O que não aconteceu #usdbrl

 


No próximo mês, o Mosca completará 12 anos de existência. No mundo imediatista em que vivemos, onde a tendência à exaustão de modismos é brutalmente curta, continuar por tanto tempo me deixa lisonjeado. Hoje superamos a marca de 700.000 visualizações, com a publicação de 2.845 posts. Um trabalho diário que mostra o interesse do público que acessa. Jamais pensei que poderia atingir essa marca, e esse feito me motiva a buscar o objetivo de 1.000.000. Não poderia deixar de mencionar a colaboração de meu parceiro, Alberto Dwek, que diariamente revisa e opina sobre o conteúdo antes de sua publicação. Ambos agradecemos a confiança dos leitores e nos comprometemos a manter o padrão de análise.

É grande a quantidade de pedidos de “desculpas” por parte dos analistas por terem projetado um cenário tão negativo para as economias ocidentais, principalmente a americana. No meu entender, tal situação é corriqueira — quando um grande erro é cometido, como costumo observar, basta trocar de camisa! Para os investidores não é tão fácil, pois dentro do espectro de posicionamento, desde os vendidos aos que apenas não tinham posições, o resultado é expresso em prejuízos ou diminuição dos ganhos. O mais difícil neste momento, para eles, é o que fazer daqui em diante — acredito que os vendidos já devem ter zerado, restando os sub alocados.

Um dos analistas cujos comentários respeito bastante e que tinha uma visão mais sombria, Mohamed El-Erian, publicou na Bloomberg que o mercado respondeu ao que não aconteceu.

Se examinarmos a evolução da economia dos EUA ou o impacto da política monetária, um dos desenvolvimentos notáveis deste ano não é o que aconteceu, mas sim o que não aconteceu. Fomos lembrados disso nas últimas duas semanas por dados macroeconômicos e por resultados bancários trimestrais. É um fenômeno que, crucial para os mercados, fez com que o risco das taxas de juro não se traduzisse em qualquer risco de crédito material – um alívio com o qual os traders e investidores estão dispostos a viver, apesar da incerteza residual.

Considere alguns exemplos que refletem esse tema geral do que não ocorreu:

  • Apesar de 10 aumentos consecutivos das taxas de juros, que constituem o ciclo de juros mais concentrado do Federal Reserve em décadas, o mercado de trabalho não experimentou nenhum enfraquecimento significativo. A criação mensal de emprego, as taxas de desemprego e o crescimento dos salários mantiveram-se impressionantemente robustos.
  • Ao contrário das repetidas previsões de muitos economistas e analistas de Wall Street, a economia dos EUA não entrou em recessão.
  • Embora as interrupções bancárias de março tenham produzido as duas maiores falhas da história dos EUA, o impacto não se espalhou por todo o sistema financeiro, seja para outros bancos regionais ou instituições financeiras não bancárias (NBFIs) altamente alavancadas.
  • Traders e investidores não foram pegos de surpresa pela volatilidade selvagem no mercado de títulos públicos.

Além disso, as leituras de inflação da semana passada, tanto no nível do produtor quanto do consumidor, foram melhores do que o esperado, apoiando ainda mais a noção de um pouso suave para a economia. Isso completa a notável viagem de ida e volta que começou no final do ano passado, quando a narrativa de pouso suave deu lugar às expectativas de um pouso forçado, sem pouso, pouso forçado, pouso forçado novamente e, agora, de volta a um pouso suave.

O conceito de pouso suave é sustentado por quatro hipóteses: a inflação continuará a cair de forma linear consistente; o Fed deixará de aumentar os juros após este mês e depois os cortará, garantindo que a economia evite um aperto excessivo que possa desencadear uma recessão; a economia possui resiliência suficiente para absorver os efeitos tardios dos aumentos de juros; e tanto os bancos como as NBFI têm balanços suficientemente fortes e mantêm canais de refinanciamento acessíveis.

