Economia voltando as origens #ibovespa

 

Os leitores sabem que não tenho formação em economia; fiz alguns cursos nesse sentido, mas não estudei de forma profunda. Por outro lado, tenho base sólida em matemática, o que me ajudou muito no início da minha carreira. Naquele momento, eu dizia que a especialidade útil era a economia financeira, não era normal o acompanhamento de indicadores econômicos com exceção da inflação. Os bancos tinham equipes de levantamento de preços que lhes davam vantagens no mercado de juros.

Hoje em dia, para explicar à um jovem do mercado financeiro como se operava com níveis de 50%/60% de inflação é difícil, um detalhe, esses percentuais eram mensais. A grande inteligência era elaborar produtos que se diferenciam da concorrência. Por exemplo, quando eu estava no BFB, lançamos um investimento que foi um estouro. Consistia no seguinte: você aplicava seu dinheiro por 6 meses e multiplica por 10, ou recebia X gramas de ouro, o que for o maior dos dois – X era calculado em função do preço do ouro e do valor aplicado. Um detalhe importante era que naquela época o ouro era usado como hedge do dólar, pois não era permitido comprar e vender a moeda americana livremente.

Mas nos últimos 30 anos o mercado internacional se acostumou a trabalhar com taxas de juros e inflação decrescentes, era só apostar a favor comprando juros ou títulos mesmo em momentos ruins. Mais recentemente, fomos inundados com novas teorias para justificar essa letargia. Me lembro do MMT Modern_Monetary_Theory ou que a inflação deveria ser considerada na média de prazo mais longo, o que iria garantir não subir os juros mesmo que a inflação ficasse acima do objetivo do Fed de 2% a.a. — lógico, não os níveis atuais. Tudo isso acabou, as autoridades monetárias tiraram o pó dos livros de economia e aplicaram o modelo básico de subir os juros para controlar a inflação.

Ontem o mercado levou um choque com a publicação dos dados de inflação, foi um dado ruim, pior ainda porque o mercado esperava ser moleza baixar a inflação rapidamente. John Authers qualifica esse dado na Bloomberg.

Quão ruim foi o relatório de inflação dos EUA de agosto? Um monte. Já fazia tempo que um dado macroeconômico não vinha com uma surpresa tão feia, mas no geral a reação extremamente negativa do mercado aos números foi justificada; eles são horríveis.

A taxa de inflação global caiu muito ligeiramente, como se tornou mais ou menos inevitável com a queda dos preços do petróleo. Mas uma série de medidas de inflação subjacentes realmente aumentou para novas máximas de várias décadas. Isso é muito mais importante para o Federal Reserve, que tem poder limitado para afetar os preços do petróleo, e também para nós.

O gráfico a seguir mostra:

A taxa de inflação “média aparada” do Fed de Cleveland, que exclui os componentes que mais se movimentaram em cada direção e toma a média do restante;

A taxa de inflação “mediana” do Fed de Cleveland, que simplesmente tira a taxa mediana de todos os componentes do índice de preços ao consumidor;

A taxa de inflação de preços “grudentos” do Fed de Atlanta, que rastreia bens e serviços cujos preços não podem ser alterados facilmente;

A clássica medida “núcleo” que exclui alimentos e energia do CPI principal, para omitir categorias sobre as quais a política monetária tem menos controle; e

O indicador Serviços Excluindo Serviços de Energia, que mede a inflação no custo dos serviços.

Todas essas medidas aumentaram. Todos, exceto o núcleo da inflação, que subiu, mas permanece abaixo do pico de março deste ano, estão em novas máximas para este ciclo, e em seu maior nível em décadas. Há um ano, o fato de essas medidas permanecerem amplamente sob controle era um ponto chave de evidência para aqueles que acreditavam que a inflação era transitória. Agora, elas indicam que poderia ser muito mais duradouro:


Em outro triste eco do debate “transitório”, o Bureau of Labor Statistics começou no ano passado a publicar uma medida do CPI excluindo comida, abrigo, energia e carros e caminhões usados. Essa combinação deixou uma cesta de bens que poucas pessoas achariam satisfatórios para todas as suas necessidades, mas teve a virtude de deixar de fora mais ou menos tudo o que parecia ser transitório e que as pessoas queriam excluir. Infelizmente, mesmo essa conveniente medida de inflação atingiu um novo recorde. Não se trata apenas de preços de gasolina ou carros usados, apesar das esperanças do ano passado:

Para uma demonstração final de quão terríveis são os números, aqui está um retrato da inflação segregada entre alimentos, energia e o restante. A queda esperada em energia foi contrabalançada pelo aumento da inflação de serviços, que agora representa uma parcela maior da inflação geral:


Uma surpresa macro desagradável quando o sentimento já era negativo só pode prejudicar. As pessoas estão predispostas a acreditar no pior. Com o sentimento tão ruim, qualquer má notícia tende a ser ampliada. E as perspectivas para o Fed parecem ter se tornado sombrias. Os traders de swaps agora estão precificando totalmente um aumento de 75 pontos-base quando o Fed se reunir em setembro, com uma chance de 50/50 de que eles vão para um aumento “jumbo” de 100 pontos-base:


Depois de todos esses dados negativos, eu seria levado a acreditar que o mercado teria precificado uma queda das taxas de forma lenta e demorada — afinal, não houve nem uma expectativa de a inflação ter atingido um patamar de estabilização, que dirá pensar em queda. Nesse ponto, queria enfatizar a diferença entre o que ocorre aqui no Brasil e nos EUA: enquanto aqui o nível de juros reais é extremamente elevado, lá está muito distante de ser positivo. Mas, pasmem vocês, o mercado americano acredita que as taxas irão cair rapidamente.


De tudo isso, o positivo é que a grande maioria dos bancos centrais está empenhada em combater a inflação – exceção do Japão, que continua acreditando em fantasia mantendo a taxa em 0%. De volta ao livro texto!

No post the-king fiz os seguintes comentários sobre o Ibovespa: ... “o gráfico a seguir com janela de 2 horas expressa minha ideia. Ainda de forma aproximada antevejo os seguintes intervalos 104 mil/ 102 mil. Depois de terminado esse movimento, uma alta é esperada acima de 117 mil” ...



A bolsa continua sem uma definição neste curto prazo; desde a última publicação ameaçou uma alta, porém foi surpreendida pela queda das bolsas internacionais ontem, embora em menor magnitude — o que é raro ocorrer. No gráfico abaixo, contemplo alguns objetivos possíveis nesse movimento de correção que se iniciou onde o intervalo se encontra em 105mil /102 mil.


Gostaria também de compartilhar uma outra possibilidade onde a queda seria menor. No gráfico abaixo, a configuração de um triângulo poderia estar se formando, e nesse caso a queda máxima ocorreria ao redor de 108 mil. Ficam assim abertas as duas possibilidades.


Daqui a um século mais ou menos o mundo vai ficar sem graça, com a população média envelhecendo de forma expressiva, comparativamente ao total da população, o que ocorre por 2 motivos: aumento da expectativa de vida e diminuição do número de crianças por família. Sem graça porque depois de uma certa idade a tendencia de inercia prevalece a novos desafios – sei por experiência própria. Sobre a solvência da previdência nem quero pensar o que isto representa.


O SP500 fechou a 3.946, com alta de 0,34%; o USDBRL a R$ 5,1780, com queda de 0,24%; o EURUSD a € 0,9976, sem variação; e o ouro a U$ 1.695, com queda de 0,35%.

Fique ligado!

Comentários