2022: Desafiando a sorte!
Qualquer seleção será fatalmente incompleta. Assim, resolvi simplesmente
escolher um tema e relembrar seus melhores exemplos durante o ano de 2022, e o
tema é a húbris, essa palavra grega que descreve a perda de noção dos
seres humanos que se julgam acima das leis, da ética, das regras ou de qualquer
moderação em suas ações.
Portanto, aqui vão os finalistas de 2022, todos ganhadores do Troféu
do Passo Maior que a Perna, especialmente dedicado ao patrono de todos, o grande
Napoleão Bonaparte (que além do mais tinha perna curta).
8° lugar: David Vélez – Nubank
Tudo bem, a gente até pode dizer que o Nubank foi apenas arrastado pelo
tsunami que varreu o mercado este ano, mas na verdade é um caso típico de
realidade que superou (negativamente) a expectativa. Chegou a valer mais que os
maiores bancos latino-americanos e apostava num crescimento contínuo, tanto em
sua base como em sua lucratividade. Quando Vélez teve a opção entre diminuir
seu ritmo para equilibrar as contas ou reinvestir no aumento dos clientes,
dobrou a aposta no crescimento a todo custo. Resultado: prejuízos consecutivos,
perda da confiança dos investidores e uma estrondosa queda no valor de suas
ações, que perderam quase 70% em relação a sua máxima.
7° lugar: Aiatolá Khamenei – Irã
É difícil ter o poder absoluto num país de quase 90 milhões de pessoas e
não achar que pode fazer o que quer. Mas isso também prejudica uma visão mais
racional da realidade, como no caso da revolta popular contra a polícia de costumes
encarregada de coibir os “abusos” contra o Islã. A morte de Mahsa Amini, uma
jovem de 22 anos, depois de ter sido presa por não cobrir seus cabelos
corretamente, foi a gota d’água num processo de insatisfação contínua dos
iranianos. A grande falha de Khamenei foi não ter reconhecido imediatamente a
extensão da revolta e ter ordenado uma sangrenta repressão, que acabou
agravando a situação e obrigando o governo a seu primeiro recuo desde a tomada
do poder. Centenas, senão milhares de mortos depois, pode ser o início de algo
muito maior.
6° lugar: Cathie Wood – ARK
Cathie Wood já
merece este prêmio faz tempo, mas este ano ela se superou. Mesmo vendo todas as
suas previsões caírem por terra e seus fundos amargarem prejuízos colossais,
ela continua prevendo o Bitcoin a 1 milhão de dólares e tem levado sua
insistência em comprar mais ações na baixa até as raias da loucura. Não dá para
saber se ela vai acertar na sua estratégia — afinal, seu objetivo é o ano de
2030 —, mas uma coisa é certa: ela tem cada vez menos recursos e continua
falando como se fosse uma vencedora. É de se perguntar quem ainda acredita nela
e não sacou o (pouco) que sobrou de seu investimento no ARK, o fundo que Cathie
batizou em homenagem a (olha só) a famosa Arca Perdida. Desta triste situação,
nem o Indiana Jones vai conseguir salvá-la.
5°lugar: Mark
Zuckerberg – Meta
O ano já não ia ser fácil para o fundador do Facebook, com a
concorrência de plataformas como Tik Tok e as perdas na receita de anúncios,
sem falar na incômoda pecha de “velho” já lançada aos quatro ventos pela “nova”
Geração Z. Mas a quantidade de problemas de sua nova “aventura” no metaverso já
passou da conta. No mínimo, Zuckerberg se antecipou de forma exagerada a um
mercado que ainda está longe de gerar resultados que justifiquem sua fé. Seus
maiores problemas hoje são as desavenças entre os colaboradores e a insistência
em ser o primeiro e pagar o custo do pioneirismo sem ter uma visão estratégica
clara. A Meta já perdeu dois terços de seu valor de mercado, e nada impede que
caia mais antes de reencontrar seu rumo.
