O dólar vai virar pó? #EURUSD


O dólar atravessa um momento de estranha fragilidade. Mesmo diante de um ambiente que tradicionalmente fortaleceria a moeda americana — como tarifas protecionistas e diferencial de juros positivo — o comportamento recente do câmbio tem desconcertado analistas e alimentado apostas sobre um ponto de inflexão no papel do dólar no sistema financeiro global.

Desde abril, o índice do dólar caiu mais de 10%, o pior desempenho em um primeiro semestre em pelo menos 25 anos. A desvalorização ocorreu justamente após o pacote de tarifas apelidadas de “Liberation Day”, promovido pelo governo Trump. Economistas como Stephen Miran esperavam o oposto: com uma melhora do balanço comercial, a tendência natural seria de apreciação da moeda. Mas não foi o que vimos. E é exatamente essa anomalia que exige cautela por parte do Federal Reserve.

Mesmo com a escalada tarifária, a inflação ao consumidor se manteve relativamente contida — pelo menos por enquanto. Três hipóteses se apresentam: o repasse dos custos ainda não se materializou, os varejistas absorveram os aumentos comprimindo margens ou os pessimistas estavam errados desde o início. Seja qual for a explicação, o fato é que a política monetária, neste contexto, precisa ser guiada pelos dados e não por pressões políticas, como as que vêm do próprio Trump.

A atuação da moeda americana em 2025, marcada por enfraquecimento persistente e movimentos de capital voláteis, levanta dúvidas sobre o status de “privilégio exorbitante” que os EUA desfrutam desde Bretton Woods. Será que esse privilégio está se deteriorando? Em abril, o temor era que o desmonte da credibilidade institucional americana estivesse corroendo a confiança global no dólar e nos Treasuries. Mas esse diagnóstico talvez tenha sido apressado demais.

O fluxo de recursos estrangeiros para os EUA ainda permanece robusto. Em doze meses, o ingresso para ações somou US$ 1,2 trilhão, sem contar a continuidade nos aportes em renda fixa. O que parece ter mudado não é a direção do fluxo, mas sua composição. E aqui entram as ideas de Ed Yardeni.

Os dados de lucros futuros reforçam ainda mais essa confiança no mercado americano. Segundo Ed Yardeni, o lucro por ação projetado das empresas do S&P 500 segue em trajetória ascendente, ao contrário dos índices de empresas médias e pequenas, que se encontram estagnados desde 2022. Esse diferencial explica a forte preferência dos investidores por grandes companhias de tecnologia — as únicas com perspectivas robustas de crescimento em um ambiente global cada vez mais desafiador.

Na prática, estamos diante de um bull market estreito e altamente concentrado. Isso não diminui seu impacto, mas reforça a tese de que os investidores estão sendo seletivos. Estão aplicando recursos onde há clareza sobre inovação, lucros futuros e escalabilidade — ou seja, tecnologia de ponta. E aqui, os EUA ainda não têm concorrência à altura.

A lógica do carry trade, que normalmente sustentaria o dólar forte (compra-se a moeda com maior juro), também perdeu força. Com as dúvidas sobre a continuidade do atual regime do Fed após a saída de Powell, investidores se perguntam se o banco central cederá às pressões políticas por cortes de juros prematuros. Aí reside o alerta mais sério do artigo da Bloomberg: não há espaço para cortes enquanto não estiver claro que o repasse da desvalorização cambial para os preços está sob controle.

Como se não bastasse, o dólar parece ter retomado sua correlação histórica com os juros dos Treasuries. Isso significa que qualquer expectativa de corte de juros relevante pode empurrar o dólar ainda mais para baixo. Um ciclo vicioso de dólar fraco e inflação importada começa a se insinuar. O Fed sabe disso. Por isso, a decisão mais sensata para a reunião de julho é manter os juros. E para setembro, só uma desaceleração visível no mercado de trabalho ou sinais persistentes de inflação abaixo da meta justificariam um corte.

No que diz respeito ao Mosca, o mercado parece seguir uma recomendação antiga: peça sua Carteirinha_PJ antes de investir. Em tempos de incerteza, a assimetria de informação e concentração de lucros em poucos ativos exige profissionalismo e leitura cuidadosa de cenário.

Por fim, na seção de “Análise Técnica”, o foco será o euro. Se há algo que não convence como alternativa ao dólar, é a moeda europeia. Problemas fiscais crônicos em alguns países, entraves políticos estruturais e falta de coesão entre os membros da zona do euro tornam improvável qualquer ameaça séria à hegemonia do dólar vinda do Velho Continente. Quanto ao yuan, nem se fala: transparência e liberdade de movimento de capitais continuam distantes da realidade chinesa.

O dólar pode até perder brilho. Mas virar pó... é exagero. Ao menos por enquanto.


Análise Técnica

No post “cutucaram-o-leão” fiz os seguintes comentários sobre o euro: “não sou pago para ficar em dúvida decidi liquidar a posição pela manhã a € 1,1700. O motivo é que não gostei da sequência apresentada no gráfico de janela de 2 horas não mostrado aqui” ... “Se minha desconfiança for correta o euro deveria entrar numa onda C laranja que pode levar a níveis abaixo da paridade. Mas ainda é muito cedo”.


A moeda úncia ainda não deu indicação clara que a onda C laranja está em curso. Por outro lado, a recuperação destacada no retângulo, como destaquei, ainda tem cara de correção. Para que o euro continue subindo é necessário ultrapassar o nível de € 1,1835 e no caso inverso um rompimento do nível de € 1,1555 pode indicar que a onda C está em curso. Como sempre, Let The Market Speak!


O S&P 500 fechou a 6.363, sem alteração; o USDBRL a R$ 5,5194, sem alteração; o euro a € 1,1758, com queda de 0,12%. e o ouro US$ 3.370, com queda de 0,50%.

Fique ligado!

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