Ficando mal acostumado #SP500

 


Nos cursos de economia ensinam-se os ciclos econômicos. De maneira geral, a um período de crescimento sucede-se uma recessão. O principal motivo é que durante a expansão muitos negócios foram criados, porém não se mostraram rentáveis o suficiente. Desta forma, a recessão serve como uma limpeza nas empresas ineficientes e nos créditos impagáveis.

Como o período de recessão não é divertido, quanto menor sua duração, melhor.

Ontem recebi um relatório do Deutsche Bank elaborado por Jim Reid, com uma observação interessante sobre os ciclos econômicos desde que os dados foram publicados em 1855. No gráfico a seguir, as recessões estão sombreadas e os ciclos de expansão classificado pela duração.



Concluímos recentemente que a recessão de Covid pode persuadir os legisladores de que não há necessidade de uma recessão novamente. A resposta política tem sido tão agressiva que a recessão da Covid nos Estados Unidos provavelmente será a mais curta já registrada, apesar de uma pandemia global selvagem. Se você pode restaurar o crescimento tão rapidamente em um período em que os bloqueios são predominantes, então certamente uma recessão normal não causará medo e será revertida rapidamente.

As projeções da Oxoford Economics apresentada a seguir, indica que a recessão perdurou por 2 trimestres e, mesmo com as consequências da segunda onda da Covid-19, daqui a um ano estaremos no mesmo nível do PIB de antes da pandemia.



Vale dizer que essa tendência tem ocorrido em menor escala nos últimos quarenta anos. Todos os quatro ciclos desde o início dos anos 1980 foram os mais longos entre os 34 observados desde 1854 e, como mostra o artigo de hoje, esses quatro superciclos coincidiram com um direcionamento específico para o financiamento do déficit estrutural. Na verdade, o gráfico mostra que todos os outros ciclos longos coincidiram com grandes déficits, principalmente perto das guerras e do New Deal na década de 1930. Se era tão fácil evitar recessões, por que não acontecia isso todas as vezes?

A resposta simplista é que tal política teria sido impossível quando o dinheiro estava atrelado ao ouro e só era facilitada quando os EUA quebravam periodicamente os laços monetários com o ouro — e permanentemente, quando o sistema de Bretton Woods quebrou em 1971. No entanto, durante uma década, isso foi altamente inflacionário e economicamente disruptivo. Um milagre então ocorreu no início dos anos 1980, quando vimos quatro décadas de um desvio estrutural para baixo na inflação.

Acreditamos que a reentrada da China no sistema econômico global no final da década de 1970 e a demografia natural do mundo desenvolvido e da China garantiram que a oferta de mão de obra global (grande parte dela muito barata) aumentasse a partir deste ponto. Acreditamos que isso ajudou a garantir uma maior moderação da costumeira pressão sobre os salários e preços com o aumento da atividade ao longo dos ciclos subsequentes, e que a política fiscal e monetária pudesse ser mantida mais solta, evitando ventos contrários com muito mais facilidade. O custo disso foi o enorme acúmulo de dívida e, ultimamente, enormes ativos nos balanços de bancos centrais e, talvez, uma perda estrutural de produtividade.

Então, o que está impedindo que isso se torne a resposta normal da política e, assim, acabe com todas as recessões técnicas no futuro? A resposta é provavelmente “nada” até que cheguem a inflação ou as restrições políticas.

Sem nenhum dos dois, os formuladores de políticas provavelmente seguirão políticas do tipo MMT (*) / chuva de dinheiro quando houver necessidade. No entanto, o ciclo estrutural apresenta riscos para isso. Com a oferta de trabalho no pico nas principais economias / regiões globais e o desafio à globalização, podemos atingir as pressões inflacionárias mais cedo nos ciclos subsequentes, o que representará o maior desafio para essa teoria da “não recessão”.

Em breve, se estivermos corretos, os formuladores de políticas podem enfrentar mais dilemas do que os observados nos últimos quarenta anos, mas, se não estivermos, o ciclo de negócios pode ser coisa do passado.

(*) A Teoria Monetária Moderna (MMT) é um quadro macroeconômico heterodoxo que diz que países soberanos monetariamente como os EUA, Reino Unido, Japão e Canadá, que gastam, tributam e emprestam em uma moeda fiduciária que controlam totalmente, não são operacionalmente limitados pelas receitas quando se trata de gastos do governo federal.

Simplificando, tais governos não dependem de impostos ou empréstimos para gastos, uma vez que podem imprimir o quanto precisam e são os emissores de monopólio da moeda. Uma vez que seus orçamentos não são como os de uma família regular, suas políticas não devem ser moldadas por temores de aumento da dívida nacional.

