O Dólar não está marcando gols #S&P500
O dólar atravessa uma fase turbulenta, tal como um craque do futebol que, mesmo com talento inegável, enfrenta vaias por um jejum de gols. No mercado financeiro, a moeda americana, pilar do sistema global, oscila sob pressões que misturam retórica política, estratégias corporativas arriscadas e a busca por alternativas no tabuleiro geopolítico. O presidente Donald Trump, com sua visão mercantilista, tem contribuído para essa instabilidade, defendendo uma moeda mais fraca para baratear exportações. Contudo, como o Mosca já alertou, essa estratégia carrega um risco de imagem que pode desvalorizar o dólar pelos motivos errados, abalando sua credibilidade global.
A narrativa de fragilidade do dólar é amplificada por
figuras como Michael Saylor, que transformou sua empresa, a Strategy, em um
armazém de bitcoin. Conforme artigo do Wall Street Journal, cerca de 60
empresas sem laços prévios com criptomoedas adotaram a “estratégia de
tesouraria em bitcoin”, comprando ativos digitais para inflar o preço de suas
ações. Esse modismo, porém, é uma faca de dois gumes. A volatilidade das
criptomoedas pode amplificar quedas bruscas, especialmente para empresas que
tomam empréstimos pesados para financiar essas apostas. O Mosca já destrinchou
a estrutura financeira de Saylor, que, embora bem-sucedida até agora, parece um
castelo de cartas à espera de um vendaval. A única chance de êxito duradouro
para essa estratégia seria o colapso da confiança no dólar – um cenário que,
ironicamente, depende mais de erros políticos internos do que de fundamentos
econômicos.
O gráfico mostra que o indicador Sahm Rule, que prevê
recessões com base no aumento do desemprego, não sinaliza crise iminente nos
EUA, sugerindo que a economia americana ainda sustenta a força do dólar, apesar
das narrativas pessimistas.
John Authers, em sua análise, reforça que o dólar, embora
sob pressão, mantém sua posição como moeda de reserva global por falta de
concorrentes viáveis. Ele lista condições essenciais para uma moeda global:
conversibilidade, déficit em conta corrente, mercados de ativos líquidos,
sistemas de pagamento seguros e instituições confiáveis. O dólar atende a quase
todos, exceto na crescente erosão de normas globais e consistência
institucional, onde os EUA têm fraquejado. O euro, sugerido por Paul J. Davies como
alternativa, enfrenta barreiras estruturais. A ausência de uma nação unificada
por trás da moeda e as disparidades econômicas entre os países da zona do euro
limitam seu potencial. Como o Mosca já apontou, o modelo “one size fits all” do
euro é uma camisa de força para nações com necessidades díspares, dificultando
sua ascensão como rival do dólar.
O gráfico mostra que a participação do euro no crédito
internacional fora da zona do euro é de cerca de 20%, contra 55% do dólar em
faturamento comercial, evidenciando a distância entre as duas moedas.
A fraqueza percebida do dólar, no entanto, não é apenas uma
questão de fundamentos econômicos, embora Robin Brooks observa que o dólar caiu
apenas 4% contra moedas de economias avançadas desde a eleição de Trump, um
movimento que não é “cataclísmico”. Brooks sugere que o debate atual oscila
entre uma desvalorização cíclica, devido a uma reavaliação da
“excepcionalidade” americana, e temores mais graves de perda de independência
do Federal Reserve, o que alteraria fundamentalmente a dinâmica do dólar.
A retórica de Trump e
o apoio explícito a criptomoedas, conforme reportado no Wall Street Journal,
alimentam a narrativa de descrédito. A Trump Media and Technology Group, por
exemplo, anunciou planos de levantar US$ 2,5 bilhões para comprar bitcoin,
enquanto a World Liberty Financial, ligada à família Trump, planeja adquirir
posições em memecoins. Essas ações, somadas à especulação de empresas
como K Wave Media e SolarBank, criam um frenesi especulativo que pode inflar
bolhas, mas também expor o mercado a vendas devastadoras.
