China: sobrevivente da guerra tarifária
A guerra comercial imposta pelos Estados Unidos
sobre seus parceiros não produziu o mesmo impacto em todos. Alguns cederam
rápido, outros souberam negociar. Mas nenhum caso é tão emblemático quanto o da
China. A maior potência emergente do planeta enfrenta a pressão econômica de
Washington sem abrir mão de seu objetivo central: tornar-se a número 1.
Essa ambição, como é próprio de regimes
autoritários, não se mede por ciclos políticos curtos. Enquanto presidentes
americanos vêm e vão a cada quatro anos, o Partido Comunista Chinês segue
firme, controlando com mão de ferro os rumos do país. E mesmo quando a maré
vira — como parece ser o caso com a suavização recente da retórica de Trump — a
China continua operando sob uma lógica estratégica de longo prazo, que combina
crescimento econômico, poder geopolítico e planejamento central rigoroso.
O país prepara agora seu próximo grande passo:
a elaboração do 15º Plano Quinquenal, referente ao período 2026–2031. O
documento será debatido no aguardado quarto plenum do Comitê Central do Partido
Comunista, previsto para outubro. Como revelou a agência Xinhua, Xi Jinping tem
papel central na redação desse plano, que buscará atualizar a estratégia
"Made in China 2025", agora com foco explícito em tecnologias de
ponta.
[INSERIR GRÁFICO: "Xi Signals China May Finally Tackle
Deflationary Price Wars" ou "Anti-involution Campaign Timeline",
se disponível.]
A promessa é atacar o cerne do problema:
práticas predatórias entre empresas e políticas locais que alimentam bolhas
setoriais. Isso inclui limitar incentivos de governos regionais a indústrias
duplicadas, como veículos elétricos e inteligência artificial, e reequilibrar o
papel do consumo no crescimento.
O impacto da guerra tarifária também obrigou
Pequim a buscar novos destinos para seus produtos. Diante da retaliação
ocidental e do enfraquecimento da demanda tradicional, a China vem
redirecionando suas exportações para mercados periféricos. Países como Hungria,
Albânia, Bulgária e até mesmo o Paraguai passaram a receber volumes
significativamente maiores de produtos chineses, conforme ilustra o gráfico a
seguir.
Essa tentativa de reposicionamento ocorre em um
momento curioso dos mercados chineses. Enquanto a renda fixa sofre com saídas
de capital, as bolsas locais disparam. O índice CSI 300 subiu 5,5% em julho,
superando o S&P 500 e o MSCI Ásia-Pacífico.
Essa inversão, rara no padrão chinês, revela um
otimismo pontual com a capacidade de Pequim em manter o crescimento — mas
carrega riscos. O rendimento dos títulos de 10 anos subiu para 1,75% em julho,
e o mercado já começa a especular se o ciclo de corte de juros não está se
esgotando. A estabilidade dos bônus se tornou uma variável política. Tanto que
o PBoC foi forçado a intervir recentemente, injetando liquidez para conter a
sangria.
Ao mesmo tempo, o Politburo reiterou sua
intenção de manter políticas macroeconômicas robustas e até reforçá-las se
necessário. O foco está em ampliar o uso de títulos públicos para financiar
estímulos e reduzir o custo do crédito. Não por acaso, novas rodadas de
subsídios ao consumo e à natalidade já estão na mesa. Trata-se de uma tentativa
clara de manter a atividade econômica em torno da meta oficial de 5%.
Com isso, a China vai desenhando uma resposta
estratégica à pressão externa. O acordo temporário firmado com os EUA, que
suspende tarifas por 90 dias, oferece um respiro. Mas ninguém em Pequim parece
disposto a ceder estruturalmente. As reformas seguem seu cronograma próprio, e
o planejamento estatal se fortalece como resposta às críticas sobre excesso de
intervenção.
O curioso é que, apesar do viés controlador, o
regime chinês vem demonstrando notável capacidade de adaptação tática. Sem
jamais admitir erro, corrige desequilíbrios via controle de liquidez,
calibragem fiscal e intervenções seletivas. Nada indica uma guinada
liberalizante — mas tampouco se vê paralisia.
Essa flexibilidade operacional talvez seja o
que mais incomoda os formuladores de política nos Estados Unidos. Afinal,
trata-se de um regime que se nega a colapsar mesmo diante da pressão máxima.
O *Mosca* observa com atenção esse novo ciclo.
Se a China conseguir mesmo consolidar seu modelo híbrido — autoritário na
política, capitalista na prática — o Ocidente terá que reescrever seus manuais.
O jogo mudou.
E ninguém está mais ciente disso do que os
próprios chineses.
Análise Técnica
No post “juros-altos-matam-no-tempo” fiz os
seguintes comentários sobre o IBOVESPA: “A imagem mostra, de forma nua e
crua, o que venho repetindo incansavelmente: o IBOVESPA é um gráfico sem ondas
impulsivas. Mesmo para quem não domina a teoria de Elliott Wave, é evidente que
desde 2022 os movimentos de alta ocorrem sempre em estruturas de três passos”
...” A dúvida agora é: será que a bolsa vai dar um belisco na reta, como
destaquei acima? Esse ponto corresponderia a aproximadamente 125,5 mil pontos”.
Vamos voltar para o gráfico em janela menor de
2 horas. Focando na região demarcada pelo retângulo laranja, podemos observar
um movimento de 5 ondas dentro da elipse; em seguida, uma pequena queda que
pode ser o início da onda 3 — que é a mais imponente da sequência. Para isso se
confirmar, o bolsa não pode ultrapassar 135,7 mil e necessariamente romper
131,5 mil; tudo isso deve ser resolvido nesta semana.
Se ultrapassar a marca acima, vou estudar uma
nova estratégia, mas por enquanto trabalho com novas quedas. Tudo depende do
que acontecer nesta semana na negociação com os EUA e, embora o pessoal tenha
ficado animado com a declaração que alguns itens podem ter sua alíquota reduzida,
imagino a choradeira de quem não for agraciado caso isso ocorra.
O S&P 500 fechou a 6.362, com queda de 0,12%; o USDBRL a R$ 5,5829, com alta de 0,14%%; o EURUSD a € 1,1425, com queda de 1,05%; e o ouro a U$ 3.271, com queda de 1,63%.
Fique ligado!
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