Só o começo

 

A cada dia que passa fico mais convencido que estamos ainda no início do processo que denominei de revolução digital. Ontem participei de uma conferência oferecida pelo JP Morgan com gestores de tecnologia. Além das perguntas tradicionais se o setor está caro — e é claro que está —, as respostas que tenho observado nesse sentido se baseiam na ideia de que os juros se encontram em níveis muito baixos. Nesse evento, Manish Goyal fez um paralelo com o P/L dos bonds usando os juros pagos sobre o principal. Como a taxa de 10 anos se encontra em 1%, esse cálculo de P/L chegaria a 100.

Não sei se compro muito essa ideia, pois como seria essa conta se o juro estivesse em 0,10%, comportaria um P/L de 1000? Com esse raciocínio ate as ações da Tesla estariam baratas! Mas não deixa de ser um fator a se considerar do ponto de vista relativo.

O que mais marcou nessa apresentação, embora seja até bastante intuitivo, é o que está ocorrendo hoje em dia, com o tratamento de bancos de dados e uso da inteligência artificial. Em outras palavras, o melhor processamento das informações permite oferecer produtos e serviços mais baratos. Nesse ponto é que o quase-monopólio de dados por parte das FAANGS tem um valor enorme, tanto para obtenção dessas informações como para a distribuição das startups que se aventuram a oferecer essas melhorias.

Um pouco mais de reflexão para identificar oportunidades me levou a concluir que seriam os mercados desorganizados. O que eu quero dizer com desorganizados? Seriam mercados onde falta padronização de distribuição e variedade de preços para o mesmo produto e serviço. Citaria como exemplo os mercados onde a Amazon mais avançou, inicialmente nos bens de consumo duráveis e pouco a pouco passando para outros segmentos.

Porém, acredito que o grande filão se encontra na área de serviços, onde estamos numa fase embrionária. Por exemplo, outro dia aqui em casa minha enteada pensou num aplicativo de aulas particulares, juntando professores e alunos. Sem dúvida é uma boa ideia. Assim como essa, devem existir milhares. A área de saúde é outro vasto campo.

Percebam que as FAANGS têm a faca e o queijo na mão. Imaginem que eles criassem um macro banco de dados com todas as informações a seu respeito. Quanto não vale essa informação para quem quer oferecer um produto ou serviço? O filme “Dilema nas Redes”, disponível na Netflix, desvenda o que está por trás dessas empresas.

Todos os dias aparecem novos negócios desafiando os antigos, como por exemplo o citado num artigo da Bloomberg por Nishant Kumar, sobre a terceirização dos gestores de um fundo hedge. Não é bem o que você pode estar pensando de algo já existente como um fundo de fundos. Na verdade, o gestor Will Potts vai buscar na rede ideias para executar no portfólio do fundo.

Enquanto gigantes do setor garimpam talentos para compor sua equipe de fundos hedge, uma startup liderada pelo ex-chefe da Ivaldi Capital Will Potts está recorrendo ao crowdsourcing (*) para ideias de investimento.

(*) Crowdsourcing é o processo de obtenção de serviços, ideias ou conteúdo necessários, solicitando contribuições de um grupo variado de pessoas e, especialmente, a partir de uma comunidade on-line, ao invés de usar fornecedores tradicionais como uma equipe de funcionários contratados.

Potts planeja abrir um fundo de hedge com mais de US$ 100 milhões em sua empresa sediada em Londres. Ao contrário de sua empresa anterior, onde ele dirigia uma equipe de gestores de recursos para investir até US $ 3,5 bilhões, ele está apostando em uma plataforma de tecnologia usando resmas de dados para identificar apostas vencedoras de traders experientes e iniciantes.

"Estamos tentando um pouco de Moneyball ", disse Potts, 43 anos, em uma entrevista, referindo-se ao uso de novos métodos estatísticos para dar a um time de beisebol condições de brigar pelo título, uma história capturada no livro de Michael Lewis e no filme "Moneyball". (**)

(**) No filme, o administrador do time utiliza bases de dados para otimizar seus escassos recursos na contratação de novos talentos.

A equipe de Potts desenvolveu a plataforma... Upside Technologies -- para obter, monitorar e refinar ideias de investimento de todos, incluindo estudantes universitários, pesquisadores de bancos como Goldman Sachs, gestores de portfólio e analistas. A Higher Park criará seu portfólio com base nos esforços de milhares de pessoas que avaliam dezenas de milhares de empresas.