A análise de Authers sugere que, apesar da força histórica
do dólar, sua trajetória atual é de declínio gradual. O índice de câmbio
efetivo real do Federal Reserve mostra a moeda em níveis elevados, comparáveis
aos picos de 1971 e 1985, sugerindo que uma correção pode estar a caminho. O
gráfico ilustra o índice de câmbio efetivo real do dólar, indicando que sua
força atual é anômala e pode preceder uma desvalorização, como ocorreu em
ciclos passados.
A falta de diferenciais de juros significativos entre os EUA
e a Europa, como destacado no gráfico “Back Where We Started”, reforça que a
recente queda do dólar não é apenas econômica, mas também psicológica,
impulsionada por incertezas políticas.
O euro, por sua vez, enfrenta desafios para se tornar uma
alternativa crível. Davies argumenta que a moeda pode ganhar espaço em
faturamento comercial e financiamento, mas a falta de um mercado de capitais
profundo e de ativos seguros, como os Treasuries americanos, é um obstáculo. A
necessidade de mobilizar poupança europeia para investimentos em defesa e
infraestrutura, como sugerido por Mario Draghi, poderia fortalecer o euro, mas
é um processo lento. Além disso, a confiança em tempos de crise depende de
linhas de liquidez robustas, algo que o Banco Central Europeu ainda não testou
plenamente, ao contrário da longa história do Federal Reserve.
O Mosca sempre defendeu que moedas são reflexos de confiança
e poder. O dólar, mesmo em sua fase “ruim”, mantém uma vantagem estrutural, mas
a combinação de retórica política errática, especulação em criptomoedas e a
lenta ascensão de alternativas como o euro cria um cenário de vulnerabilidade.
A analogia com o futebol persiste: o técnico – no caso, o governo americano –
precisa decidir se mantém o jogador estrela no time, mesmo sob pressão, ou se
arrisca uma substituição que pode desestabilizar o jogo. Por ora, o dólar segue
titular, mas o banco de reservas começa a se agitar.
Análise Técnica
No post “a-teimosia-que-custa-caro” fiz os seguintes
comentários sobre o S&P500: “nos últimos dias, a retração da bolsa foi
bastante limitada, o que me leva a crer que essa alternativa parece mais
plausível, sem, contudo, descartar a contagem anterior. Nesse cenário, vou
sugerir um trade de compra a 5.930 e stop loss a 5.860. O objetivo estaria em
torno de 6.500 pontos”
Como uma tartaruga, a bolsa caminhou lentamente. Confesso
que fiquei impressionado com a contagem das ondas e comentei: “Algo inédito
ocorreu nesta contagem. As medidas das ondas (v) laranja e (5) vermelha
apontam praticamente para o mesmo nível, como destaquei no retângulo.”
Isso, no entanto, é um sinal de alerta, pois pode levar à crença de que o
movimento é infalível. Contudo, tenho observado analistas que projetam alvos
mais modestos, como o destacado no retângulo laranja, por volta de 6.200.
Trata-se de uma onda final 3 laranja de maior grau, e todo cuidado é
pouco. Por isso, o dedo está no gatilho. Espero não disparar antes da hora – o
que seria menos grave – nem depois!
Estou de olho também no Ibovespa, que acabou retraindo ao
patamar que eu havia observado. O índice abriu bem pela manhã, mas devolveu
parte dos ganhos. Ainda não identifiquei um padrão de cinco ondas (apenas no
gráfico de 15 minutos), então, por enquanto, nada de compras.
O S&P 500 fechou a 6.038, com alta de 0,55%; o USDBRL a
R$ 5,5709, com alta de 0,22%; o EURUSD a € 1,1426, sem variação; e o ouro a U$
3.326, sem variação.
Fique ligado!
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