Eu sou da "Defesa" #SP500

 

Tenho sérias dúvidas se o Presidente Putin tem ideia de como funcionam os mercados internacionais, muito menos de como são liquidadas as operações. Essa ideia me lembra um momento que vivi quando era o tesoureiro do BFB na década de 80. Naquele momento, a bonança das corretoras cariocas, em virtude de uma política monetária do BCB que resultava um retorno praticamente garantido para quem financiasse os papeis do governo. Como dizia um colega do banco, “era um Panamá” – o porquê dessa expressão não descobri até hoje.

Os almoços do pessoal do “merrrcado” – carregados com o sotaque carioca — eram rotineiros, e numa determinada ocasião o dono de uma corretora passou antes em meu escritório para mostrar seus números, mas principalmente para estreitar a relação. Meu chefe naquele momento, Sr. Savina, um francês fora de série e esperto, iria comigo ao evento. Desceu a minha sala para irmos juntos. Aproveitei para apresentá-lo ao corretor. Ao ver o balanço aberto em minha mesa, e profundo conhecedor dos números, o francês se fixou num item aleatório é perguntou:

- O que tem dentro dessa rubrica?

O corretor, que no máximo assinava o balanço, respondeu:

- Sr. Savina, eu sou de marrrrketing, os números são com meu contador.

Imediatamente meu chefe disse:

- David, vamos embora e pode cortar o crédito dessa corretora.

Fiquei numa tremenda saia justa!

Nesse final de semana, houve várias medidas dos países Ocidentais contra a Rússia, em sua grande maioria financeiras.

Para quem não conhece o sistema SWIFT, talvez não fique claro o que os países ocidentais fizeram ao banir os bancos russos desse sistema. De maneira muito simplificada, esse sistema permite a transferência de fundos entre bancos de forma segura. Existe a possibilidade de uso do mercado denominado de off shore, onde é possível a transferência entre entidades, mas de forma muito complicada e sem segurança. Além disso, e principalmente, congelaram as transferências do banco central russo, amarrando suas mãos.

Um artigo de Ruth Carson e outro na Bloomberg dá conta do desaparecimento da liquidez em todos os ativos russos.

Os spreads no rublo aumentaram oito vezes, segundo operadores que citam a retirada dos formadores de mercado desde Sydney até Hong Kong. A área de títulos domésticos da Nomura Holdings ‎disse que vai suspender a tomada de ordens de compra ou venda por enquanto em quatro fundos de investimento que contêm ‎ativos relacionados‎ à Rússia‎‎-. Cingapura disse que iria ‎‎bloquear‎‎ certos bancos russos e transações financeiras ligadas à Rússia. ‎

‎A evaporação da liquidez, devido às fortes sanções impostas no fim de semana, está estimulando as autoridades a agir, com o banco central da Rússia anunciando que proibiria temporariamente a venda de títulos por ‎‎estrangeiros‎‎.

‎"A Rússia é simplesmente imbancável nesta fase e qualquer pessoa com ativos russos terá seu valor contábil marcado em zero até encontrarmos uma saída para isso", disse Saed Abukarsh, gerente-chefe de portfólio da Ark Capital Management Dubai Ltd. "O mercado global não está preparado para a velocidade dos eventos desde o início da guerra."‎


 
Os ativos russos despencaram após a invasão do país à Ucrânia, com a queda do rublo tornando-a a moeda de mercado emergente de pior desempenho em fevereiro. Os participantes do mercado de câmbio de Sydney a Hong Kong está congelando o comércio de rublos enquanto avaliam os efeitos das mais duras sanções em uma geração impostas a uma grande economia.‎

As reservas russas estão espalhadas ao redor de vários bancos centrais, como mostra a ilustração a seguir. Como podem notar, a maior parcela se encontra em ouro, uma proporção muito fora de qualquer propósito; eu não entendia bem os motivos de tal posição nos últimos anos, que agora tem sua razão esclarecida. Em seguida vem o banco central chines, o conjunto detém aproximadamente 36%, equivalente a U$ 240 bilhões de dólares.


