Sempre existe uma razão (desculpa?) #SP500

 

Podem notar: quando uma previsão não se realiza, a pessoa que fez sempre encontra uma razão (ou desculpa?). O ser humano tem muita dificuldade em assumir erros e, num processo até inconsciente, busca motivos pelos quais o que previu não ocorreu ou, às vezes, mantém se calado e finge que não é com ele.

A melhor das desculpas que ouvi foi quando um trader, ao fazer uma posição viu os preços caírem momentos depois. Qual a razão? “Estava indo tudo bem, mas aí o banco X entrou vendendo como um louco e os preços caíram”. Será que ele esperava que os preços iriam subir pela falta total de vendedores?

Algumas decepções ocorreram nos mercados financeiros nos últimos tempos. Talvez a maior tenha sido o bitcoin, a moeda que iria salvar o mundo dos bancos centrais. Não só não ocorreu, como está perto de níveis perigosos, onde vai inviabilizar o cenário de alta — ainda está distante, mas não muito. A ilustração a seguir dá uma ideia de como seus detentores usam essa cripto moeda.



Outra grande decepção é sua irmã mais velha (bem mais velha!), que tinha tudo para ser uma estrela este ano — e seus preços estão nas mínimas. Já sabem de quem estou falando: o ouro. Um artigo de Hardika Singh no Wall Street Journal fornece os motivos.

Os investidores esperavam que a inflação renitente elevasse os preços do ouro este ano. Em vez disso, aconteceu o contrário.

O contrato de ouro mais negociado está em ritmo de queda por seis meses consecutivos, com uma perda de 14% nesse período até agora. Essa é uma queda significativa para um ativo que deveria ser um paraíso e marca a mais longa sequência de perdas desde setembro de 2018, quando os preços caíram 9,9% em seis meses.

O ouro é valorizado pelos investidores por sua estabilidade habitual em tempos de turbulência. Os preços subiram perto das máximas de todos os tempos no início deste ano, logo após a invasão da Ucrânia pela Rússia derrubar os mercados de ações e commodities. No início de março, o ouro atingiu a máxima de 2022, de US$ 2.069,40 por onça-troy. Agora, caiu 8,2% este ano, em seu pior desempenho anual desde 2015.

As ações estão sendo negociadas mais baixo do que no início de março. A guerra se arrastou e as preocupações com a inflação só se intensificaram. Mas o metal “porto seguro” está preso em uma faixa de negociação de cerca de US$ 1.650 a US$ 1.800 por onça-troy desde junho.

A volatilidade é outro exemplo de como a agressiva campanha de aumento de juros do Federal Reserve está abalando todos os cantos dos mercados financeiros. O relatório da semana passada, com a inflação permanecendo teimosamente alta, praticamente consolidou as expectativas de que os aumentos das taxas de juros continuarão. Espera-se que o Fed anuncie outro grande aumento da taxa quando se reunir amanhã.

Por que isso importa para o ouro? Investidores nervosos que querem ativos seguros e chatos quando o mercado de ações está uma bagunça não favorecem apenas o ouro. Muitos deles também gostam de comprar títulos do Tesouro.

"As perspectivas para o ouro permanecem vulneráveis até que o Fed pare de aumentar as taxas", disse Tai Wong, trader sênior da Heraeus Precious Metals em Nova York.

Os rendimentos do Tesouro tendem a se mover em conjunto com as expectativas dos investidores em relação à taxa de referência do Fed, de modo que os investidores hoje em dia podem obter retornos relativamente grandes em títulos do governo. Na segunda-feira, o rendimento do Tesouro de dois anos atingiu seu nível mais alto desde 2007. Isso - mais o fato de que os títulos do Tesouro, ao contrário do ouro, oferecem pagamentos regulares - empurrou muitos investidores avessos ao risco do ouro para o compra de títulos.

Os analistas do JPMorgan Chase & Co. preveem que os preços do ouro continuarão caindo, com média de US$ 1.650 por onça-troy no quarto trimestre. Isso reflete uma crença crescente de que o Fed não está em posição de tirar o pé dos freio na alta das taxas.

“Não é um interruptor de luz que liga e desliga. É um dimmer”, disse Richard Fisher, ex-presidente do Federal Reserve Bank de Dallas, durante uma palestra organizada pelo CME Group na quarta-feira.

O dólar americano, outro porto seguro, está complicando ainda mais as coisas. Investidores em busca de uma aposta segura também estão abocanhando a moeda norte-americana, aproximando-se das máximas de 20 anos. Isso tornou o ouro mais caro para os compradores estrangeiros, diminuindo sua demanda.

A dor está aparecendo nos mercados de ouro. O SPDR Gold Shares, o maior fundo negociado em bolsa lastreado em ouro físico, caiu mais de 2% em setembro até agora.

