Ficando com o mico #USDBRL

 


Tenho chamado atenção de que os resultados das pequenas e médias empresas americanas seguem estagnados, em contraste com os ganhos crescentes das grandes corporações. A intuição inicial era de que se tratava de um fenômeno estrutural ligado à própria natureza desse segmento: menor acesso a crédito, margens mais comprimidas, dificuldades em competir globalmente. O gráfico abaixo já mostrava esse descolamento claro no desempenho.


No entanto, um estudo recente elaborado pela Marquette Associates sugere que há uma explicação adicional e até mais convincente para a mediocridade dos índices de small e mid caps: a interferência do private equity. As boas empresas — justamente aquelas com potencial de crescer de forma consistente — vêm sendo retiradas da bolsa através de aquisições. O investidor que permanece exposto a esse universo acaba “ficando com o mico”, ou seja, com o que sobra após os melhores ativos terem sido levados para fora do mercado público.

O raciocínio é direto. Quando um fundo de private equity identifica uma companhia com fundamentos sólidos, paga um prêmio e fecha o capital. O processo é repetido sucessivamente, criando um viés de seleção adversa: as companhias listadas passam a ser, em média, menos rentáveis, mais arriscadas e menos promissoras. O índice das small caps reflete exatamente esse resíduo. A analogia é a de um baralho onde as melhores cartas são retiradas, restando apenas as de menor valor.


O investidor pessoa física ou mesmo o institucional que permanece confinado nesses índices vê o retorno definhando, enquanto o capital de risco privado captura o valor que antes estaria acessível a todos. A consequência é um círculo vicioso: menos investidores se interessam por small caps, a liquidez diminui e o custo de capital dessas empresas sobe, o que reduz ainda mais sua competitividade.

É curioso observar que esse fenômeno se intensifica em um período em que as grandes corporações listadas — especialmente nos EUA — entregam margens recordes. O mercado acionário, portanto, não está refletindo de maneira justa o dinamismo da economia como um todo. O que antes era uma vitrine para empresas emergentes se tornou, cada vez mais, um repositório de ativos medianos. O investidor público recebe o resíduo, enquanto o investidor privado concentra a nata.


Esse descompasso ajuda a explicar porque a correlação entre índices de mid caps e a economia real parece enfraquecida. Não é que as pequenas e médias empresas tenham todas entrado em estagnação estrutural. Muitas continuam crescendo de forma vibrante — só que fora da bolsa, no portfólio dos fundos privados. O índice passou a refletir apenas as que não foram escolhidas. A assimetria é evidente.

O fenômeno também lança luz sobre a discussão de acesso democrático ao crescimento econômico. O mercado de capitais, em tese, deveria ser o mecanismo pelo qual qualquer investidor pode participar do sucesso empresarial. Quando as melhores oportunidades são capturadas em estruturas fechadas de private equity, a promessa se rompe. O investidor comum fica restrito ao que não foi selecionado, ao passo que os retornos extraordinários se concentram em poucos.

O Mosca insiste nesse ponto: é preciso olhar além do brilho superficial dos índices. O S&P 500 ou o Nasdaq ainda contam com pesos pesados entregando crescimento sólido, mas os índices de small e mid caps viraram armadilhas. A ilusão de diversificação pode custar caro. O investidor está, sem perceber, pagando por uma cesta enviesada contra si mesmo.

Esse debate também ganha relevância para mercados emergentes como o brasileiro. A B3, assim como outras bolsas periféricas, sofre de maneira ainda mais aguda esse problema. Muitas empresas listadas não possuem liquidez suficiente, enquanto as melhores oportunidades são adquiridas por grupos estrangeiros ou absorvidas por grandes conglomerados. O que sobra para o investidor de varejo? Em grande medida, mais micos do que tesouros.

Se o diagnóstico estiver correto, a consequência prática é clara: o investidor que insistir em estratégias passivas em índices de small caps corre o risco de financiar retornos pífios por muito tempo. É preciso ser seletivo, identificar os poucos ativos que ainda oferecem valor antes de serem retirados da praça. Ou então buscar veículos que consigam transitar também pelo universo privado, o que não está ao alcance da maioria.

O mercado acionário, nesse aspecto, está se transformando em um palco onde a assimetria entre o investidor institucional de private equity e o investidor comum nunca foi tão evidente. Se antes a crítica era de que o mercado favorecia os grandes players pela informação privilegiada e pela alavancagem, agora a distorção é estrutural: os melhores ativos nem sequer chegam a permanecer listados por tempo suficiente.


Assim, “ficar com o mico” deixou de ser apenas uma metáfora. É a descrição precisa da experiência de quem continua acreditando que índices de mid ou small caps representam a pujança da economia real. A realidade é bem menos generosa: o que resta são os retalhos, enquanto o filé já está servido nas mesas do private equity.

Análise Técnica

No post “o-céu-será-o-limite” fiz os seguintes comentários sobre o dólar: “Os níveis considerados toleráveis para uma reversão foram rompidos, expondo o dólar a maior vulnerabilidade para quedas adicionais abaixo do mínimo recente de R$ 5,3835”.


O dólar estacionou no nível apontado acima e na semana passada não ocorreu nenhuma evolução nem para novas quedas ou altas, mesmo assim por enquanto se encontra vulnerável a novas quedas, e antes que meu amigo pergunte, o Mosca não sugere qualquer posicionamento. Como venho reforçando, é necessário a formação de 5 ondas e por enquanto as recuperações apresentam apenas 3 como o gráfico abaixo com janela de 2 horas destaca.

O S&P 500 fechou a 6.449, sem variação; o USDBRL a R$ 5,4345, com alta de 0,62%; o EURUSD a € 1,1669, com queda de 0,30%; e o ouro a U$ 3.333, sem variação.

Fique ligado!

Comentários

  1. Grandes empresas de tecnologia tem poder de mercado de aumentarem preços e demitirem, além de não estarem somente limitados ao mercado americano. O resto, vai sofrer...

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