As perguntas sem resposta #SP500

 


Quem será o presidente em 2022 é uma das dúvidas favoritas. Não tenho o menor palpite, ou talvez não queira me deparar com a ideia do Lula nesse posto. Ontem vi uma pesquisa que me deixou chocado, a pergunta era: Você acha que a corrupção no Brasil vai aumentar? Nada mais, nada menos que 67% responderam que sim. Para mim essa resposta diz tudo, o povo brasileiro aceita numa boa que exista corrupção no governo e imagino que fora dele. Essa resposta em ampla maioria implica que qualquer corrupto pode ser Presidente.

Eu sei que você, que não é corrupto, pode ficar indignado, mas ou você aceita a população brasileira do jeito que ela é, ou faz as malas — pior, ainda vai ter que esperar um bom tempo para sair do país.

Como investidor, minhas perguntas são outras. Um artigo do gestor Mohamed A. El-Erian na Bloomberg coloca de forma concisa as 3 perguntas que gostaríamos de ver respondidas. 

O movimento da semana passada nos mercados financeiros dos EUA confronta os investidores com três perguntas complicadas. As respostas estão longe de qualquer certeza; as implicações para o posicionamento das carteiras de investimentos, por outro lado, são importantes.

Pergunta 1: A Reserva Federal está perdendo o controle do mercado de títulos?

A reunião do Comitê Federal de Mercado Aberto da última quarta-feira e os eventos posteriores destacaram a crescente contradição entre a postura política do Fed e a evolução das realidades econômicas. Os banqueiros centrais não veem necessidade de alterar suas medidas monetárias super estimulantes, embora tenham revisado substancialmente suas projeções de crescimento e inflação. As expectativas inflacionárias do mercado estão nas máximas dos últimos anos, os rendimentos dos títulos subiram e a curva de juros subiu significativamente.

Na esperança de conter as pressões ascendentes sobre os juros, o presidente do Fed Jerome Powell reafirmou na sexta-feira suas mensagens do FOMC, escrevendo no Wall Street Journal que "a recuperação está longe de ser completa, então no Fed continuaremos a fornecer à economia o apoio necessário para o tempo necessário".

Essa mensagem coloca os investidores meio que num impasse. Por um lado, parece reconfortante porque sugere que o Fed está disposto a estimular ainda mais, uma postura consistente com os decepcionantes números do desemprego da última quinta-feira. Por outro lado, amplia as preocupações com o superaquecimento financeiro e econômico, uma questão que foi destacada durante o fim de semana pelo aviso de Larry Summer sobre a política macroeconômica "menos responsável" dos últimos 40 anos.

Pergunta 2: Até que ponto o paradigma da liquidez é vulnerável à volatilidade do mercado de títulos?

Esta pergunta confronta os investidores com uma escolha: eles deveriam se posicionar para uma intervenção mais eficaz do mercado do Fed, sejam compras adicionais em larga escala ou o controle total da curva de juros, ou eles deveriam se preocupar com a menor capacidade do Fed em reprimir os rendimentos dos títulos, mesmo que continue disposto a isso?

A resposta tem implicações drasticamente diferentes para quanto risco os investidores deveriam correr e de que forma, seja investindo em índices passivos, escolhendo ações individuais ou estruturando suas carteiras.

Se o Fed for capaz de gerar mais uma rodada de repressão efetiva nos juros dos títulos, o conselho para os investidores seria continuar a aproveitar a onda de liquidez, deixando de lado, por enquanto, a impressionante inconsistência entre a política do Fed e o desenvolvimento econômico.

Mas uma erosão no poder do Fed em manter os rendimentos baixos e bem-comportados tem o claro potencial de interromper o paradigma de liquidez que tem sido tão rentável para os investidores em ações e uma ampla gama de outros ativos, independentemente de seus fundamentos subjacentes. Ele arriscaria puxar o tapete debaixo da narrativa TINA (there is no alternative) enquanto silenciaria os incentivos de compra dados por modelos de fluxos de caixa descontados. Isso enfraqueceria os princípios BTD (Buy The Dip) e FOMO (Fear of Missing Out) que garantiram que os recuos do mercado fossem revertidos de forma rápida e decisiva.

Questão 3: Até que ponto a economia é vulnerável a potenciais repercussões adversas de mercados voláteis?

Essa pergunta tem ligação direta com a resposta política do Fed — supondo-se, claro, que o banco central mais poderoso do mundo não seja cooptado pelos mercados financeiros.

Com base nos indicadores atuais, os riscos dos mercados voláteis provavelmente estão em terceiro lugar depois do Covid e da definição de políticas macroeconômicas. Especificamente, se a economia dos EUA não conseguisse alcançar as expectativas de crescimento, cada vez mais na faixa de 6% a 7% para 2021, isso provavelmente seria o resultado de um impacto de uma terceira onda de infecções por Covid (como está acontecendo em partes da Europa e do mundo em desenvolvimento) ou por causa de um acidente na política econômica.

