Mercados X FED
Como eu sempre tive um viés "jurista", depois de alguns dias de negociação, resolvi calcular quais eram os juros implícitos naquele contrato. Confesso que levei um susto, 80% no período de 60 dias, ou seja, um taxa anual de "apenas" 3.300% a.a.! Vale lembrar que os juros, naquela época de plano cruzado, eram de 18% a.a. Fui a meu colega que cuidava de bolsa e perguntei como poderíamos ganhar dinheiro com essa diferença. Naquela época o índice era composto de 80 ações e montar uma carteira com todas elas era trabalhoso, adotamos o famoso critério ABC, 11 ações representavam 70% do Ibovespa.
Assim, nosso operador do mercado a vista comprava uma carteira de ações proporcionais a seu peso no Ibovespa, enquanto o operador da BMF vendia os contratos financeiros, de tal forma que, no vencimento os financeiros deveriam ter um valor semelhante.
Foi uma época divertida, e porque não rentável, a cada vez que nosso operador entrava na roda do índice, os outros operadores cochichavam " ih, lá vem o pessoal da Planibanc vender mais!", caía 5% só pela nossa presença. O mais interessante é que a maioria do mercado não tinha a menor ideia do porque estávamos vendendo, achavam que nossa expectativa era de queda da bolsa, e não era, pois no mercado a vista éramos grandes compradores.
Sabem quem estava na outra ponta? Nagi Nahas! Essa história não terminou bem para ele, pois pouco a pouco outras instituições foram percebendo e replicando esse conceito. Passados 60 dias, essa arbitragem passou para algo em torno de 5% no mesmo período, mesmo assim continuamos, mas mais cautelosamente, aumentando o número de ações. Como dizia um colega: "essa operação era um massacre"!
Para terminar o assunto, no início dos anos 90, fui fazer uma visita a alguns Bancos em Nova York, e uma delas ao Morgan Stanley, que era conhecido como o especialista na arbitragem de índices de bolsa. Ao chegar lá, uma mesa com dezenas de operadores faziam só isso. Eu perguntei, qual a taxa de juros implícita no índice para montar uma carteira? Respondeu seco : "8,5% a.a". Engoli seco, pois os juros do FED funds era 8% a.a. (que saudades! Hahahah ...). O índice SP500 chama-se desta forma porque é composto por 500 ações. Perguntei, quantas ações vocês compram para fazer essa arbitragem? Resposta; "500!". Fui embora, e fiquei convencido que, o final da moleza no Brasil estava próximo, bastava os gringos aterrizarem por aqui, o que acabou acontecendo.
Essa introdução de hoje é para mostrar uma diferença que vem ocorrendo no mercado de juros nos USA. Depois da última reunião do FED, seus membros resolveram diminuir um pouco sua expectativa sobre o que esperam da evolução dos juros, mas pouco. Os mercados se movimentaram por conta disso, ocasionando uma queda do dólar.
Mas o mercado espera algo bem diferente, veja a seguir.
Para 2015 parece existir uma concordância entre ambos, o FED vai começar a subir os juros. Porém nos anos seguintes é que aparece a grande distorção, pois enquanto a autoridade monetária espera uma normalização dos juros, o mercado aposta que os mesmos subirão a passos de tartaruga.
Uma pesquisa feita pelo Twitter com 135 pessoas do mercado financeiro, perguntando qual será a taxa de juros daqui há três anos, obteve como resultado médio 1,75% a.a.
A diferença é expressiva em 1,5%, pois para 2017 o FED espera 3,25%. Pela leitura desses dados pode-se imaginar dois cenários, primeiro que o mercado aposta numa recuperação pequena da economia americana, e que daqui a três anos não estará normalizada; ou que a inflação estará ao redor de 0%.
É importante também ressaltar que os economistas dos Bancos, em sua maioria, tem a visão do FED. Ou seja, esperam que a recuperação seja boa, e que a inflação, dentro em breve, estará nos objetivos do FED.
Em quem você aposta? Tem uma diferença muito sútil entre esses dois grupos, o mercado "põe na reta", se estiver errado perde dinheiro, enquanto o outro grupo se errar, pede um I´m sorry, e refaz suas previsões com o seguinte comentário: "Afinal aconteceu ... %&(()*¨¨R%¨&*()_++" ....
Vocês não acham que o pessoal da agência Standard & Poors me ligou na sexta-feira, dando um inside information, que não iriam rebaixar a nota do Brasil, não é? No post déjà-vu, eu fiz os seguintes comentários sobre o real: ...Por enquanto não dá para ter alguma confiança que o nível de R$ 3,30 pode ser considerado um topo... Como o mercado está extremamente posicionado em dólares, reversões tendem a acontecer de forma violenta ... caso o dólar recue abaixo de R$ 3,22. Mas o mais importante é a região dentro do retângulo em verde, que corresponde à R$ 3,18 - R$ 3,05, abaixo disso, serão grandes as chances de uma correção mais profunda...Veja a seguir a evolução das cotações.
Por enquanto eu não me atrevo a nenhuma previsão mais assertiva, pode ser que seja somente uma correção para voltar a subir em seguida, ou como eu havia comentado, algo mais profundo, que levaria o dólar para R$ 2,90 - R$ 2,75. Para que este último cenário tenha mais chance, é necessário o rompimento dos R$ 3,07 apontados acima. Por enquanto, vamos observar o movimento do real e o "dólar - dólar", sem posição.
O SP500 fechou a 2.091, com queda de 0,61%; o USDBRL a R$ 3,1394, com queda de 0,20% o EURUSD a 1,0924, com queda de 0,24%; e o ouro a US$ 1.192, com alta de 0,16%.
Fique ligado!
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