Este cenário é altamente acomodatício para os mercados, apoiando ativos de risco e livres de risco. Consequentemente, tanto as ações quanto os títulos públicos já experimentaram aumentos de preços encorajadores. Se a narrativa de pouso suave se tornar mais arraigada na psique do mercado, as altas se ampliarão e se aprofundarão. A expansão das margens que tem impulsionado as ações até agora será acompanhada pelo fim das preocupações com o crescimento dos lucros. Os títulos do governo se beneficiarão de uma orientação de política monetária mais amena do Fed, já que os participantes do mercado antecipam cortes de juros após o provável aumento deste mês.

No entanto, a tradução dessa perspectiva em realidade depende de vários fatores:

Inflação: Durante o que provavelmente será um período de três meses de dados relativamente favoráveis, é essencial monitorar que a inflação de serviços pare antes de uma provável reversão na tendência de desinflação do setor de bens.

O Fed: formuladores de políticas precisam se sentir confiantes de que não serão enganados por outra finta econômica como a de meados de 2021 e, no caso de alguns, no início deste ano também.

A economia: As famílias e as empresas precisam demonstrar resiliência subjacente para permitir a absorção dos efeitos defasados dos aumentos de juros.

Estabilidade financeira: Os bancos regionais precisam manter um financiamento suficientemente eficaz em termos de custos, e as NBFI alavancadas precisam refinanciar ou absorver de forma ordenada as perdas em compromissos assumidos durante períodos de baixas taxas de juros e liquidez abundante ou ambos.

Por enquanto, os mercados ignoraram amplamente essas quatro considerações por causa de fortes influências técnicas. No entanto, é importante lembrar que os aspectos técnicos podem impulsionar o mercado apenas até um certo ponto. É provável que os fatores fundamentais recuperem destaque nos próximos meses, embora a configuração precisa desses fatores permaneça intrigantemente incerta.

John Authers, como vocês podem notar, um dos meus analistas prediletos, publicou na Bloomberg alguns dados sobre esse assunto com o título: o que o mercado está falando.

Será que há bons indicadores de mercado que sugiram que a economia está realmente virando para cima, como muitos agora parecem esperar? Sim, mas essa recuperação ainda é embrionária. Uma medida importante é o mercado de energia, já atingido por alguns grandes desenvolvimentos geopolíticos nesta década. Os preços parecem ter se estabilizado, e o índice de preços de energia à vista da Bloomberg está agora um pouco acima de sua média móvel de 100 dias. Isso pode ser tomado como um sinal de demanda resiliente:


Sentindo-se enérgico novamente

Os preços da energia parecem estar se estabilizando, o que implica a persistência da procura




Voltando ao mercado de crédito, é quase como se as falências bancárias em março fossem apenas um sonho ruim. O índice de crédito de alto rendimento da Bloomberg nos EUA está sendo negociado com um spread tão apertado sobre os Treasuries quanto antes da falência do SVB.


Sem alto estresse para alto rendimento

Os spreads dos junk bonds completaram a recuperação da crise bancária de março




Há também um visível retorno da confiança aos imóveis comerciais, embora pouco espetacular. O índice da Bloomberg de fundos de investimento imobiliário escritórios na semana passada ganhou mais de 20% em relação à mínima estabelecida em maio. Não faz sentido chamar isso de bull market, mas ainda é importante que o setor não tenha entrado em uma espiral de morte total, que parecia uma possibilidade real na época das falências bancárias.


Imóveis Comerciais: Sinais de Vida

Os setores mais problemáticos, pelo menos, pararam de cair




Portanto, sim, a virada na confiança gerada pelos dados de inflação aparece em outros lugares em indicadores de mercado significativos. Mas seria imprudente colocar muito peso nisso ainda.

Já o Deustche Bank cuja recessão deveria ocorrer no último trimestre deste ano segundo suas análises, publicou um “calendário” das diversas recessões que aconteceram no passado, considerando o prazo de ocorrência desde que o Fed iniciou o ciclo de alta de juros.




Dos 13 ciclos de caminhada aqui, apenas o ciclo de 1980-81 se transformou em recessão menos de 19 meses após o início do ciclo de caminhada. Portanto, uma recessão agora (16 meses depois da primeira alta) ainda seria muito cedo. No entanto, outros 3 viraram entre 19-21 meses depois, que transpostos para este ciclo nos levam ao quarto trimestre deste ano. Outros 3 rolaram 25-28 meses depois, o que seria o equivalente a abril a julho de 2024. Isso nos leva a 7 de 13. Outros 4 rolaram entre o equivalente a março de 2025 e setembro de 2025.

