A bolsa vai nas duas direções #Ibovespa

 


Essa frase parece óbvia, mas quando se está posicionado, é frustrante — para dizer pouco — ver a bolsa andar em sentido contrário. Vou trazer hoje alguns dados da bolsa americana, elaborados por Bem Graham para o site Pragmatic Capitalism.

Antes de entrar no assunto, porém, queria fazer um comentário sobre as mudanças por atacado feitas pelo presidente Bolsonaro ontem à noite. A impressão que tenho é que seu inspirador é o ex-presidente americano Donald Trump, que adorava criar confusão inesperadas. Embora esse último também fizesse muita besteira, tinha uma compreensão muitíssimo superior do mundo e dos negócios.

Tenho a impressão de que o presidente está perdido, procurando se movimentar em várias frentes sem que haja muita coerência. Talvez o único pensamento que parece fazer sentido é que está sob influência do Centrão, buscando a qualquer custo um apoio para a próxima eleição. Acontece que nenhuma das partes confia na outra, e é provável que em algum momento haverá uma ruptura. Acredito que Bolsonaro vai terminar o mandato sozinho, ou quase isso. Ele só tem uma chance: se a economia melhorasse significativamente, se ele tivesse uma melhor compreensão dessa hipótese, apoiaria seu ministro da economia. Essa seria a melhor aposta, mas ...

Tornou-se popular durante o último ano argumentar que "as ações só sobem". E sim, algumas vezes com certeza parece. Na verdade, a longo prazo, é quase sempre verdade. As chances de você perder dinheiro a longo prazo são baixas.



O problema com essa visão é que não vivemos nossas vidas a longo prazo. Vivemos nossas vidas no curto prazo e grande parte de nossos passivos financeiros são de curto prazo — nosso aluguel, a hipoteca, os pagamentos de carros etc. Nas carteiras financeiras, temos o que é chamado de incompatibilidade perpétua entre passivos e ativos. Ou seja, você tem certos passivos de curto e longo prazo que precisam ser combinados com certos ativos de curto e longo prazo. Nenhum de nós pode igualar esses passivos perfeitamente porque realmente não sabemos como eles vão evoluir através do tempo. E embora o mercado de ações seja um ativo maravilhoso a longo prazo, muitas vezes é um ativo horrível de curto prazo. Por exemplo, considere o gráfico de longo prazo das retrações do mercado de ações:



Dentro deste horizonte de tempo, você tem várias quedas de 5 a 10 anos e um rebaixamento devastador a longo prazo. Mais importante, estou intencionalmente ignorando o fato de que o mercado de ações sofre regularmente quedas de mais de 20% em bases mensais. O investidor que dormiu em 2020 nem sabia que, em certo momento, o S&P 500 caiu 35%. E isso é muito importante reconhecer porque, apesar do mercado de ações ser um instrumento de longo prazo, pode criar uma quantidade desproporcional de angústia de curto prazo. Em outras palavras, se o seu descasamento entre ativos e passivos está exagerado (o que significa que você está excessivamente exposto a ações), então acentua a chance de que uma queda estilo COVID crie um risco comportamental excessivo para você, porque estar mais exposto à realidade potencial, de que uma queda de curto prazo se transforme em uma queda de longo prazo, que gera meses ou até anos de incerteza em sua carteira e sua renda.

O problema com narrativas do tipo “ações, só sobem” é que faz as pessoas pensarem que estão indo atrás de retornos quando eles estão principalmente indo atrás do risco. Claro, isso pode não ser ruim para algumas pessoas. Se você é jovem e tolerante ao risco, então essa pode ser uma boa visão. Mas para a maioria de nós, ou não temos a tolerância ao risco, ou não temos o tempo necessário para aguentar uma desvalorização de 5 anos e toda a incerteza que vem com ela. Então temos que aceitar um pouco menos de risco sabendo que podemos renunciar a algum retorno. A vida é feita de trocas e uma dessas trocas é reconhecer que o mercado de ações não só "sobe", mas de fato às vezes deve descer para tornar uma alta sustentável.

É importante lembrar-se disso quando o mercado está bom porque o pior momento para descobrir essa realidade é quando o mercado está ruim. Nós nos preparamos para os maus momentos durante os bons tempos. Então tenha cuidado com essa narrativa de que as ações só sobem. Simplesmente não é verdade.

Quando estava na Linear, havia um fundo de investimento que só aceitava investidores que tivessem uma conversa prévia comigo. O nome do Fundo era Linear Tiger e, como o próprio nome sugeria, era o mais agressivo. Durante algum tempo, o retorno apresentado por esse fundo foi enorme, com grande demanda pelos clientes.

Nós criamos o termo “tarja preta” para esse fundo — em referência aos remédios controlados. Hoje esse nome se tornou mais difundido, porém mantém a mesma ideia. Depois de fazer uma breve explanação sobre o fundo, eu perguntava: você aceita a possibilidade de perder todo seu capital e ainda ter que aportar mais dinheiro? Inicialmente parecia algo surreal, mas na época essa situação era possível.

Em 1997 fomos largamente atingidos pela crise da Asia quando, além da bolsa cair significativamente, o mercado de juros levou um tombo enorme quando o BCB elevou a taxa de juros na impensável magnitude de 2.000 pontos (!), se não me falha a memória. Só para vocês terem uma ideia, um dos vencimentos que oscilava 40 pontos por dia, em 27 de outubro de 1997 oscilou 4.000! Não havia modelo de risco que previsse ajustes dessa dimensão.

Felizmente, nenhum fundo quebrou — mas sofreu muito — e não tivemos nenhuma ação legal por parte dos clientes, que devem ter lembrado nossa conversa inicial.

Saber dimensionar o risco que cada um tolera é uma arte. Existem diversos modelos que podem nos ajudar, mas a ganância torna difícil prever momentos difíceis, e é só quando eles acontecem que podemos conhecer melhor nossa tolerância ao risco. Na minha experiência diz que é um processo de tentativa e erro.

No post sem-torcida, fiz os seguintes comentários sobre o Ibovespa: ...” Indiquei na figura acima os níveis a serem acompanhados: abaixo de 108 mil a correção provavelmente ainda estará em andamento e a bolsa poderia atingir o intervalo exposto acima, para depois eventualmente começar a subir; acima de 116 mil, a chance de alta se eleva consideravelmente” ...



Com tanta notícia ruim que circulou durante esse período, a bolsa está próxima de romper o limite superior apontando anteriormente. Isso é um bom sinal: se está subindo com o vento contra, basta o vento parar — nem precisa ser a favor — para acelerar as altas.

Motivos existem para a melhora. Para citar dois: a aceleração da economia americana e a alta nos preços das commodities. Sobre a situação caótica por conta da pandemia, o leitor deveria ter uma visão pragmática, sendo razoável supor que daqui a um mês estará muito melhor — diferentemente do ano passado, hoje existe a vacina.

Vou sugerir um trade de compra a 116 mil com stop loss a 113 mil. O objetivo seria 130 mil, embora os cálculos ainda estejam sujeitos a atualização à medida que o movimento ganhe pulso.



Existe uma região pontilhada entre 118 mil e 120 mil que deve apresentar resistência por se tratar das máximas do início de 2020, bem como da tentativa de rompimento ocorrida em janeiro último. Let the Market Speak!

O SP500 fechou a 3.958, com queda de 0,32%; o USDBRL a R$ 5,5729, com alta de 0,85%; o EURUSD a 1,1719, com queda de 0,37%; e o ouro a U$ 1.684, com queda de 1,58%.

Fique ligado!

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