O céu será o limite? USDBRL

 

O avanço vertiginoso da inteligência artificial está redefinindo fronteiras, desafiando até mesmo a crença de que “o céu é o limite”. O ritmo dessa transformação é tão acelerado que setores inteiros já sentem a pressão. A euforia atual lembra períodos históricos em que novas tecnologias dizimaram modelos de negócio consolidados — do telégrafo ao streaming —, mas agora o impacto ocorre em escala e velocidade muito maiores.

Os números impressionam. O economista Ed Yardeni mostra que o S&P 500 quase renovou seu recorde, impulsionado pelas “Magnificent 7”, que continuam entregando resultados muito acima do esperado, alimentados pela demanda crescente por computação em nuvem e pela integração de IA nos processos corporativos. Ferramentas como ChatGPT, Copilot e outros modelos avançados processam volumes cada vez maiores de dados, aprendem com cada interação e elevam a produtividade das empresas que os utilizam. O reflexo é imediato: maior lucro, mais capacidade de investimento e, por consequência, mais valorização no mercado.

Porém, a exuberância tem seus riscos. O Bank of America detecta que 91% dos gestores veem as ações americanas como sobrevalorizadas — recorde histórico. O sentimento geral ainda é otimista, mas cresce a preocupação com a possibilidade de uma bolha alimentada não só por expectativas de cortes de juros, mas também pela narrativa quase incontestável de que a IA trará ganhos permanentes.

Por outro lado, o Mosca criou o conceito da *Carteirinha* quando, no post “só-entra-com-carteirinha”, em maio de 2024, expus o dilema para a empresa que não se adaptar a essa nova tecnologia. Naquele momento, alertei que quem ganhasse a *Carteirinha* entraria para o clube restrito das companhias capazes de se beneficiar plenamente dessa revolução. Mas também deixei claro que a posse não é eterna: quem não acompanhar o ritmo de inovação, não sustentar ganhos de produtividade ou perder relevância para concorrentes mais ágeis pode ter que devolver a *Carteirinha*. Agora, como comentam Phil Serafino e outros na Bloomberg, esse processo já começa a ocorrer — algumas empresas que estavam no núcleo da transformação tecnológica estão sendo empurradas para fora.

O índice criado pelo BofA para medir as empresas mais vulneráveis à disrupção da IA já acumula uma queda de 22 pontos percentuais em relação ao S&P 500 desde maio. Negócios baseados em serviços repetitivos, sem barreiras tecnológicas sólidas — como desenvolvedores de sites, bancos de imagens e até softwares criativos — estão na linha de frente desse revés.

No front geopolítico, a narrativa de segurança nacional na guerra tecnológica entre EUA e China deu lugar a algo mais pragmático — ou mais cínico. Nvidia e AMD aceitaram pagar 15% de sua receita com vendas de chips de IA para a China ao governo americano, em troca de licenças de exportação. Uma espécie de “pedágio tecnológico” que expõe a verdadeira motivação: não tem a ver apenas com controle estratégico, mas também com arrecadação. Com margens astronômicas, as empresas absorvem o custo e seguem vendendo para um mercado chinês sedento por capacidade computacional.

Essa dinâmica reforça a concentração extrema do mercado. A “winner-takes-all economy” das big techs faz com que alternativas menores ou tardias raramente prosperem. O WSJ relembra que, enquanto alguns ETFs de tecnologia ficaram para trás, apostar pesado nos líderes certos foi o diferencial. Hoje, apenas a Nvidia vale mais do que todos os mercados acionários da Alemanha e da França somados. Mas tamanho cria seu próprio limite: a corrida por data centers onera o caixa e pode abrir espaço para novos competidores, assim como a Blackberry e o MySpace um dia foram líderes incontestáveis até se tornarem irrelevantes.

O investidor atento sabe que o jogo não é só “estar dentro” do setor de IA, mas entender como a curva de produtividade, a estrutura de custos e a política internacional vão moldar vencedores e perdedores. A emissão de novas *Carteirinhas* deve continuar, mas nem todas manterão o privilégio. E quando os preços começam a refletir mais um consenso emocional do que fundamentos sustentáveis, o risco de se voar perto demais do sol aumenta.

O céu pode não ser o limite — mas a gravidade dos mercados sempre cobra seu preço.

 

Análise Técnica

No post o-pior-dos-mundos, comentei sobre a trajetória do dólar: “O dólar tentou superar o nível projetado de R$ 5,6276 por três vezes, mas recuou, desafiando minha perspectiva de alta. Uma nova queda, ainda que pequena, me obrigará a revisar a estrutura, sem, contudo, descartar a possibilidade de alta — esta só seria eliminada com a violação de R$ 5,3835


Os níveis considerados toleráveis para uma reversão foram rompidos, expondo o dólar a maior vulnerabilidade para quedas adicionais abaixo do mínimo recente de R$ 5,3835. Isso justificaria recomendar vendas aos leitores? Ainda não. Observa-se que a reta destacada com o símbolo em vermelho foi respeitada, mas esse fator, por si só, não é suficiente. A confirmação de um movimento altista requer a formação de cinco ondas ascendentes. Enquanto isso não ocorrer, o cenário permanece inclinado a declínios adicionais


O S&P 500 fechou a 6.373, com queda de 0,25%; o USDBRL a R$ 5,4388, sem variação; o EURUSD a € 1,1616, com queda de 0,21%; e o ouro a U$ 3.345, com queda de 1,54%.

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