Os investidores retiraram dinheiro de fundos mútuos e ETFs focados em metais preciosos por 12 semanas consecutivas, de acordo com dados da Refinitiv Lipper. Essa é a sequência mais longa desde uma série de 13 semanas de saídas que terminou em maio de 2021.

Os preços do ouro estão quase 20% abaixo dos níveis históricos atingidos em agosto de 2020, quando o Covid-19 alimentou a incerteza.

“O ouro não é tão atraente quanto em 2020”, disse Ruth Crowell, executiva-chefe da London Bullion Market Association. O contrato futuro de ouro do primeiro mês perdeu US$ 44,50 por onça-troy, ou 2,6%, para US$ 1.671,70 na semana passada.

Com certeza, o ouro continua sendo uma opção melhor do que as ações, acrescentou Crowell. O S&P 500 caiu 18% este ano.

Muitos investidores esperam que o Fed diminua seu ritmo de aumentos de juros no próximo ano, o que pode reduzir os rendimentos e o dólar, elevando os preços do ouro. Os analistas do JPMorgan esperam que o ouro suba para cerca de US$ 1.820 por onça-troy até o final do próximo ano.

Ah, deixa ver se eu entendi, se os juros sobem o ouro é mau investimento? Sim e não, depende do motivo da alta, se for por causa da atividade econômica estar muito aquecida, sem dúvida o ouro não tem apelo; agora, se for por causa da inflação, não deveria? Afinal, esse é um dos maiores argumentos a favor do metal. No momento atual, o mercado acredita que o Fed não está para brincadeira e vai colocar os juros no nível necessário para controlar a inflação; talvez esse seja o principal argumento da não performance.

Os juros reais estão negativos em quase todo o Universo, talvez a única exceção seja o Brasil. Porém, o mercado acredita piamente que o Fed vai levar a inflação para baixo. Isso fica nítido nos títulos com renda atrelada à inflação, onde o juro real está subindo e parecendo ser um grande inimigo do ouro, segundo o gráfico a seguir.



Posso afirmar com certeza que o preço do ouro vai subir e cair muitas vezes, mas o maior contexto não está explicito nesse artigo, pois está mais parecendo o argumento citado pelo trader no início deste post. O motivo principal é que o ouro é bom hedge contra a inflação desde que o banco central não resolva combatê-la com elevação de juros.

No post risco-ao-quadrado, fiz os seguintes comentários sobre o SP500: ... “Se a queda ganhar tração o objetivo deveria atingir entre 3.566/3.469. Esses níveis deverão ser ajustados conforme evolução” ...


Decidi taticamente encerrar a posição de venda na última sexta-feira. Eu acredito que o cenário mudou? Não, mas em correções as convicções devem ser sempre comedidas. O leitor poderá se perguntar por que não embarcar na venda e deixar as flutuações ocorrerem. O principal motivo é que não acredito que estamos num Bear Market (mercado de baixa) tradicional, e sim numa correção complexa na qual, em algum momento, a alta irá retornar.

Como irei me posicionar daqui em diante? Provavelmente devo entrar com um novo trade de venda, até que o mercado me mostre o contrário. Na teoria que eu uso, Elliot Wave, o movimento direcional tem uma forma clássica de 5 ondas, ou pequenas variações em termos de shape, já as correções podem ter muitas dezenas de combinações, e pior, a retração em relação ao movimento anterior é incerta e custosa caso não caia na mais provável.



No gráfico acima o retângulo em branco é o provável nível onde deveria ocorrer a reversão 3.941 / 3.974. Vamos deixar a ordem em aberto? Não, vou acompanhar no dia a dia, ou melhor, hora a hora. Já o objetivo final observado de hoje deveria ser ao redor de 3.566 / 3.466.

A quantidade de investidores que estão esperando uma recessão nos EUA se encontra em níveis bastante elevado, poderia dizer que é quase um consenso. Essa contatação deve ser observada pelos leitores com cautela em relação à bolsa de valores: se todo mundo acha que a queda vai ocorrer, já não teriam tomado medidas como vender sua carteira?


Talvez aqui valha um esclarecimento. A pesquisa foi feita com profissionais, acredito eu, e como mostra o gráfico abaixo, a venda desse grupos é maciça durante o ano. Por outro lado, os investidores individuais mantêm um fluxo positivo para o ano, agindo na tendência conhecida como buy the dips — comprar na queda — que funcionou no passado. Mas não se pode deixar de considerar que o poder de bala é muito diferente entre esses dois grupos, ou seja, se eles capitularem (investidores individuais), a venda não deve ser da mesma magnitude que a dos profissionais.


O SP500 fechou a 3.855, com queda de 1,13%; o USDBRL a R$ 5,1461 com queda de 0,38%; o EURUSD a € 0,9972, com queda de 0,50%; e o ouro a U$ 1.664 com queda de 0,70%.
Fique ligado!

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