Por mais que tenha pensado sobre essas três perguntas, não consegui chegar a uma resposta determinista — e, penso eu, por uma boa razão: envolve o duplo desafio de prever a mentalidade do Fed (atualmente preso no modo de inércia ativa) e a psicologia de mercado (ainda profundamente condicionada pela experiência dos últimos anos dominados pela liquidez). Dito isso, minha visão é:

  • O risco é significativo e crescente de que o Fed seja menos capaz de domar o mercado de títulos em futuro próximo, porque é altamente provável que o controle ativo dos juros venha com seu próprio conjunto de riscos significativos para o funcionamento do mercado, a sinalização eficiente de preços e a alocação de recursos pró-produtividade/crescimento em toda a economia.
  • Com isso, o paradigma da liquidez ampla e previsível também poderia estar em risco, potencialmente minando a onda remuneratória que tantos investidores têm surfado com tanto sucesso.
  • Finalmente, a ameaça de efeitos adversos de repercussão para a economia parece limitada, embora a desconexão Main Street-Wall Street tenha crescido materialmente nos últimos anos.

Talvez o artigo pareça um pouco confuso pela maneira técnica com que descreve seus pontos. Eu poderia resumir de forma superficial as 3 perguntas desta forma: A inflação nos EUA vai subir de tal forma que o Fed terá que abandonar seu discurso? A taxa de juros será consequência desta resposta.

Um relatório publicado pelo Banco Goldman Sachs chama a atenção pela ousadia de suas previsões. Veja no gráfico a seguir as linhas azul com a expectativa desse banco para a política de juros em 6 países/regiões confrontado pela linha vermelha com aas apostas feitas pelo mercado.



Vejam seus argumentos “No geral, esperamos que a maioria dos principais bancos centrais do G10 continuem a apoiar fortemente a recuperação por meio do balanço patrimonial e da acomodação da taxa de juros. Uma saída cautelosa do QE deve limitar o risco de grandes danos às condições financeiras, juntamente com uma orientação de taxa relativamente clara e um forte crescimento. Nossa previsão de que a maioria dos bancos centrais primeiro removerá com cautela a acomodação do balanço patrimonial antes de subir, apoia nossa visão de "baixo (juros) por mais tempo", além de nossas convicções de que há mais folga na economia do que se acreditava amplamente e que alcançar metas de inflação de maneira sustentável requer mercados de trabalho muito restritos”.

Não estamos falando aqui da projeção de um banco de botequim, e sim do banco que está entre os 3 maiores banco de investimento do mundo.

Por outro lado, o gráfico a seguir, que apresenta a evolução do título de 30 anos desde o começo de cada ano, parece a maior confusão do mundo. Notem que o preço do bond é inverso à taxa de juros, ou seja, quando cai a taxa sobe. Não fosse o fato deste ano se destacar com um dos piores da história nesse quesito, seria uma procura “Onde está Wally?” nesse emaranhado de linhas!



O leitor poderá reclamar que o Mosca tem gastado muito tempo nesse assunto, mas na minha avaliação é o fator mais importante nas decisões dos portfólios.

Decisão dificilíssima, tão difícil como escrever essa palavra corretamente! Grande Microsoft! Hahaha …

No post nem-jurando-por-Deus, fiz os seguintes comentários sobre o SP500: …” Acredito que a alta que se encontra agora em curso deve levar o SP500 a testar o nível psicológico de 4.000. Segundo meus cálculos, isso deveria acontecer ao redor de 4.015 se ultrapassar, vou ter que recalcular. A ideia seria aguardar o término da onda 1 em verde, onde se sucederia uma correção” ... ...” A correção com os parâmetros acima deve acontecer entre 3.940 3.860, região onde provavelmente vou dar uma sugestão de compra. Existe um outro cenário onde a correção poderia se estender até 3.700, mas não é minha opção base” ...



Os leitores poderiam estar se perguntando por que eu ainda não dei a sugestão de compra, se na semana passada o SP500 chegou à mínima de 3.886, dentro dos parâmetros indicados acima. Vocês têm toda razão de me questionar, mas para ir direto ao ponto, preferi mais confirmações e elas ainda não apareceram.

Vou mostrar a seguir as duas possibilidades que temos no momento:

Cenário base: É neste que eu estou trabalhando no momento, e levaria o índice ao redor de 4.200 — apontado abaixo. A onda ii em amarelo pode ter terminado ou não. O que é preciso, numa janela de uma hora, é observar a formação de 5 ondas, o que não ocorreu. Caso alguém quisesse embarcar na compra, o stop loss seria em 3.886. Tenho que ressaltar que, mesmo que você seja estopado, não significa que esse cenário está eliminado, pois como comentei acima, a onda ii pode não ter terminado.



Cenário alternativo – Nesta situação a correção estaria só começando e deveria durar algumas semanas — A, B, C em verde, culminando com uma base ao redor de 3.670/3.588. Só depois é que o movimento de alta ganharia tração. Essa queda seria da magnitude entre 7% e 10%.



 Por essa razão prefiro uma confirmação mais convincente para entrar na bolsa.

- David, se você trabalha com o cenário mais otimista, por que não compra e para de encher nossa cabeça com tantos gráficos? Como a história que você comentou num post sobre os dois sócios de uma corretora: eu só quero saber se é para comprar ou para vender! Hahaha ...

Embora seja meu cenário base, posso mudar repentinamente por conta do movimento do mercado. Além disso, você esqueceu o ponto principal de nossa relação: o compromisso com o bolso — e neste caso, pode ser bom ou ruim. E por último: nunca atue quando estiver em dúvida.

O SP500 fechou a 3.910, com queda de 0,76%; o USDBRL a R$ 5,5214, com alta 0,10 %; o EURUSD a 1,1849, com queda de 0,72%; e o ouro a U$ 1.726, com queda de 0,75%.

Fique ligado!

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