A pandemia fez com que todos os governos, de Norte a Sul, adotassem uma política fiscal expansionista. No caso do Brasil, não me recordo de nada semelhante nesse sentido, de forma explicita — os políticos apenas adotavam déficits fiscais na moita, tipo o que a Dilma fez no seu governo.

Para países desenvolvidos, os mercados “aceitam” déficits maiores sem que haja desconfiança de entrar num processo de insolvência, algo que me surpreende. Antigamente, um déficit de 100% do PIB era sinal para os especuladores apostarem contra a moeda e/ou dívida soberana. Agora, até para países mais fracos como a Itália, que já ultrapassaram essa marca há alguns anos, ocorre o inverso:  como estão dentro do euro não é possível especular sobre a moeda, sobra a resposta sobre sua dívida pública, que ocorre, supreendentemente, no sentido da valorização dos títulos.

No caso brasileiro não é bem assim, haja vista a recente inquietação dos mercados em relação a esse ponto. Os países emergentes da América já estão sofrendo pressão na curva de juros futuros esperados pelo mercado.



Agora, se os políticos perceberem que é tranquilo oferecer pacotes de ajuda à população sem que haja impacto na economia por aumento de juros e elevação na taxa de câmbio, vai ser uma farra!

A grande verdade é que as políticas expansionistas se tornaram algo corriqueiro: fraquejando a economia, distribui-se dinheiro para o povo. Não parece lógico que possa durar muito tempo!

No post desatento, expus quais seriam os níveis que o SP500 poderia atingir vislumbrando dois possíveis cenários:  Base e Alternativo:

...” Cenário base: No gráfico a seguir, a bolsa terminaria essa correção com o SP500 atingindo o nível ao redor de 3.100. Isso se daria nesse movimento tríplice apontado com o A, B, C. O movimento deveria terminar mais próximo do final do 3º trimestre” ...



...” Cenário Alternativo: Como podem notar nesse caso, o mesmo movimento apontado com A, B, C, deveria terminar ao redor de ~3.600, num período mais curto, acabando entre abril/maio” ...



Desde então, a bolsa atingiu os níveis que esteva esperando, e ontem, ocorreu uma mini queda 1,4%. Será que é o prenuncio da correção?

Desde então, meus gráficos contemplam ora janelas de 15 minutos, ora de 5 minutos, a fim de buscar dicas nesse sentido. Isso é perigoso, pois como a Teoria de Elliot é fractal, nesses intervalos sempre existe de tudo — direcional e correção. Por que é perigoso? O analista pode querer enxergar/concluir o que espera. Em todo caso, nada conclusivo: se a bolsa cair abaixo de 3.880, pode ser o prenúncio da correção. Qual delas? Ainda é cedo.

Quero confessar aos leitores que fico oscilando entre os dois cenários, pois mesmo sob minha visão onde poderia existir uma correção maior, outras evidências apontam no outro sentido – gráfico de algumas ações importantes.

Eu sei que, seria necessário um catalisador para a queda mais forte, e como a Covid virou notícia de segunda ordem – incrível como as pessoas se acostumaram a ver milhares de mortes diárias como normal! O que poderia ser?

As vezes o mercado cai de maduro como se diz na gíria, quem sabe!

É importante ressaltar aos leitores que não tenho como auferir uma probabilidade entre os dois cenários expostos, pois só depende de uma classificação das ondas. Talvez o único motivo mais forte penderia ao fato de não ter ocorrido nenhuma retração mais forte desde março do ano passado.

O gráfico a seguir corresponde ao cenário alternativo com janela semanal. A alta no período citado foi de 76% e a maior correção ocorreu entre setembro e novembro de somente 10%. Você poderia argumentar que eu deveria medir a alta até setembro. Justo, mas não é muito diferente – 63%.



Para que o leitor possa entender por que esse não parece o cenário mais provável, seria de se esperar uma correção de no mínimo 15%, porém, o mais provável recairia entre 24% e 31%.

Por essa razão classifiquei a correção nesse período como sendo de outra ordem. Desta forma, o cenário base passou a ser de preferência.

Não vou ficar torcendo nem por nem por outro, o que eu sei é que, se for o cenário alternativo, deverá se suceder altas expressivas daí em diante. Sendo assim, não podemos perder essa oportunidade.

Let´s the Market speak!

O SP500 fechou a 3.916, com alta de 0,17%; o USDBRL a R$ 5,3665, com queda de 0,36%; o EURUSD a 1,2131, com alta de 0,13%; e o ouro a U$ 1.825, com queda de 0,89%.

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