A China é sempre um mistério #eurusd

 


Vocês notaram que, quando um país ocidental implanta alguma medida que mexe com as finanças, o governo pauta suas explicações. Se a repercussão é consensualmente negativa, normalmente volta atrás, ou modifica para acomodar melhor. Isso não significa que todos ficam felizes, mas existe uma lógica por trás.

O mesmo não acontece com a China, que toma suas decisões unilateralmente sem a menor explicação. Somente em situações em que os mercados reagem de forma diferente do que imagina é que a China toma medidas para ajustar.

Recentemente, a China interferiu em vários segmentos da sua economia e provocou queda expressiva nas ações dessas companhias. Nesta semana, foi a vez das empresas de jogos pela internet, com uma simples qualificação de que seu efeito nas pessoas é viciante como o ópio. Não precisou muito para o mercado entender o recado, ocasionando quedas expressivas na Tencent, a principal empresa desse setor.



Matthew A. Winkler postou um artigo na Bloomberg mostrando que as empresas chinesas não aparecem entre as maiores no ranking em termos de capitalização.

As últimas duas décadas mostraram um amplo consenso sobre a transição do "Século Americano" para o "Século Chinês", como se comprovaria pelo crescente produto interno bruto da nação, o domínio na manufatura e no comércio global e, mais recentemente, o avanço da tecnologia pronto para dominar quase tudo no Ocidente.

O dinheiro do mundo diz que não. O rolo compressor da China é uma sombra do que aparenta ser na capitalização de mercado das 10 maiores empresas do mundo, sete das quais são americanas, representando mais de 78% do patrimônio líquido do grupo, de acordo com dados compilados pela Bloomberg. Além de uma breve dominância com quatro, ou 42%. Das 10 melhores em 2008, durante o que foi então a pior recessão dos EUA desde a Grande Depressão, a China permanece um cavalo perdedor. Os investidores evitam cada vez mais o combustível fóssil — A China é o poluidor nº 1, com 30% das emissões de CO2, o dobro da quantidade produzida pelos EUA —, à medida que a  ameaça existencial da mudança climática acelera a preferência por inovação, especialmente energia limpa ou alternativa.



Com exceção da Saudi Arabian Oil Co., que se tornou maior empresa do mundo em dezembro de 2019 apenas para ser imediatamente ultrapassada pela Apple e pela Microsoft no ano passado, a maioria do resto das top 10 — a Amazon, a Alphabet, a Facebook Inc. , a Tesla, a Berkshire Hathaway Inc., a Shenzen, a Tencent e a TSM — são empresas de tecnologia, comunicações e bens de consumo. A China é pouco mais de 4% das empresas mais valiosas e menos de 6% das de tecnologia. A Berkshire Hathaway é a única relíquia da indústria do século XX no grupo de elite, de acordo com dados compilados pela Bloomberg.



A segunda maior economia agora está restringindo suas corporações mais poderosas, incluindo a Alibaba, criadora de comércio eletrônico e conteúdo com sede em Hancheu, a Tencent, provedora de entretenimento, redes sociais e  sistemas de pagamento de Shenzhen, e a Didi Global, fornecedora de serviços de transporte de passageiros sediada em Pequim. O Índice Nasdaq Golden Dragon China, que inclui 98 grandes empresas chinesas negociadas publicamente nos EUA, caiu 14% desde 22 de julho, representando perdas de US$ 120 bilhões e expulsando a Alibaba das top 10.

Mesmo antes da repressão do governo, quando a Saudi Aramco se tornou a empresa número 1 há 20 meses, a Apple, a Microsoft, a Amazon, a Alphabet, a Facebook, a Berkshire Hathaway e a Visa Inc. representavam 71% do patrimônio líquido mais valioso, dos quais a tecnologia era superior a 75%. A China era apenas 12% naquele momento, uma melhora em relação a sua ausência entre os 10 melhores em 2016, quando o grupo era inteiramente americano.

A escassez de capital da China entre as empresas mais valiosas é acentuada pela demanda sem precedentes no mercado de ações, onde as empresas levantaram um recorde de US$ 1,2 trilhão por meio de ofertas públicas iniciais em 2020 e US$ 909 bilhões este ano, de acordo com dados compilados pela Bloomberg. As indústrias classificadas como inovação e tecnologia representam 80% das top 10, contra 30% em 2011, quando a Apple foi avaliada em menos de quatro vezes suas vendas anuais, em comparação com mais de sete vezes sua receita hoje. As ações da Tesla, que se tornaram públicas em 2010, valem 17 vezes as vendas da fabricante de veículos elétricos.

