Dobradinha #nasdaq100

 

Os leitores sabem que o Mosca tem 2 partes distintas em suas publicações: a primeira normalmente cobre algum assunto econômico ou de interesse e a segunda o acompanhamento técnico, sem sobreposição entre elas. Hoje vou inovar juntando um artigo, publicado por Ben Carlson em seu site A Weath of Common Sense, que questiona se é este o momento de comprar ações de tecnologia, em conjunto com a análise técnica da nasdaq100 que sucede. Uma dobradinha.

Um leitor pergunta:‎

‎Como o NASDAQ teve um início difícil para 2022, e vários nomes com alto P/L foram derrubados, e a opinião do mercado parece ser que as ações da Cathie Wood vão essencialmente continuar caindo com as taxas/inflação do jeito que estão, eu queria ver se haveria uma visão contraria – se alguém tem um horizonte de 5yr ou 10yr, essas peças de inovação/tecnologia não seriam as empresas perfeitas para ter em um portfólio? Não se deve comprar lentamente esses nomes à medida que os preços continuem caindo?‎

‎A coisa está braba lá fora.‎

‎O Nasdaq Composite entrou novamente em mercado de baixa esta semana, 22% abaixo em relação às máximas históricas. Este índice tem mais de 4.700 ações nele:‎

  • ‎61% caíram 20% ou mais‎
  • ‎43% caíram 40% ou mais
  • ‎29% caíram 60% ou mais

‎O fundo ARKK da Cathie Wood está agora com 68% de perda em relação a seus recordes de fevereiro de 2021.‎

‎As ações de crescimento tiveram uma fase incrível por um tempo lá atrás, mas muitos nomes familiares estão sendo destruídos.‎

‎Você tem empresas como Zoom (-82%), Netflix (-71%), Peloton (-89%), Facebook (-46%), Shopify (-74%), Square, (-63%) e Spotify (-71%) com quedas maciças de seus picos.‎

‎Nada bom.‎

‎Para ser justo, essas perdas precisam ser colocadas em perspectiva. Os ganhos que levaram a este massacre foram gigantescos.‎

‎Estes são os retornos anuais para o Nasdaq desde que a Grande Crise Financeira terminou:‎

  • 2009: +45.3%
  • 2010: +18.0%
  • 2011: -0.8%
  • 2012: +17.9%
  • 2013: +40.9%
  • 2014: +14.7%
  • 2015: +7.0%
  • 2016: +8.9%
  • 2017: +29.6%
  • 2018: -2.8%
  • 2019: +36.7%
  • 2020: +44.9%
  • 2021: +22.2%

‎Para vocês que fazem as contas, são retornos de mais de 20% ao ano durante 13 anos!‎

‎Você não pode esperar que esse tipo de fase dure para sempre. Houve algumas quedas ao longo do caminho, mas nada como a queda atual em muitas das ações mais amadas pelo público nos últimos anos.‎

‎E os ganhos em muitas dessas ações individuais foram ainda mais loucos do que o próprio Nasdaq.‎

‎Da mínima em março de 2020, a Zoom subiu mais de 250% em apenas 7 meses. A Spotify ganhou mais de 200%. A Peloton subiu mais de 600% em menos de 9 meses. A Square também subiu 600% em relação às mínimas.‎

‎De 2019 a novembro de 2021, a Shopify subiu 1.100%. Desde seu IPO em 2012 até as máximas históricas em setembro de 2021, o Facebook obteve quase 30% ao ano. De 2014 a novembro de 2021, a Netflix deu aos investidores quase 40% ao ano.‎

‎Sinto muito, mas você não tem retornos assim sem um desastre oposto em algum momento. É assim que o risco e o retorno funcionam.‎

‎Em muitos aspectos, este atual período de alta e subsequente queda das ações de crescimento são semelhantes às ações nifty fifty 1 da década de 1970.‎

‎Ações como Polaroid, Coca-Cola, IBM, Xerox e McDonald's tornaram-se as queridinhas tanto de investidores institucionais quanto de varejo no início da década de 1970. Elas tinham antecedentes de crescimento comprovados e se tornaram ações de decisão única — e essa decisão era comprar.‎

‎As expectativas ficaram tão fora de sintonia com a realidade que as avaliações sobre essas ações dispararam. Não era inédito que essas ações negociassem em qualquer lugar entre 50 e 100x de P/L.‎

‎Quando veio o mercado de baixa em meados da década de 1970, essas ações foram massacradas:‎

Estamos falando de perdas de 55% a 90% nessas ações de crescimento blue-chip. A Polaroid caiu mais de 90% enquanto a Avon caiu mais de 85%.‎

‎O setor de tecnologia era muito menor naquela época, mas acabou com baixo desempenho do mercado por quase 3 décadas a partir do auge da mania nifty fifty.‎

‎Curiosamente, muitas dessas ações acabaram sendo grandes investimentos no longo prazo.‎

‎De 1971 até os dias atuais, o McDonald's cresce quase 15% ao ano. A Pepsi cresce quase 12% ao ano.‎

‎Mas alguns deles não tiveram tanta sorte. A GE e a IBM têm tido um desempenho inferior ao mercado desde a década de 1970. E você também tem empresas como Polaroid ou Sears que não são mais empresas públicas.‎

‎Escolher os vencedores é difícil.‎

‎Acho bom que esse leitor esteja pensando em manter essas ações para o longo prazo. Isso deve ajudar, mas não garante o sucesso.‎

