Juros altos matam no tempo #IBOVESPA

 


Durante boa parte da minha carreira, costumo repetir: "pagar juros de 1.000% por um dia não tem problema, mas por um ano mata". Essa ideia, que inicialmente parece hiperbólica, carrega um aviso simples: à medida que o tempo passa, os juros cobrados se infiltram nas veias da economia, afetando silenciosamente seus alicerces. Foi assim no Brasil durante anos de taxa real estratosférica, e é exatamente esse o risco que ronda a economia norte-americana agora.

A taxa de juros básica dos EUA, embora não esteja em patamar historicamente extremo, permanece elevada para os padrões recentes. Pior: permanece elevada por tempo demais. E como sempre enfatizo aqui no Mosca, a economia segue aparentemente bem. Mas isso é exatamente o ponto: as consequências do juro alto são cumulativas, e não imediatas.

O mercado é reincidente em anunciar recessões precipitadamente. Em 2022, analistas estavam convencidos de que a inversão da curva de juros anunciava uma contração iminente. A bolsa caiu, os rendimentos se ajustaram, mas a recessão nunca veio. Agora, no entanto, o Deutsche Bank resgata esse mesmo sinal para lembrar que cortes de 200 pontos-base (como o que o mercado antecipa para os próximos dois anos) só aconteceram, com uma única exceção, em cenários de recessão comprovada.



A história mostra que, fora o caso específico do ciclo de Volcker nos anos 1980, reduções dessa magnitude só ocorrem quando a economia está em queda livre. É claro que existe uma nova dinâmica macro e novas variáveis globais, mas é imprudente ignorar esse padrão.

Enquanto isso, o presidente Trump aproveita para colocar lenha na fogueira: pressiona abertamente Powell para reduzir juros, insulta o presidente do Fed em público, e articula, por meio do seu Secretário do Tesouro Scott Bessent, um operador oportunista travestido de estadista, uma mudança radical na gestão da dívida americana. A proposta? Emitir dívida mais curta, apostando que os juros irão cair.

Essa disputa não se dá em vácuo. Uma nova dinâmica inflacionária vem sendo ativada – e não por pressões clássicas de demanda. As tarifas impostas (e ainda por anunciar) pela administração Trump têm um efeito direto sobre os preços e um indireto sobre as expectativas. Segundo o Goldman Sachs, só a nova rodada tarifária deve adicionar 1,7 ponto percentual à inflação acumulada até 2027.



Esses custos adicionais devem afetar sobretudo o consumo e o investimento, com queda acumulada estimada de 2% no PIB entre 2025 e 2027. A ironia é que essa política que deveria proteger o trabalhador americano pode estar minando sua capacidade de consumo com produtos mais caros e menos acessíveis.



O mercado de escritórios já sinaliza os efeitos deletérios dos juros elevados. Projetos imobiliários alavancados estão colapsando, com edifícios sendo vendidos por preços irrisórios, na tentativa dos bancos de recuperar parte do crédito. Se esse movimento se alastrar, teremos o elo perdido que conecta os juros altos de hoje à eventual recessão de amanhã.

Wall Street, como sempre, ainda resiste a ver o quadro completo. A S&P 500 está em máximas históricas, turbinada pelos ganhos concentrados em poucas gigantes da tecnologia. Analistas seguem revisando para baixo as projeções de lucro para a maioria das empresas – principalmente aquelas expostas à guerra comercial.


O investidor atento não deve ignorar os sinais. Estamos diante de uma combinação perigosa: juros elevados prolongados, dívida crescente, guerra tarifária em expansão, e manipulação política da autoridade monetária. Se essa equação resultar em uma contração forte da economia no primeiro semestre de 2026, não será surpresa para quem acompanha o Mosca.

Apenas mais uma confirmação de que, como sempre alerto, os juros altos matam no tempo.


Análise Técnica

No post *o-mercado-acredita-em-milagres*, escrevi: “Demarquei os pontos de observação: entre 137,1 mil até 138,6 mil pode ser o intervalo onde vai ocorrer a correção do cenário mais negativo, caso ultrapasse o nível superior podemos estar na opção mais benigna”.





A bolsa nem respirou, deixando o quadro mais delicado. Quando isso ocorre, volto-me ao gráfico semanal. A imagem mostra, de forma nua e crua, o que venho repetindo incansavelmente: o IBOVESPA é um gráfico sem ondas impulsivas. Mesmo para quem não domina a teoria de Elliott Wave, é evidente que desde 2022 os movimentos de alta ocorrem sempre em estruturas de três passos. Isso, do ponto de vista da análise técnica clássica, mesmo respeitando a reta de sustentação em preto, revela um padrão de força bastante frágil.




A dúvida agora é: será que a bolsa vai dar um belisco na reta, como destaquei acima? Esse ponto corresponderia a aproximadamente 125,5 mil pontos. Como os leitores já sabem, a ferramenta usada pelo Mosca para analisar a bolsa é limitada. Portanto, seguiremos observando janelas de menor prazo. Caso a bolsa caia até esse patamar — e, pior, rompa esse nível — o cenário se complica consideravelmente.

— Opa David, se bater 125,5 mil vamos às compras?

Não se anime. Mesmo que haja reversão nesse ponto, quero ver cinco ondas de alta depois disso. A tendência é que a correção em andamento avance mais alguns degraus.

O mercado ficou animado hoje, talvez projetando que os acordos referente as tarifas feitos com o Japão e a Europa poderão ser feitos com o Brasil. Será? A primeira contagem não pode ser totalmente eliminada, mas é preciso que a bolsa suba em 5 ondas.

Finalizando, não gosto deste ativo!

O S&P 500 fechou a 6.358, com alta de 0,78%; o USDBRL a R$ 5,5211, com queda de 0,81%; o EURUSD a € 1,1773, com alta de 0,15%; e o ouro a U$ 3.338, com queda de 1,22%.

Fique ligado!

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