A mudança mostra até onde as startups estão sendo forçadas a ir. Embora seja um desafio levantar dinheiro e gerenciar custos, novos fundos estão sob constante pressão para encontrar e reter funcionários em meio a uma batalha feroz por melhores talentos. Eles estão competindo com pessoas como Millennium Management e Citadel, gigantes da indústria que estão caçando talentos de concorrentes.

"É difícil dirigir um negócio multi-gestão concorrendo com alguns dos grandalhões que estão constantemente contratando exércitos de pessoas", disse Potts. "Não podíamos contratar 20 pessoas e demitir 15 se elas não dessem certo, isso simplesmente não fazia sentido do ponto de vista comercial ou cultural."

Potts está voltando com sua nova empresa após fechar a Ivaldi em 2018, depois que seu maior investidor se retirou por razões não relacionadas ao desempenho. A Ivaldi começou com o apoio de um fundo de pensão sueco não identificado e o Citigroup tinha uma participação minoritária na empresa. Seu fundo subiu 13% no ano anterior ao fechamento, superando rivais.

Algumas das firmas quant, como a Quantopian e a WorldQuant, apoiadas pelo bilionário Steven Cohen, que investe dinheiro pela Millennium, também usaram milhares de pessoas terceirizadas para criar algoritmos e trades pontuais. A Higher Park está tentando trazer essa abordagem para o investimento baseado em fundamentos.

Embora o modelo de negócio não proteja Potts da perda de seus gestores de carteira para rivais maiores, ele espera construir um grande pool de ideias e talentos para manter seu negócio funcionando. Alguns receberão um fixo semelhante a um salário e uma participação nos lucros de suas ideias, enquanto outros receberão apenas uma parte dos ganhos. Quem contribuir terá acesso a seus resultados, algo que muitos grandes fundos não permitem.

"Estamos tentando identificar esse mercado médio de gestores de portfólio e analistas, as superestrelas do segundo time amarradas em algum lugar, e todos desconsiderados e descartados pelas razões erradas", disse Potts.

É uma ideia fantástica, eu conheço esse segmento pela minha experiência na Linear. O que acaba acontecendo hoje em dia é que as grandes casas contratam jovens com remunerações baixas em relação aos seus ganhos. Se derem certo permanecem, senão são descartados. Esses que deram certo não podem publicar seus retornos obtidos — uma informação muito importante.

O que Potts está propondo é separar as funções desse setor. Ele consegue captar recursos de terceiros pela sua reputação, mas não teria como pagar os elevados salários dos gestores para manter um fundo competitivo. Sendo assim, ele abriu suas portas, pagando uma remuneração variável a quem quer se candidatar a fornecer ideias

As ideias de trade são mais um exemplo do conceito que expus acima sobre mercados não organizados. Não se enganem: cada ideia bem sucedida dessas gera prejuízos (e na maioria das vezes desemprego) aos concorrentes estabelecidos.

No post el-encuentro-com-dios, fiz os seguintes comentários sobre o ouro: ... O ouro passou batido pelo primeiro intervalo e hoje pela manhã chegou próximo do segundo a U$ 1.773. Esse ponto tem 3 características apontadas no gráfico a seguir: Ultrapassou a média móvel de 200 dias (muito seguido pelos analistas técnicos); testou o canal de suporte; e está próximo de 2 objetivos calculados (U$ 1.787 e U$ 1.759) ...

Parece que o comportamento do ouro esta semana eliminou a possibilidade de novas baixas para tanto, o nível de U$ 1.764 passa a ser vital nesse sentido. Por outro lado, não se pode dizer ainda que o movimento de alta de prazo mais longo volta à tona.

Para podermos ter uma postura mais construtiva para o ouro é necessário que ultrapasse a região destacada no gráfico entre U$ 1.876 a U$ 1.948.

- David, se você tivesse ouvido meus conselhos no post acima, estaríamos bem!

Vou reproduzir suas palavras: ... o que está esperando para comprar? Se achava bom a U$ 1.850, melhor ainda a U$ 1. 780! ...

Meu amigo, sinto dizer, mas teria acertado mais por sorte, e a sorte não é um bom companheiro de seu patrimônio. Não estou desprezando, na vida é importante sorte, mas quando vem acompanhada de um bom risco x retorno, e no caso em questão, você só ganharia no caso que ocorreu poderia acontecer outro bem diferente, com quedas ao redor de U$ 1.600.


O SP500 fechou a 3.699, com alta de 0,88%; o USDBRL a R$ 5,1557, sem variação; o EURUSD a 1,2120, com queda de 0,16%; e o ouro a U$ 1.837, com queda de 0,15%.

Fique ligado!

Comentários