Os dois últimos teriam demorado até 2029 para causar uma recessão e, em termos planetários, parece mais com Plutão nessa escala.

As advertências a esta análise incluem que os aumentos das taxas de juros podem não ter sido a principal causa da recessão. Por exemplo, a crise do petróleo de 1973, quando os preços quadruplicaram devido a um embargo, levou rapidamente a uma recessão. Mais recentemente, a pandemia de Covid-19 foi a causa da recessão de 2020. Além disso, os ciclos de negócios ficaram mais longos nos últimos 40 anos. Contrariando isso, os aumentos de 450 bps que observamos no primeiro ano deste ciclo de aumento de taxa foi o segundo mais agressivo nesta amostra pós-Segunda Guerra Mundial.

Portanto, a inflação está caindo rapidamente e os dados estão se mantendo, aumentando assim as chances de um pouso suave. Cuidado com a defasagem.

Se pode notar que ambos, El-Erian e Authers estão pisando em ovos e, caso seus cenários básicos se confirmarem mais adiante, poderão dizer “eu não avisei?”. Por outro lado, caso a economia se encaminhe para um final sem a recessão tão anunciada, poderão seguir no caminho observado acima. Como se tivessem um pé em cada barco. No caso do DB ainda se encontra dentro de suas previsões.

Os leitores já devem estrar cansados da minha insistência sobre o uso de análise técnica, porém por experiencia própria é um processo de amadurecimento e compreensão que demora. São situações como essa, semelhante ao meu caso particular com o euro em 2002, que no mínimo deveriam fazer com que se reflita sobre o assunto. A mudança fica a critério de cada um.

- David, está cantando vitória, ok foi um bom call até agora, e se o mercado mudar? Você mesmo não descarta essa hipótese.

Espero não estar passando essa sensação – de relaxamento, pois ficaria muito preocupado, esse estado é pré-anuncio de perdas. Respondendo: se o mercado mudar, vamos mudar também, sem o menor constrangimento, o stop loss é a garantia para que não se fique estagnado numa direção.

No post o-macaco-mercado-está-certo fiz os seguintes comentários sobre o dólar: ... “ Num intervalo mais curto de uma hora, é possível observar 5 ondas entre R$ 4,76 – R$ 4,95 que ocorreram na semana passada. Agora poderia estar se desenvolvendo uma mini correção. A linha traçada em azul espelha a possível alta. Os limites se encontram destacados no gráfico a seguir onde: abaixo de R$ 4,7588, esquece que a correção maior está em andamento, ou acima de R$ 4,9503 abre espação para alta” ...




Por muito pouco o limite de R$ 4,7588 não foi rompido onde a mínima foi de R$ 4,7750. Para uma mudança de curso é imperativo que o nível de R$ 4,95 seja ultrapassado e no mínimo acima de R$ 4,9670. Caso isso ocorra, o objetivo seria em R$ 5,09 – todos esses níveis se encontram destacados no gráfico abaixo.




Uma outra forma de interpretar seria conforme indicado no gráfico a seguir. A diferença é onde se posiciona a onda (2). É sutil essa diferença, porém poderia ter um desenrolar no curto prazo distinto. Nesse caso, as 5 ondas iniciais em verde poderiam terminar em R$ 4,97, para em seguida iniciar uma correção que levaria o dólar para a região de R$ 4,83/R$ 4,79 (azul).




Bem antes de começar a imaginar diversos cenários, o dólar tem que terminar sua lição de casa ultrapassando R$ 4,97, que passa a ser um nível importante. Vamos ficar de olho nele e depois decidimos o que fazer. Importante notar que, para essas possibilidades vingarem, R$ 4,75 não pode ser ultrapassado, nem um centavo a menos no caso.

O SP500 fechou a 4.522, com alta de 0,38%; o USDBRL a R$ 4,8076, com alta de 0,40%; o EURUSD a 1,1238, com alta de 0,10%; e o ouro a U$ 1.954, sem variação.

Fique ligado!

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