Um outro artigo na Bloomberg, por Andy Mukherjee, cita uma possibilidade aberta por um by pass através da China.

Cortar alguns bancos russos do ‎ ‎acesso ao SWIFT‎‎ — a rede de mensagens no coração do movimento global de dinheiro — pode ser uma punição altamente eficaz para a invasão da Ucrânia pelo presidente Vladimir Putin. Mas dará a outros rivais geopolíticos, especialmente a China, a desculpa para promover versões digitais do dinheiro de seus próprios bancos centrais no comércio e finanças globais. Isso poderia enfraquecer a influência internacional do dólar.‎

O Sistema de Pagamentos Interbancários da Clearing House, ou CHIPS, é um clube privado de instituições financeiras. Seus 43 membros liquidam ‎‎us$ 1,8 trilhão‎‎ em operações todos os dias usando uma conta pré-financiada no Federal Reserve. Todos eles mantêm escritórios nos EUA, e estão sujeitos à lei dos EUA, o que torna mais fácil para as autoridades pegar e punir.

‎Como instrumento de poder americano, o CHIPS não passou despercebido em Pequim. Para escapar do jugo das CHIPS, a China preparou seu próprio sistema de pagamento interbancário internacional. O CIPS liquida operações internacionais em yuan e pode potencialmente administrar sua própria rede de mensagens. (Desde 2016, tem usado o SWIFT como seu canal de comunicação.) O CIPS ‎ ‎ cresceu rapidamente‎‎. Mas enquanto 40% dos pagamentos internacionais do mundo forem em dólares, um sistema de compensação para yuan - cuja participação é de 3% - não pode ser um substituto para o CHIPS. Que é onde entra em cena o e-CNY, o yuan digital que está atualmente em extensas rodadas de teste.

‎O token está "tecnicamente pronto" para uso internacional, de acordo com um ‎artigo publicado no ano passado pelo Banco Central, embora seja "projetado principalmente para pagamentos no varejo doméstico no momento". Isso pode mudar. Se uma empresa chinesa ou indivíduo enfrentasse a ameaça de não poder enviar dinheiro para o exterior porque o CHIPS não compensará o pagamento ou o SWIFT não levará as instruções, um intermediário em um país amigável pode sempre ser persuadido a aceitar o e-CNY, e encaminhar um pagamento de stablecoin em dólar para a contraparte do comprador chinês no exterior.‎

‎O intermediário não enfrenta nenhum risco de crédito porque está negociando em dinheiro soberano, apoiado pelos contribuintes da segunda maior economia do mundo. Nem haverá um ‎ ‎risco de liquidação‎‎. O blockchain tornará todas as transações "atômicas", o que significa que o dinheiro mudará de mãos — em formas tokenizadas — sem expor nenhuma das contrapartes a um limbo onde haviam dado algo de valor sem receber a contrapartida acordada. Se o comprador chinês não tiver yuan válido para gastar, o vendedor não receberá o pagamento; o intermediário não vai perder nada. E para converter seu yuan digital de volta em dólares — ou uma stablecoin como Tether ou USD Coin que imita o dólar americano — o intermediário só precisa que as pessoas no resto do mundo queiram comprar bens e ativos chineses, para os quais eles serão obrigados a enviar e-CNY. ‎

‎O SWIFT nunca verá a transação, o CHIPS não terá que compensá-la. De fato, nenhum banco ocidental será necessário para mover fundos através das fronteiras. Mesmo que os EUA barrem empresas de stablecoin de fazer negócios com residentes chineses, não será capaz de impedir que entidades de um país terceiro comprem tokens de dólar em uma bolsa de criptomoedas para pagar empresas regulamentadas pelos EUA. A esfera do domínio econômico americano poderia encolher - não em um ou dois anos, mas talvez em uma década ou mais.‎

