Macro choque de oferta #SP500

 

Uma guerra normalmente ocasiona choque de oferta para os bens e serviços que os países em luta fabricam, mas em sua essência o que mais causa disfunção nos mercados são as comodities. No caso atual, uma nova fonte de escassez foi criada por conta das sanções financeiras adotadas pelos países ocidentais. Esse passo, está criando um choque mais ampliado colocando pressão em inúmeras empresas.

No post de hoje vou citar um dos mercados que apresentam um nível de stress nunca antes visto. Fora o petróleo que todos acompanhamos sua escalada de preços, vejam o que ocorreu com o níquel conforme relatado em artigo da Bloomberg.

O níquel, usado em aço inoxidável e baterias de veículos elétricos, subiu até 250% em dois dias negociando brevemente acima de US $ 100.000 por tonelada no início da terça-feira. O movimento frenético - o maior de todos os tempos no LME - veio quando investidores e usuários industriais que tinham vendido o metal estão tendo dificuldade para comprar os contratos de volta depois que os preços inicialmente subiram por conta das preocupações sobre suprimentos da Rússia.‎

‎Um magnata chinês que construiu uma maciça posição vendida no mercado de níquel está enfrentando bilhões de dólares em ‎‎marcação a mercado ‎como resultado do aumento dos preços, de acordo com pessoas familiarizadas com o assunto. ‎

Traders, mineradores e processadores geralmente tomam posições vendidas na bolsa como um hedge para suas ações físicas de metal. Em teoria, qualquer movimento de preço nas ações físicas e na posição de troca deve cancelar uns aos outros. Mas quando os preços sobem bruscamente, qualquer um que tenha uma posição vendida na bolsa precisa encontrar somas cada vez maiores de garantia para pagar chamadas de margem.‎

‎Traders e corretores devem depositar dinheiro e títulos, conhecidos como margem, regularmente para cobrir potenciais perdas em suas posições. Se o mercado se mover contra essas posições, eles recebem uma "chamada de margem" solicitando mais fundos - e se eles não pagarem podem ser forçados a fechar sua posição.‎


O LME disse que estava considerando "um possível fechamento de vários dias, dada a situação geopolítica que está por trás dos recentes movimentos de preços".‎

Essas empresas que estão tendo chamadas de margem não estavam especulando que o níquel iria cair, apenas faziam um hedge de sua produção para garantir o preço e numa flutuação razoável detinham liquidez para cobrir esses ajustes, agora jamais imaginariam uma alta dessa magnitude. Essa situação não é um cisne negro, como Nassim Taleb denomina em seus livros, é “tostado”!

Um outro exemplo teórico com impacto ainda mais grave é citado no relatório da Gavekal.

Se no ano passado o tesoureiro de uma companhia aérea europeia decidiu proteger o risco de preços mais altos de combustível de aviação, comprando uma opção de compra liquidada em dinheiro no petróleo Brent. Enquanto isso, o vendedor poderia ter sido uma empresa de seguro russa que procura limitar o risco potencial de queda de suas participações nas ações de empresas de energia russas.

Hoje, com o vencimento do contrato se aproximando, o vendedor russo não pode acessar os dólares americanos que é obrigado a entregar. Invoca força maior e pede default.

Se a transação original foi feita no balcão, o tesoureiro da companhia aérea de repente descobre que ele não está de fato coberto contra o atual aumento dos preços dos combustíveis. Ele corre para comprar combustível físico ou para colocar uma nova cobertura. De qualquer forma, o efeito é agravar o impulso ascendente nos preços da energia.

Se a transação original foi realizada em uma bolsa de derivativos, o tesoureiro da companhia aérea ainda estará coberto, pois sua contraparte é a câmara de compensação, não a seguradora russa. Mas isso não significa que o risco do sistema, de uma reação em cadeia, é totalmente mitigado. Em primeira instância, será o corretor de compensação da seguradora que arca com as perdas da inadimplência. Se forem grandes, ou se uma série de clientes inadimplir, o corretor de compensação - muitas vezes a subsidiária de um grande banco – pode estar com problemas.

Essas inúmeras distorções que devem estar acontecendo por todos os lados cria um ambiente onde não se tem a menor ideia do que poderá ocorrer, onde janelas de risco serão abertas em locais que não se pensavam existir.

Por outro lado, a Rússia está na pior das condições como comentei no post ontem. Vejam o que o CEO da Shell anunciou sobre uma carga de óleo “Estamos cientes de que nossa decisão na semana passada de comprar uma carga de petróleo bruto russo estava errada”.

Um relatório elaborado pelo JPMorgan aponta para um dos principais motivos dessa escassez de petróleo, os gastos de capital das maiores empresas de energia do mundo caíram 75% em relação aos níveis de pico, enquanto a demanda global por petróleo, gás e carvão está igual ou acima dos níveis pré-COVID.

Se a guerra demorar muito os russos serão estrangulados por toda parte. Eles por sua vez, na guerra fora do campo de batalha ameaçam cortar o fornecimento de gás que é fundamental para a Europa. Nessa queda de braço parece que os russos estão mais vulneráveis, mas enquanto isso situações de descontrole serão observadas por todos os lados. Nunca o mundo passou por um choque de oferta dessa magnitude.

Há menos de 2 anos fomos assolados por uma pandemia que deixaram as pessoas desesperadas buscando proteção em suas casas até que as vacinas fossem disponibilizadas. O ano de 2020 viveu o maior choque de demanda nunca antes visto. Em abril daquele ano o preço do petróleo atingiu – U$ 40 na bolsa de futuros. Fiquei perplexo, como comentei no post extrapolação-temerosa. Passados 2 anos, esse mesmo petróleo atingiu a cotação de U$ 150, sendo que do ponto de vista técnico não parece ser a máxima. Tenho a impressão de que essa guerra não vai durar muito. O motivo é que quando uma situação é ruim para todo mundo não acontece, ou as pessoas envolvidas buscam terminar. O problema aqui é quem vai jogar a toalha primeiro.

No post eu-sou-da-defesa fiz os seguintes comentários sobre o SP500: ...

” Opção 1: Nesse caso, a alta expressiva observada na última quinta-feira e sexta-feira, após atingir a mínima de 4.114, pode ser o início da alta que estamos tanto esperando. Para que essa opção se concretize é importante que a área entre 4.992/4.590 seja ultrapassada.

Opção 2: Caso a bolsa reverta o sentido observado nos últimos dois dias da semana passada e caia abaixo de 4.114, o novo nível de reversão calculado passa a ser de 4.019” ...


O SP500 se encontra num nível muito importante para que haja uma definição, a opção 1 está em seu limite de retração aceitável para que haja a continuidade do movimento de alta. Essa definição poderá ocorrer em breve, e caso ocorra, o Mosca vai buscar alternativas de trade. Até o momento me sinto aliviado por não ter posições nos mercados, com a volatilidade nos níveis atuais, não é recomendado trades oportunísticos.


O SP500 fechou a 4.180, com queda de 0,40%; o USDBRL a R$ 5,0622, com queda de 0,95%; o EURUSD a € 1,0906, com alta de 0,49%; e o ouro a U$ 2.049, com alta de 2,60%.

Fique ligado!

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