4°lugar: Xi
Jinping – China
Como seria possível forçar o homem mais poderoso do planeta a reconhecer
sua própria insignificância? Resposta: mande-lhe uma epidemia e faça-o pensar
que ele pode vencê-la apenas dando ordens. Tudo bem, sejamos honestos: ninguém
realmente acreditou nos números absurdos que a China informava ao mundo, mas
por muito tempo não se parou de fazer elogios à capacidade chinesa de controlar
seus cidadãos e, por conseguinte, o próprio avanço do Covid. Mas parece que o
líder chinês acreditou demais em seu próprio poder e resolveu definir para seu país
o objetivo inalcançável de erradicar o vírus, ainda que a um astronômico custo
social. Deu no que deu: a reação foi tamanha que hoje o recuo no confinamento
radical está levando a uma sensível piora nos casos. Impossível quantificar o
prejuízo, mas Xi claramente percebeu seus próprios limites.
3°lugar:
Vladimir Putin – Rússia
O presidente russo só não foi para o primeiro lugar desta lista por dois
motivos: primeiro, porque ainda não ficou claro o balanço dos lucros e perdas
da guerra que ele declarou à Ucrânia; segundo, porque é bem possível que ele
não tivesse a mínima ideia do que iria acontecer e sua decisão tenha sido
motivada mais por ignorância que por ambição desmedida. Mesmo assim, a
insistência numa estratégia que claramente fracassou faz de Putin um dos
melhores exemplos da famosa “marcha da insensatez” tão bem descrita pela
historiadora Barbara Tuchman. Embora o russo não tenha o mesmo poderio de seu
colega chinês, e até por causa disso, a invasão não deixa de ser um estrondoso
erro de um tomador de decisões até então julgado imbatível.
2°lugar:
Elon Musk – Tesla/Twitter
Outro que chegou aos píncaros da riqueza humana, o comprador do Twitter
escolheu um péssimo momento para diversificar suas atividades, quando o mercado
de carros elétricos passa por uma retração sem precedentes e a própria Tesla
devolveu 75% de seu valor máximo, chegando aos níveis pré-pandemia. O caso de
Musk é um dos mais emblemáticos, não só por ter construído sua riqueza através
de seu gênio, mas por seu estilo de gestão personalíssimo. Mas nada justifica
seu desvio de tanta energia (e dinheiro) para a compra do Twitter, algo que só
podemos definir como capricho. A perda monetária de Musk é o de menos. O maior
prejuízo foi o respeito jogado fora.
1°lugar: Sam
Bankman-Fried – FTX
Mesmo golpistas deveriam ter limites. Se esse ex-bilionário e futuro
presidiário tivesse ficado satisfeito em ser apenas um corretor de criptomoedas
que se aproveita de seus clientes, como tantos por aí, teria sido apenas mais
um Madoff da vida e viveria algumas décadas enganando mais gente. Mas não:
preferiu alavancar e acelerar seus desfalques até ultrapassar os níveis mais
absurdos e despencar do alto de seus bilhões da noite para o dia. Pelo menos,
SBF fez um grande favor ao mercado: vai ser difícil alguém acreditar em
dinheiro fácil daqui para frente.
Conclusão: afora esse gostinho de Schadenfreude, palavrinha alemã
intraduzível que significa “a alegria de ver a desgraça alheia”, temos algumas
lições a tirar para o futuro. Uma é não se deixar levar pela sedução dos
ambiciosos que não param de prometer a Lua, o Sol e as estrelas a cada degrau
em sua subida meteórica. O rendimento marginal decrescente é uma realidade
observável em fundos administrados ou em atividades comerciais e industriais,
ou seja: uma hora todos param de crescer, e o sucesso passado muitas vezes
prenuncia uma queda e não uma alta maior. Outra lição é que os principais
responsáveis por uma queda são em geral exatamente os responsáveis pela alta,
ou seja, não há gênio que não erre — e quando erra, o estouro é bem grande.
Finalmente, todos esses casos têm que nos ensinar a controlar nossa própria
cobiça e achar nossa satisfação mesmo em nossos resultados de mortais comuns.
O texto de hoje foi elaborado por meu partner Alberto Dwek.
