Empurrando com a barriga #EURUSD
Jerome Powell parece ter se especializado na arte de administrar o tempo — não para resolver um problema, mas para adiar sua solução. O status quo da taxa de juros foi mantido na última reunião do FOMC, apesar das crescentes pressões vindas da Casa Branca e da dissidência inédita de dois governadores indicados por Trump. Ainda assim, o presidente do Fed optou por empurrar com a barriga a decisão sobre um possível corte em setembro, preferindo manter todas as opções em aberto.
A metáfora é
apropriada. Powell sabe que agir cedo demais pode ser tão perigoso quanto agir
tarde demais. Como ele próprio declarou: “Se você se move muito cedo, talvez
não consiga resolver a inflação por completo e terá que subir os juros
novamente. Isso é ineficiente”. Ou seja, mais vale esperar e observar, mesmo
que isso contrarie os desejos de Trump e de seus aliados no Comitê.
Os dados econômicos
divulgados no mesmo dia da decisão ajudam a entender a hesitação. O PIB dos EUA
cresceu 3% no segundo trimestre — acima das expectativas — revertendo a queda
de 0,5% registrada no primeiro trimestre. Mas esse número inflado esconde distorções
importantes: praticamente todo o crescimento veio de uma queda abrupta nas
importações, resultado do front-loading promovido por empresas que
correram para estocar antes da nova rodada de tarifas.
Gráfico: Crescimento
do PIB dos EUA por trimestre/ano
Essa dinâmica
explicaria por que o consumo doméstico cresceu modestamente, enquanto o
investimento empresarial segue enfraquecido. As vendas finais para compradores
privados — uma métrica mais estável da demanda interna — subiram apenas 1,2%,
seu nível mais fraco desde 2022. Ou seja, o crescimento não está sendo
sustentado pela robustez da economia, mas sim por movimentos defensivos frente
ao ambiente de incerteza.
E incerteza é o que
não falta. As tarifas impostas pela administração Trump, agora formalizadas em
acordos com Japão e União Europeia, criaram uma zona cinzenta de difícil
previsão para empresas, consumidores e formuladores de política monetária. A
inflação de junho surpreendeu positivamente ao se manter abaixo das
expectativas, mas os aumentos de preços em categorias sensíveis às tarifas —
como brinquedos, roupas e eletrônicos — começaram a aparecer. Em outras
palavras: o efeito ainda está no forno, mas o cheiro já começou a subir.
Enquanto isso, o
mercado de trabalho segue sólido, embora haja sinais de fragilidade nos setores
privados. A taxa de desemprego caiu para 4,1%, mas parte disso se deve à
redução na oferta de mão de obra, consequência direta da política
anti-imigração. Alguns membros do Fed, como Waller e Bowman — ambos dissidentes
na reunião —, enxergam esses sinais como justificativa para cortar os juros
desde já. Mas Powell continua firme na postura de que ainda não há evidências
suficientes para esse passo.
No fundo, o que o
mercado esperava era um aceno mais claro em relação à reunião de setembro. Um
“sim, mas não agora” teria sido suficiente para animar os investidores. Em vez
disso, receberam um “veremos”. Como resultado, o dólar subiu, os juros futuros recuaram
e o S&P 500 caiu — uma combinação que revela frustração e cautela.
No entanto, logo após
o fechamento do pregão, o mercado recuou do tom de cautela: os resultados
surpreendentes da Microsoft e da Meta desencadearam uma forte reação no
aftermarket. As ações da Microsoft subiram mais de 8% após o fechamento,
impulsionadas pela performance robusta do Azure e pela previsão de investimento
de US$ 30 bilhões, aproximando-se de uma capitalização de mercado de US$ 4
trilhões. A Meta disparou entre 11% e 12%, após superar estimativas de lucro e
projetar receitas do terceiro trimestre acima do consenso graças ao forte
crescimento advindo de seus investimentos em IA. Em consequência, os contratos
futuros do S&P 500 e Nasdaq avançaram perto de 1%, revertendo parcialmente
a queda vista anteriormente, e oferecendo um alívio momentâneo à indisposição
provocada pelo Fed.
A dúvida que paira no
ar é: o Fed está certo em esperar, ou está apenas postergando o inevitável? O
risco de errar na mão continua elevado. Se a inflação ressurgir, qualquer corte
será visto como erro histórico. Se a economia desacelerar com mais força, manter
os juros altos será interpretado como insensatez. E, como alertou Powell, o
tempo não resolve tudo — apenas cobra juros compostos sobre decisões mal
tomadas.
