em poucas horas. O paralelo médico é evidente: insistir em dietas radicais ou pílulas mágicas sem nunca aprender a mudar o estilo de vida. O corpo até responde no curto prazo, mas volta a acumular gordura quando o esforço é abandonado. A Argentina, da mesma forma, até consegue alívio momentâneo com socorros externos, mas reincide na doença porque não rompe o ciclo político que a adoece. Daqui até as eleições de outubro, Milei terá pouco tempo para convencer a sociedade de que o caminho doloroso ainda é o único possível. Sua popularidade em queda é reflexo de uma economia que não dá trégua. Os Estados Unidos podem oferecer um analgésico, mas não curam a doença crônica da política argentina. A pergunta que fica é se os argentinos terão disciplina para continuar o tratamento, sabendo que os resultados demoram anos. Ou se, cansados da austeridade, preferirão voltar ao populismo, equivalente às dietas da moda: prometem prazer imediato, mas cobram caro no longo prazo.

Fonte: Bloomberg

Como escrevo no Mosca, aprendi na própria pele que perder peso exige consistência e vigilância diária. Os primeiros quilos são os mais fáceis; manter o corpo saudável ao longo dos anos é o verdadeiro desafio. Com economias não é diferente: exige disciplina política, reformas sustentadas e paciência social. A Argentina vive um momento decisivo. Se abandonar o tratamento, voltará ao ciclo de inflação, crises cambiais e promessas populistas. Se perseverar, talvez consiga, pela primeira vez em muito tempo, romper a lógica da recaída. A lição é simples e dura: não existe “Mounjaro” para a economia.

Análise Técnica

Análise Técnica No post “em busca do clone” fiz os seguintes comentários sobre o S&P 500: “o S&P 500 deve retomar a trajetória de alta e superar o nível de 6.480 com convicção. Acompanhemos os próximos dias com atenção; o objetivo projetado está destacado no retângulo entre 6.990 (+8,5%) e 7.130 (+10,5%), representando um potencial de valorização significativo. Por ora, mantemos o curso estratégico, equilibrando otimismo com vigilância” 


Como havia comentado acima, a bolsa continuou subindo atingindo recordes diários – minhas férias custaram caro! Hahaha. O Objetivo passa a ser 7.146 / 7.197 e vou procurar entrar numa correção quando houver, fiquem atentos ao Mosca.


O S&P 500 fechou a 6.656, com queda de 0,55%; o USDBRL a R$ 5,2791, com queda de 1,06%; o EURUSD a € 1,1817, com alta de 0,12%; e o ouro a U$ 3.764, com alta de 0,47%.

Fique ligado!

Comentários

  1. O verão 2026 do Argentino no Brasil vai ser garantido pelo Trump.

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  2. Boa tarde, você consegue dar uma palinha do que a reforme tributaria pode impactar nos lucros da empresas? pois o imposto ira variar muito para algumas empresas, a minha por exemplo a alíquota ira subir bastante, pois sairemos do lucro presumido para o real...

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