Embora o articulista não diga claramente, pelo teor do artigo ele acredita que a China fez uma tremenda besteira recentemente atuando nessas empresas, a queda de suas ações as tirou das maiores empresas por valor de mercado do planeta. Mas será que esse critério é tão importante para os chineses? Parece que não, pois os governantes sabiam ser esse o custo dessa intervenção.

Se não foi isso, o que poderia ser? Uma possibilidade seria que o governo não está mais gostando do seu “capitalismo ditatorial”, a forma de governar inventada por esse país, e estaria dando meia volta para estatizar as empresas. Não acredito nisso; o mais provável no meu ponto de vista é que a China queira manter o controle em setores que enxerga como estratégicos, e a evolução recente estaria colocando esse controle em risco. Sendo assim, não creio que algo assim pontual deva afetar o resto das empresas fora desses setores.

Um detalhe que passou desapercebido, mas que quer dizer muita coisa, foi que dessa vez houve uma saída de recursos das bolsas e, provavelmente de forma mais generalizada pelo temor dos investidores, que afetaria sua moeda o renminbi. Acontece que, depois de perder 0,5% na segunda-feira, no final do dia seguinte se recuperou. Esse acontecimento manda um recado importante: num momento em que os estrangeiros estão freneticamente vendendo ativos chineses, o renminbi subiu. É bem provável que o governo tenha atuado nesse mercado.

Não é tão surpreendente ver as autoridades da China agirem para manter o renminbi forte e o mercado de títulos do país líquido e livre de acidentes. Afinal, a maior espada de Dâmocles pairando sobre a economia da China tem que ser a dependência do país em relação ao dólar dos EUA. Daí a urgência de substituir o comércio denominado em dólar pelo comércio denominado em renminbi. Mas é claro, isso não pode acontecer se o renminbi for estruturalmente fraco e / ou o mercado de títulos da China for uma reserva pobre de valor.

À medida que examinamos os destroços das últimas semanas, a única coisa que se destaca é a resiliência da taxa de câmbio do renminbi, e do mercado de títulos em renminbi. Em grande medida, esses dois mercados acabaram de passar por uma importante “prova de fogo”. E o fato de que a China não deixará facilmente o renminbi cair é um importante recuo reflacionário para o mundo.

Não devemos menosprezar a capacidade do governos chinês em tomar medidas econômicas. No passado fizeram algumas besteiras, mas como sempre, os inteligentes aprendem com os erros. Eles sabem o que estão fazendo, e se não sair de acordo com suas vontades, eles mudam. A única diferença é que nenhum motivo será exposto, temos que descobrir nas entrelinhas.

No post bitcoin-reprovado fiz as seguintes observações sobre o euro: ...” o euro está dentro de um canal” ... ...”  é necessário que o euro rompa esse canal. Os parâmetros da queda alteraram marginalmente para 1,1627 /  1,1615” ...



O euro acabou rompendo o canal descrito acima, mas sem muita convicção até o momento. Não tenho muito o que comentar sobre a moeda única, ainda tudo pode acontecer no curto prazo, tanto um rompimento mais para baixo anotado no gráfico em 1,1752, como ficarei mais animado caso ultrapasse 1,1909.

 


Amanhã serão publicados os dados de emprego, um elemento importante dentro da política do Fed. Os números publicados pelo ADP não foram muito bons, ao redor de 330 mil. Embora a relação entre esse dado e o oficial tenha divergido bastante nos últimos tempos, não deixa de ser um indicador.

O banco Goldman Sachs espera a criação de 1,150 mil novos postos, um número muito superior às expectativas do mercado em 870 mil. A taxa de desemprego, segundo esse banco, teria uma queda para 5,5%. Se esses números se confirmarem, será muito positivo para o mercado. Se a taxa de juros não subir com esses dados, não sei com o que a faria subir!

O SP500 fechou a 4.429, com alta de 0,60%; o USDBRL a R$ 5,2150, com alta de 0,90%; o EURUSD a 1,1833, sem variação; e o ouro a U$ 1.803, com queda de 0,42%.

Fique ligado!

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