Enquanto isso, o
presidente dos EUA continua em campanha contra o Fed, tentando forçar a queda
dos juros a qualquer custo. Seus assessores acusam o banco central de
incoerência, lembrando que no final do ano passado houve cortes mesmo com
inflação elevada. Mas o cenário era outro: os riscos geopolíticos estavam em
alta, e a economia dava sinais mais consistentes de desaceleração. Agora, a
dúvida substituiu a urgência.
O que parece estar se
cristalizando é um impasse dentro do próprio Comitê. Com dois votos dissidentes
— algo que não ocorria desde 1993 — e projeções divergentes entre os membros, o
Fed entra numa fase onde o consenso será cada vez mais raro. Como escreveu o
Wall Street Journal, tudo dependerá se os próximos dados quebram decisivamente
em uma direção. Mas, se a atual “mornidão” persistir, Powell continuará — com
eficiência, segundo ele — jogando parado.
É curioso que num
ambiente tão cheio de variáveis, o mais previsível tenha sido o imprevisível:
Powell optando por não optar. Um movimento de espera travestido de prudência.
Um cálculo político, mas também técnico. Uma resposta que diz tudo e nada ao
mesmo tempo.
Enquanto isso, o
mercado continuará à espera de um sinal claro. Mas o Mosca já entendeu: o sinal
mais claro de todos é a hesitação. Por outro lado, os resultados das empresas
continuam a surpreender para cima empurrando os índices de bolsas para novas
máximas quase diariamente. Será que o nível de juros não está adequado?
Análise Técnica
No critério usual de alternância entre euro e
ouro, hoje seria o dia do metal, mas como ainda não há definição técnica clara
para o ouro e o euro sofreu uma queda expressiva, optou-se por analisar a moeda
única.
No post *o-dólar-vai-virar-pó*, destaquei: “A
moeda única ainda não deu indicação clara de que a onda C laranja está em
curso. Por outro lado, a recuperação destacada no retângulo ainda parece uma
correção. Para que o euro continue subindo, é necessário ultrapassar o nível de
€ 1,1835; no caso inverso, um rompimento do nível de € 1,1555 pode indicar que
a onda C está em curso.”
Desde o anúncio do acordo tarifário com a União Europeia, o euro sofreu uma queda abrupta, sem dar trégua aos que apostavam na derrocada do dólar. Como vinha alertando, a posição vendida em dólar havia atingido níveis extremos e estava madura para uma reversão.
Robin Brooks argumenta que o euro está
vulnerável diante da recente força do dólar, destacando que o otimismo em
relação à moeda europeia se tornou excessivo e sem respaldo nos fundamentos. As
apostas em cortes agressivos pelo Fed eram exageradas, enquanto a economia
americana mostrava resiliência e os fluxos para ativos norte-americanos
atingiam recordes históricos. Com o arrefecimento das tensões comerciais e a
retomada do discurso do “excepcionalismo americano” , o euro foi abatido por
uma forte correção técnica causada por um short squeeze no dólar.
Diante desse cenário, começo a trabalhar com a
hipótese de queda mais acentuada do euro, com possibilidade de atingir a
paridade ou até níveis próximos de € 0,90. Iniciei posição vendida no
rompimento de € 1,1555, conforme sugerido anteriormente, com *stop loss* no
ponto de entrada e objetivo inicial da onda (1) vermelha em € 1,12.
- David, dá para ganhar uma boa nota, vou
vender e nem olhar mais por um tempo!
Cuidado, amigo. O euro está inserido em
estruturas corretivas de diferentes graus e nenhuma onda direcional clara foi
registrada no gráfico. Por ora, mantenha o objetivo já traçado e, caso
atingido, reavaliamos os próximos passos.
Uma última observação: o dólar segue em
valorização frente a praticamente todas as moedas. Será que o real vai
resistir? O Mosca acha que não!
O S&P 500 fechou a 6.344, com queda de
0,27%; o USDBRL a R$ 5,5969, com alta de 0,47%; o EURUSD a € 1,1427, com alta
de 0,20%; e o ouro a U$ 3.293, com alta de 0,57%.
Fique ligado!
Comentários
Postar um comentário