Tombo na madrugada #usdbrl

 


Todo final de semana, costumo verificar os mercados no domingo à noite, que corresponde à manhã de segunda-feira na Ásia. Tenho um painel que contém os principais ativos que acompanho, e ontem levei um susto ao ver as cotações do ouro com queda superior a 4%, o que foge os padrões de oscilações nessa região do mundo — a não ser que exista algum motivo para tanto.

Depois de uma queda de 2,5% na última sexta-feira, e sem encontrar alguma razão mais contundente a não ser o receio em relação à variante Delta, que se espalha na Ásia, o mais provável é que tenha ocorrido a execução de uma ordem de stop loss, num momento em que a liquidez se mostra baixa.

Está se aproximando o 10º aniversario do Mosca, que acontece no dia 26 de agosto (vai ter festa! Hahaha ...), e me recordo que um dos temas de início foi a cotação do ouro, da qual eu tinha uma visão de queda. Também lembro que era assunto diário na Bloomberg, com diversas inserções, sendo o principal motivo a alta observada desde 2008, quando a cotação era de U$ 500 e atingiu a máxima em setembro de 2011 a U$ 1.980.

Se vocês tentarem buscar o tema ouro na pesquisa do Mosca, irão perceber que esse assunto foi abordado em centenas de posts. O metal é conhecido como o porto seguro contra a inflação. Honestamente, não sei por que motivo, pois em diversas ocasiões não se mostrou eficiente. Um artigo publicado pelo Wall Street Journal conta a história do ouro nesses últimos 50 anos, quando o governo americano encerrou sua conversibilidade a preço fixo, o chamado padrão ouro.

Numa noite de domingo, há 50 anos — em 15 de agosto de 1971, para ser exato — o então presidente Nixon interrompeu "Bonanza", um dos programas de TV mais populares da época, para anunciar que estava acabando com a conversibilidade do dólar americano em ouro. Muitos consideram que foi uma das decisões mais impactantes que ele tomou.

Até este "fechamento da janela do ouro", os bancos centrais estrangeiros podiam converter dólares americanos em barras de ouro ao preço fixo de US $ 35 a onça. Em teoria, isso impôs uma disciplina monetária rigorosa à Reserva Federal, uma vez que inflar a oferta de dinheiro poderia ter causado uma corrida ao Fort Knox, onde os EUA armazenavam seu fornecimento de ouro. E a inflação realmente saltou nos anos seguintes à decisão de Nixon de remover essa ancora. Assim como o preço do ouro, que hoje é 50 vezes mais alto do que naquele dia.

Essa aparente correlação entre ouro e inflação levou muitos a acreditar que o ouro é um bom hedge inflacionário. No entanto, essa crença não é apoiada pelos dados. Se o ouro fosse um hedge bom e consistente, a relação de seu preço com o índice de preços ao consumidor teria sido relativamente estável ao longo dos anos. Mas esse não foi o caso, como você pode ver no gráfico abaixo: nos últimos 50 anos, a proporção oscilou de uma mínima de 1,0 para uma máxima de 8,4.

O ouro só é um bom hedge de inflação ao longo de períodos de tempo muito mais longos do que qualquer um de nossos horizontes de investimento, de acordo com uma pesquisa conduzida pelo professor da Duke University Campbell Harvey e Claude Erb, ex-gerente de portfólio de commodities do TCW Group. Eles descobriram que é apenas quando medido por períodos muito longos — um século ou mais — que o ouro manteve seu poder de compra relativamente bem. Em períodos mais curtos, seu preço real, ou corrigido pela inflação, não flutua menos do que qualquer outro ativo.

 


A fraqueza do ouro como cobertura da inflação pode ser ainda mais acentuada hoje, diz o Prof. Harvey, porque "o ouro é atualmente muito caro em comparação com sua história". A atual relação ouro-CPI está em 6,5, por exemplo, quase o dobro de sua média de 50 anos de 3,6.

Metal leve

Embora o preço do ouro seja 50 vezes maior do que em 1971, as ações tiveram um desempenho ainda melhor. O S&P 500 produziu um retorno anualizado de 11,2% desde agosto de 1971, supondo o reinvestimento de dividendos ao longo do caminho. Isso se compara com os 8,2% anualizados para o ouro.

