Voo de galinha #Ibovespa

 

Quem acompanha a evolução de ações nos mercados internacionais — e se você não acompanha, deveria — observou como a pandemia criou uma demanda instantânea por diversos serviços e produtos acelerando de forma exponencial. Posso citar alguns que se tornaram coqueluche, como a Zoom, a Netflix, Ifood, Peloton e diversos outros. As ações dessas empresas subiram de forma astronômica, em detrimento de outras, cuja demanda foi quase a zero, como as empresas áreas, de turismo, restaurantes etc.

Naquele momento, imaginou-se que a Covid transformaria de forma definitiva a vida das pessoas. Com o passar do tempo, a vida retornou à normalidade, porém, a demanda se equilibrou num outro patamar, dependendo do segmento observado.

Em março de 2020, no auge da pandemia, quando não se podia sair na rua, eu e minha esposa — adeptos do spinning — decidimos comprar uma bike dessa categoria e, através de aulas pela internet, mantivemos nossos exercícios. Foi nesse momento que tive contato com a Peloton, empresa americana que já vinha se dedicando a esse segmento, e é sobre suas ações que irei comentar.

Bem Carlson, em seu blog A Wealth of Common Sense, comenta sobre as empresas que tiveram uma ascensão enorme durante a pandemia para depois de algum tempo apresentar quedas significativas em suas ações.

Em dezembro de 2019, a Peloton era uma empresa de capitalização de mercado de US$ 8 bilhões com vendas de US$ 1,2 bilhão e 2 milhões de usuários.‎

‎Para uma empresa de exercícios fundada em 2012, chegar a esse tamanho em tão pouco tempo era um feito e tanto. Em seguida, a pandemia bateu, academias foram fechadas e milhões de trabalhadores foram ajeitados ao trabalho remoto. O crescimento da empresa foi turbinado.‎

‎Em janeiro de 2021, os assinantes do Peloton saltaram para 4,4 milhões, as vendas cresceram para US $ 3 bilhões e as ações estavam sendo negociadas a uma avaliação de quase US $ 50 bilhões.‎

‎Eles passaram de uma iniciante bagunçada para uma das marcas de exercícios mais conhecidas no país. Agora, a empresa tem mais de US$ 4 bilhões em vendas e 5,9 milhões de usuários. Então as ações deveriam estar indo bem, certo? Nem tanto. Caiu mais de 80% no último ano:‎

Assim, embora a Peloton tenha mais de quatro vezes as vendas e três vezes o número de usuários, a capitalização de mercado está de volta ao que era no final de 2019, cerca de US $ 8 bilhões. O preço das ações está na verdade mais baixo agora do que em dezembro de 2019, antes de qualquer crescimento relacionado à pandemia.

‎Como isso é possível?‎

‎Você poderia argumentar que a pandemia foi realmente a pior coisa que poderia ter acontecido a esta empresa. Embora a Peloton teve um crescimento maciço em um curto período de tempo, as expectativas e o preço das ações subiram em um ritmo ainda mais rápido. A empresa não tinha como corresponder ao crescimento monstruoso do preço das ações. O CEO da Peloton afirmou recentemente que a empresa teria que reduzir a produção de suas bicicletas de exercício e provavelmente demitir seus funcionários.‎

‎A Peloton não está sozinha nessa experiência de um movimento contraintuitivo no preço das ações durante este estranho ambiente econômico.‎

‎A Netflix tinha 130 milhões de assinantes globais até o verão de 2018. O preço da ação estava em torno de US $ 420 em julho daquele ano. A empresa estava lucrando anualmente cerca de US$ 900 milhões na época. Com pouco a fazer no início da pandemia a não ser assistir TV, o número de assinantes da Netflix explodiu mais ainda, atingindo mais de 222 milhões de domicílios em 2022. O lucro líquido da empresa agora é de US$ 5 bilhões. No entanto, o preço das ações está em torno de US $ 440 que não é muito mais alto do que era em 2018. Caiu mais de 30% em relação aos recordes alcançados no ano passado.‎

‎Assim como a Peloton, os números de crescimento para a Netflix eram simplesmente bons demais durante a pandemia. Isso gerou expectativas muito altas para o crescimento futuro. Na verdade, a empresa admitiu isso mesmo em sua recente apresentação de resultados. Eis o que o CFO Spencer Neumann declarou em um call com analistas:‎

Então, no geral, o negócio era saudável. A retenção foi forte. As perdas de clientes estavam baixas. A audiência cresceu. Mas na margem, nós simplesmente — nós não aumentamos a aquisição tão rápido quanto queríamos, e em nossa grande base de assinantes, uma pequena mudança na aquisição pode ter um fluxo muito grande em acréscimos líquidos nos pagamentos E novamente, nossa aquisição estava crescendo, mas não crescendo tão rápido quanto talvez esperássemos ou prevíamos.

‎Os fundamentos da empresa melhoraram nos últimos quatro anos, mas as expectativas dos investidores eram ainda maiores do que o preço das ações. Assim, as ações da empresa tiveram desempenho abaixo do esperado.‎

‎Existem outras empresas, que foram beneficiárias precoces da pandemia, que agora estão experimentando dores de crescimento semelhantes. A Zoom (-73%), a Teladoc (-73%) e a Robinhood (-79%) tiveram forte crescimento devido à forma como nossas vidas foram impactadas pela pandemia. No entanto, os preços de suas ações foram todos derrubados, mesmo com seus fundamentos melhorando.‎

‎Uma das partes mais difíceis de investir em ações vem do fato de que as expectativas impulsionam quase tudo no curto prazo. O lendário investidor Howard Marks explica assim:‎

O pensamento de primeiro nível diz: "É uma boa empresa; vamos comprar suas ações. O pensamento de segundo nível diz: "É uma boa empresa, mas todos pensam que é uma grande empresa, e não é. Assim, as ações estão superestimadas e seus preços exagerados; vamos vender.