‎E mesmo que algumas dessas empresas acabem se tornando bons investimentos a longo prazo, elas ainda podem arruinar você no curto prazo.‎

‎Por exemplo, a Teladoc, a provedora de saúde virtual que parecia um investimento óbvio com o impacto da pandemia, caiu 82% na quarta-feira em relação a sua máxima histórica após o fechamento  e o anúncio de seus lucros.‎

‎As ações caíram quase 40% desses níveis após um relatório pior do que o esperado.‎

‎Pegar uma faca caindo nunca é fácil, mas aqui estão algumas perguntas que você deve se fazer ao tentar achar pechinchas nas ações de crescimento:‎

  • ‎Qual é o meu horizonte temporal?‎
  • ‎Estou disposto a colocar mais dinheiro a esses preços deprimidos?‎
  • ‎Como reagirei se as ações caírem ainda mais?‎
  • ‎Como saberei se estou errado?‎

‎Não são perguntas fáceis de responder, mas investir não é para ser fácil.‎

‎Haverá um punhado de ações que as pessoas vão rever em 5,10, talvez 15 anos que parecerão compras fantásticas no momento.‎

‎Mas também haverá aquelas ações que nunca mais atingirão seus picos de 2021.‎

‎Investir é sempre mais fácil com o benefício da retrospectiva. Essas coisas nunca são tão fáceis no momento.‎

1 ‎‎O Nifty Fifty foi um grupo de 50 ações de grande capitalização na Bolsa de Valores de Nova York que foram mais favorecidos por ‎‎investidores institucionais‎‎ nas décadas de 1960 e 1970. O investimento nessas 50 principais ações — semelhante às ações blue-chip de hoje — é dito ter impulsionado a economia americana ao seu mercado de touros da década de 1970. As empresas desse grupo foram geralmente caracterizadas pelo crescimento consistente dos lucros e pelas altas ‎‎relações de P/E‎‎.‎

Antes de mais nada, como alguém imagina investir num horizonte tão longo de 5 a 10 anos comprando uma determinada ação? Não acho nada razoável essa decisão além de extremante especulativa. Eu já publiquei diversas vezes gráficos apontando as 10 maiores empresas de 10 em 10 anos que mostram mudanças impressionantes de nomes. Com essa ideia, nem as FAANGS são garantia de sucesso.

Para esse horizonte, se é que alguém quer ficar inerte, sugiro comprar um ETF do índice ou investir num fundo de ações que acaba acompanhando algum indicador. Para os leitores que não sabem, a composição de todos os índices vai se alterando periodicamente tanto em termos percentuais como em seus nomes.

Isso tudo remete à principal pergunta: é hora de comprar porque caiu aproximadamente 20% da máxima? Ninguém vai conseguir responder a essa pergunta, só ex post, e sinceramente eu não estou interessado em buscar a mínima, para mim o que mais importa é saber (ou ter uma boa probabilidade) que o movimento de queda terminou, e não conheço ferramenta mais útil que a análise técnica.

Para complementar a análise, abaixo se encontra o gráfico da nasdaq100 com a anotação dos P/L.


Por esse indicador, podemos observar que o P/L de aproximadamente 21 é inferior ao que estava antes da pandemia, o que parece um nível adequado considerando a história recente. Agora, se vai ficar mais barato ou não, depende de muitos parâmetros, como o nível de juros, se vai ter uma recessão ou não, e vários outros.

 No post agora-vai. fiz os seguintes comentários sobre a nasda100: ... “Na parte inferior, dentro do retângulo, o nível mais abaixo de 13.469 passa a ser de importância, pois se negociar nesse nível vou ficar desconfiado que a correção maior está em andamento” ...

O leitor que prestar mais atenção irá notar que fiz algumas modificações na nomenclatura dos movimentos. Enquanto no gráfico acima a onda 4 em amarelo tinha terminado, a mesma foi deslocada para a mínima ocorrida nesta semana a 12.936, e como comento a seguir, nem isso posso supor – atingiu a mínima. Tudo vai depender do que ocorrer na área destacada na parábola.

- Bem David, supondo que você é suficientemente honesto para não estar me enrolando nessas constantes mudanças, como você vai saber?

Obrigado pela confiança! Para te responder, veja o gráfico a seguir com janela de 15 minutos.

Se na área destacada completar 5 ondas, vai ser um bom começo; na sequência, uma correção em 3 ondas se sucede. Nessa situação, já daria para comprar o índice com um stop loss firme na mínima de 12.9362. Mas tudo isso ainda é bem especulativo, pois somente depois de completadas 5 ondas na janela de 1 dia as coisas começam a ficar mais claras.

É desta forma como eu busco identificar uma mudança de tendência, usando diversas janelas de tempo. A grande vantagem da teoria de Elliot Wave é que é fractal, ou seja, em qualquer janela observada se pode aplicar a mesma metodologia.

2 A primeira parte explicada acima foi o princípio que usei para meu mais recente trade de dólar.

Muito bem, olhando pela perspectiva da análise gráfica e buscando responder à demanda do leitor de Ben Carlson, minha resposta se é um bom momento de compra é: não sei ainda. Agora, olhando num prazo de 5 ou 10 anos, posso afirmar que haverá momentos bons e momentos ruins, mas que, observado de hoje, não seria confortável ficar comprado e esquecer.

O SP500 fechou a 4.131, com queda de 3,63%; o USDBRL a R$ 4,9721, com alta de 0,56%; o EURUSD a 1,0540, com alta de 0,33%; e o ouro a U$ 1.896, com alta de 0,11%.

Fique ligado!

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