Bem, qual a situação do banco central russo? Tem ouro disponível, que, suponho, a Rússia detém fisicamente e que podem ser transformados em qualquer moeda; como não poderia receber em dólares pela restrição, volta ao escambo —troca de ouro por mercadorias — ou moedas friendly como o yuan; porém, como essa moeda não é conversível, o recebedor final dos dólares teria que fazer uma operação adicional com o banco central da China. Já os ativos que se encontram no banco central chines poderiam ser usados livremente, desde que esse servisse como “laranja”. Como podem notar, nada simples. Agora, para defender o rublo contra as outras moedas, e principalmente o dólar, é mais complicado, razão pela qual o banco central russo proibiu a negociação de ativos russos — o que colocaria as cotações do rublo em níveis impensáveis.

Uma outra consequência, talvez até mais complicada para o Putin, é o congelamento dos bens no exterior de sua oligarquia próxima. É muito provável que antes da invasão essas pessoas foram contatadas por Putin, e este deve ter dado algum tipo de garantia de que não sofreriam grandes prejuízos, ou seriam recompensados de outra forma. Mas imaginem essas pessoas hoje, ao fazer aquele conta de banheiro, dando-se conta que seu patrimônio caiu pela metade ou talvez bem mais.

Antes de fazer a invasão, tenho quase certeza de que o presidente do BC russo alertou Putin das eventuais consequências financeiras de uma invasão russa, ou talvez pior, ele omitiu essa informação por receio que vazasse. Depois de Putin tomar contato com os estragos iniciais de sua medida, chamou o responsável, que o deixou a par da situação.

Num momento de fúria deve ter dito: “Eu sou do Ministério Defesa”, você que se virem para estabilizar o rublo. Alguns de marketing outros do ministério da defesa! Hahaha ...

Sendo feriado no Brasil, vou inverter a análise técnica de hoje, relatando sobre o SP500. No post por-traz-das-evidencias, fiz os seguintes comentários sobre o SP500: ... “ A situação do SP500 ainda é delicada e a retração esperada para que haja uma reversão se encontra nos limites como aponta o nível expresso em amarelo 4.298. Poderia recuar mais? Sim, mas caso ocorra vou ficando mais desconfiado que minha premissa terá que mudar. Porém, é importante destacar que somente o rompimento abaixo de 4.222 irá forçar um outro cenário” ...



Na semana passada a volatilidade foi incrível, principalmente se levar em conta os mercados futuros que funcionam 24 horas durante a semana. Com a invasão da Ucrânia a bolsa americana ultrapassou o limite estabelecido acima, o que fez com que eu alterasse meus cenários. Observando de hoje eu identifico 2 hipóteses conforme anotadas no gráfico abaixo.


Opção 1: Nesse caso, a alta expressiva observada na última quinta-feira e sexta-feira, após atingir a mínima de 4.114, pode ser o início da alta que estamos tanto esperando. Para que essa opção se concretize é importante que a área entre 4.992/4.590 seja ultrapassada.

Opção 2: Caso a bolsa reverta o sentido observado nos últimos dois dias da semana passada e caia abaixo de 4.114, o novo nível de reversão calculado passa a ser de 4.019.

Quero enfatizar que em ambos os casos minha perspectiva ainda é de alta depois de terminada essa correção, somente quedas mais substantivas acrescidas de movimentos que indiquem dessa forma, eu teria que antecipar a queda esperada para o meio do ano. Acompanhem o Mosca posso sugerir um trade de compra breve.

O SP500 fechou a 4.373, com queda de 0,24%; o EURUSD a 1,1213, com queda de 0,49%; e o ouro a U$ 1.908, com alta de 1,13%.

Fique ligado!

Comentários

  1. Sistema financeiro global passando por muitas mudanças, difícil saber onde vai parar. É tanto token e moeda sendo criada que pra mim parece um caos. Fico só observando. Abs

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    1. Mudanças impensáveis alguns dias atrás. No post publicado hoje http://acertarnamosca.blogspot.com/2022/03/game-over-eurusd.html cometo outras repercussões bem como um sub produto para os EUA e Europa.

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