‎Claro, a Peloton, a Netlfix, a Zoom, a Teladoc, a Robinhood ou qualquer outra ação de crescimento que está sendo abatida agora pode recuperar sua força. O pêndulo sempre oscila entre o otimismo e o pessimismo, a excitação e o desespero.‎

‎No curto prazo, cada ação é uma combinação de fundamentos, tendências, percepções e histórias contadas pelos investidores. Em vários aspectos, as avaliações são só isso — histórias. Histórias sobre o crescimento, o potencial e como seria o futuro da empresa.‎

‎Infelizmente, as histórias que os investidores estavam contando para si mesmos sobre algumas das ações mais atraentes da pandemia foram um pouco longe demais quando a realidade não correspondeu às expectativas.

- David, enquanto seu esporte é spinning, o meu é ganhar dinheiro, o que eu tenho a ver com a Peloton?

Eu usei a Peloton como exemplo de como a percepção pode mudar quando uma empresa, ou setor, passa a ser a coqueluche do momento. Embora não acompanhe de perto, aqui mesmo no Brasil observamos altas e quedas em empresas como a Magalu pelos mesmos motivos, e num curto espaço de tempo.

Você, como investidor, pode ter a seguinte postura: ficar fora quando não entende os motivos que fazem uma ação subir de preço, ou comprar porque acredita na ideia mesmo que o preço fuja qualquer parâmetro. No primeiro grupo, vai evitar perdas, mas por outro lado perder oportunidades de grandes ganhos, e pior, dentro da Revolução Digital em que nos encontramos, poderá ter uma carteira obsoleta de ações. No segundo caso, está sujeito a situações como a da Peloton. O que fazer?

Eu já estive dentro do primeiro grupo e me recusava a ouvir qualquer história sobre empresas pioneiras; deixei de perder dinheiro, mas também deixei de ganhar. Hoje em dia estou aberto a essas mudanças e não tenho problema de comprar ações com P/L elevado ou até sem “L”. O que me dá uma certa confiança é o uso da análise técnica, que se presta bem nesse caso, pois o movimento que se observa está mais relacionado ao comportamento do que aos fundamentos de empresas embrionárias.

O que deve ser medido, sim, é o tamanho em que você quer estar exposto — e você deve admitir que poderá ter prejuízos mesmo com uso dessa técnica. Eu participei desse movimento através de ações e opções e acabei tendo um resultado positivo no todo, mas sem dúvida a análise técnica me forneceu subsídios quando notei que algo de diferente começou a acontecer.

Ações de alto crescimento pode ser como um voo de galinha, que sobe e depois despenca — você deve sair quando a queda da galinha começa a ocorrer. Notem que dificilmente elas desmoronam do dia para a noite, e mesmo que isso aconteça, você pode esperar um momento de recuperação para sair e não ficar torcendo que irá retornar aos níveis anteriores.

No post remédio-contra-depressão, fiz os seguintes comentários sobre o Ibovespa: ...” Se minha visão estiver correta, devemos adentrar um período de correção que pode perdurar por algumas semanas, após as quais eu esperaria uma alta que deveria se enquadrar dentro do retângulo destacado: 114.500 119.600. Esta região é bem abrangente e deverá ser mais afinada conforme a bolsa evolua nesse cenário” ...

A bolsa brasileira continua performando conforme minha expectativa, e antevejo um objetivo de curto prazo compreendendo entre 116.600/117.700, conforme destacado a seguir no retângulo. Embora tenha comentado que iria aguardar completar 5 ondas, pode ser que me envolva quando da complementação da onda IV em amarelo, pois visiono uma situação com bom risco x retorno.

- David, você não fez um longo discurso defendendo esperar a formação de 5 ondas e em pouco tempo não segue seus próprios princípios?

Estou vendo que está apreendendo análise técnica, o que me deixa mais tranquilo. Você está totalmente correto. Em teoria, para ter uma certeza maior, eu deveria esperar a formação das 5 ondas. Acontece que, se o Ibovespa retroceder até o nível de 114.000/111.000, o nível de stop loss a ser assumido seria o dos 109.493 pontos comentado anteriormente.

Veja que disse “pode ser”, e por que isso? O motivo é que tudo vai depender de que forma vai se materializar essa correção: shape, nível atingido, formação. Se não estiver de acordo, não vou propor. Por último, admito que será eventualmente uma operação mais especulativa, e somente terei mais segurança depois das 5 ondas formadas.

Hoje finalmente decidi arriscar uma compra no SP500, ainda tem um caráter mais especulativo em função da estrutura de ondas formadas. A entrada foi na abertura a 4.547 e vou alocar um stoploss a 4.450. Poderia também ter entrado na nasdaq100, mas preferi aguardar mais um pouco. Vamos que vamos!

O SP500 fechou a 4.587, com alta de 1,45%; o USDBRL a R$ 5,2337 com queda de 0,49%; o EURUSD a 1,1424, sem variação; e o ouro a US$ 1.832, com alta de 0,39%.

Fique ligado!

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