Em relação aos resultados do Mosca em 2022 foram excepcionais (modéstia à parte! Hahaha ...). O porquê dessa afirmação tão forte? Existiram um total de 16 trades um pouco abaixo da média dos últimos anos, desses, 2 perdas que totalizaram – 2,73% e 10 ganhos totalizando 43,72%, e mais 4 trades no zero a zero. Esses resultados mostram uma postura muito cuidadosa, pois 25% de todas as posições foram liquidadas por stop loss bem curtos.
Obtivemos ganhos em todos os mercados com exceção do Ibovespa que apresentou perda em apenas um trade. O maior destaque foi para as operações em dólar contra o real representando 65% dos ganhos, detalhe, esses resultados foram tanto em trades de compra como de venda, o que reforça o uso da análise técnica.
Já os mercados financeiros não ofereceram oportunidades de ganhos, ao contrário, foi um ano que se caracteriza como muito negativo ficando entre os top 5 piores. Na tabela abaixo com o resultado dos principais mercados que o Mosca acompanha, apenas o Ibovespa e o real foram positivos, o primeiro em função da elevada taxa de juros além da alta nos preços das commodities que justifica o segundo.
Sempre nesse momento fico receoso em imaginar os retornos para o ano seguinte. Sei que existem anos ruins, eles acontecessem, porém o histórico vem demonstrando que agir com cautela e sem viés se mostra proveitoso.
No post do ano passado
o-ano-sem-memoria fiz os seguintes comentários: ...” Para 2022 poderia quase que repetir com um
adendo, os dados técnicos sugerem quedas nos mercados de risco na metade do
ano. Para o Mosca conseguir manter sua performance será um grande
desafio” ... Para
2023 existe um consenso entre os economistas de que os EUA entrarão em
recessão, que se ocorrer, poderá impactar os mercados. Nesse momento, os
mercados se encontram indefinidos com o olhar técnico. Do nosso ponto de vista,
e repetindo o refrão de fim de ano “deixa o mercado nos levar” ..
Não poderia deixar de mencionar que o Mosca ultrapassou a marca
de 600.000 leituras um número de respeito. Só posso agradecer aos leitores pela
confiança e reforçar o empenho de melhor informar e orientar dentro do intrincado
mercado financeiro. Continuamos rumo ao 1.000.000!
Feliz 2023!
Fique ligado
Essa ideia de revolucionar o mercado bancário com framboesa e arco-íris pode ser bonita para o marketing, mas não dá para incorporar esse mundo bonitinho nos negócios do dia a dia. A carteira de clientes desse banco está acostumada a ter tudo de graça e gerar receitas encima dessa base será complicado.
ResponderExcluirIncrível como o Irã sempre decepciona, é tão ruim que até o ex-regime do Xá parece melhor.
Talvez Cathie Wood ao escolher o nome de "arca perdida" queria alertar os cotistas que no final vai "perder a arca de dinheiro".
A Meta sempre foi uma empresa que fez belas aquisições de concorrentes e desenvolveu muita pouca coisa boa dentro de casa. O sistema de buscas de qualquer aplicativo da Meta é umas piores experiências de qualquer pessoa pode ter, tente pesquisar alguma coisa no Facebook e terá um veslumbre dessa experiência medonha. Das grandes corporações me parece a com o modelo de negócio mais arriscado no curto prazo, é preciso de reinventar e abordar novos mercados e produtos rentáveis.
O comentário sobre o Xi foi no ponto.
O Putin parecia ter muita convicção da desunião da Europa quando lançou a invasão na Ucrânia, se meteu em um enorme atoleiro onde é difícil encontrar uma saída honrosa para qualquer um dos lados. De qualquer modo parece que a Ucrânia vai se transformando em uma nova e longa guerra no "melhor" estilo do Afeganistão.
Musk não sabe o que fazer com o Twitter. Mas finalmente é bom ver um fracasso no currículo desse homem, uma dose de humildade não fará mal para ele.
O sucesso rápido que a economia moderna e digital tem proporcionado para muitas pessoas tem o efeito colateral de gerar egos infladíssimos e a ilusão de serem como "escolhidos por Deus", o senhor SBF é o clássico exemplo disso.
Excelente post.
Abraços,
Pi
Muito bom!!!
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