Além disso, a única razão pela qual o ouro chegou tão perto de igualar as ações nos últimos 50 anos foi seu enorme retorno durante a primeira década após o anúncio de Nixon. Tire essa década, e o ouro ficou para trás até mesmo das notas do Tesouro de médio prazo. Nos últimos 40 anos, o ouro subiu a uma taxa anualizada de 3,6%, em comparação com 12,2% para o S&P 500 e 8,2% para os títulos do Tesouro.

Isso não significa no entanto que o ouro não tenha um papel a desempenhar em um portfólio diversificado, mesmo supondo que o futuro será como o passado. Como a correlação de seus retornos com os de ações ou títulos tem sido muitas vezes baixa ou até negativa, sua presença em uma carteira pode reduzir a volatilidade. Nos últimos 50 anos, uma carteira de ações e títulos poderia ter melhorado seu desempenho ajustado ao risco adicionando uma pequena alocação ao ouro — cerca de 5% ou mais.

Ainda assim, mesmo o potencial de redução da volatilidade do ouro não é garantido, uma vez que a correlação do ouro com as ações variou amplamente ao longo dos anos. De fato, houve ocasiões em que a correlação do ouro com o mercado de ações tem sido positiva, o que é exatamente o oposto do que deveria ser para reduzir o risco de uma carteira. Uma dessas ocasiões recentes ocorreu durante o declínio da bolsa de valores em fevereiro e março do ano passado: as ações de mineração de ouro caíram 39%, medida pela VanEck Vectors Gold Miners GDX -0.84% ETF (GDX) — ainda mais do que a queda de 34% no S&P 500. "Que tipo de porto seguro é esse?" Harvey pergunta.

Os próximos 50 anos

A correlação inconsistente do ouro com as ações e a inflação dificulta o desempenho dos próximos 50 anos. Um trunfo adicional, de acordo com o Prof. Harvey, é que o ouro agora enfrenta "a concorrência que nunca teve antes" por causa do advento das criptomoedas.

É sempre possível que o ouro seja um hedge inflacionário mais consistente nos próximos anos. Só que você terá que procurar algum argumento fora da História para encontrar apoio para tal possibilidade. Erb é cético se isso representará um grande obstáculo para os verdadeiros crentes do ouro, no entanto: "O passado sempre pode ser deixado de lado quando se sonha de que forma o ouro e a inflação podem se mover em conjunto no futuro."

Diversas vezes meus posts mostraram a falta de relação entre o ouro e a inflação. Por exemplo, neste momento em que existe risco de a inflação ressurgir nos EUA, sua performance deixou a desejar. Nem com a enxurrada de liquidez hoje existente é possível se construir um cenário mais correlacionado ao ouro.

A melhor maneira de encarar o metal é considerá-lo um ativo que está associado à segurança. Sua atratividade surge quando existe uma moeda em xeque — uma moeda importante e não o bolívar venezuelano, por exemplo. Para fins de portfólio, sugiro usarem a análise técnica, que tem de certa forma apontado momentos interessantes.

 No post o-caro-é-relativo, fiz os seguintes comentários sobre o dólar: ...” No gráfico acima com janela diária, demarquei com a elipse o espaço onde essas oscilações se encontram contidas, no meio das retas paralelas. Por enquanto, parece que o dólar deve continuar dessa forma, até o momento que deverá romper para cima. Até agora, não existe evidência de que o movimento de alta estaria em curso” ...



O dólar saiu fora da linhas paralelas porém não rompeu o nível mais importante de R$ 5,3139. Observando numa janela mais curta também não existe evidências de tal rompimento. Tudo indica que é uma questão de tempo para que isso ocorra. Em todo caso, vou aguardar esse evento para sugerir algum trade, que no caso seria a compra de dólares. Não posso descartar uma queda ao níveis de R$ 5,05, e dependo de como ocorra talvez seja um bom ponto de entrada. Acompanhe o Mosca nos próximos dias, caso esse mercado seja de seu interesse.



O SP500 fechou a 4.432, sem alteração; o USDBRL a R$ 5,2430, com alta de 0,26%; o EURUSD a
1,1735, com queda de 0,20%; e o ouro a U$ 1.729, com queda de 1,87%.

Fique ligado!

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