O que está barato vai subir?

 


Vou comentar um artigo publicado pela Gavekal por Wiil Denyer, sugerindo uma alteração na carteira dos investidores.

Com os resultados atuais, uma das preocupações apontadas abaixo diminuiu. Mas as outras duas continuam pesando sobre a moeda americana.

Enquanto isso, o mercado de ações dos EUA parece extremamente caro em comparação com os mercados de ações em outros lugares. Juntos, esses fatores favorecem posições em mercados de ações não americanos selecionados.

Antes da eleição, o dólar americano enfrentou três riscos principais:

1) Uma vitória de Joe Biden sobre Donald Trump. Os aumentos tarifários de Trump foram positivo para o dólar americano. Quando as tarifas aumentam, a teoria econômica indica que a moeda do importador deve se ajustar para cima para compensar o aumento de custo, reequilibrando os termos de comércio. Por outro lado, as reduções tarifárias implicam na desvalorização da moeda local. Uma vez instalado na Casa Branca, Biden pode não cortar rapidamente as tarifas elevadas pelo seu predecessor. A rivalidade EUA-China vai continuar, e é provável que Biden busque concessões de Pequim em troca de reduções tarifárias. No entanto, em comparação com Trump, é menos provável que Biden aumente as tarifas e mais provável que as corte - especialmente para aliados dos EUA. E ele pode fazer isso sem aprovação do Congresso — esse risco negativo para o dólar, portanto, permanece alto.

2) Um domínio dos democratas nas duas casas. Se os democratas garantissem maioria tanto na Câmara de Deputados como no Senado, a probabilidade de aumentos de impostos corporativos seria elevada. Assim como os custos de importação menores pelos cortes tarifários seriam negativos para o dólar, os maiores custos de produção doméstica pelos aumentos de impostos também desvalorizariam o dólar. Ainda há uma chance de que os democratas assumam o controle do Senado, se vencerem as duas votações do segundo turno na Geórgia em 5 de janeiro. Mas como as coisas estão hoje, isso parece improvável, o que diminui o risco de que aumentos de impostos causem depreciação do dólar, embora esse risco não tenha desaparecido por completo.

3) A cara avaliação do dólar americano. Como ilustra o gráfico abaixo à esquerda, a taxa de câmbio real do dólar dos EUA está bem acima de sua média móvel de 20 anos. Por outro lado, as taxas de câmbio reais de vários dos maiores parceiros comerciais e concorrentes dos EUA estão bem abaixo de suas médias de longo prazo. Isso indica que o dólar dos EUA continua caro, e que os EUA estão relativamente não competitivos. Uma taxa de câmbio não competitiva dos EUA indica que o crescimento no resto do mundo deve ser bom em relação aos EUA, enquanto a elevada valorização do dólar americano pode encorajar o fluxo de capital para outras moedas.

Em suma, então, o equilíbrio dessas forças continua apontando para a depreciação do dólar americano. Além disso, embora as ações dos EUA pareçam razoavelmente valorizadas em relação aos títulos dos EUA, elas agora parecem extremamente caras em relação às ações em mercados fora dos EUA. 

O gráfico acima à direita mostra as relações de preço / lucro futuras para diferentes mercados em relação ao mundo MSCI, em comparação com a mediana de 20 anos para cada série. Projeções de P/Es, com base nas estimativas de lucros dos analistas nos próximos 12 meses, estão longe de serem perfeitas. No entanto, elas levam em consideração mudanças esperadas na inflação, crescimento e taxas de impostos para cada país, e, portanto, fornecem a melhor medida disponível para comparar os rendimentos reais esperados em investimentos de capital em diferentes mercados. Como indica o gráfico, as avaliações agora sugerem retornos esperados das ações dos EUA bem inferiores aos de outros mercados importantes. Na margem, isso aponta para a probabilidade de os fluxos de capital de ações saírem dos EUA para mercados de ações fora dos EUA.

Com o dólar americano apontando para a depreciação e as ações dos EUA parecendo caras em comparação global, há fortes argumentos para que os investidores considerem posições nas moedas locais, em mercados fora dos EUA que oferecem moedas subvalorizadas e ações subvalorizadas - notadamente a zona do euro, Japão, Reino Unido e Canadá.

Tenho um respeito enorme em relação à Gavekal — na minha avaliação são The best! Mas também me reservo o direito de não concordar. Em relação à avaliação das moedas segundo algum modelo de cálculo, nunca vi isso funcionar. É verdade que, de tempos em tempos (10 anos ou mais), o cambio real se iguala ao modelo, e em seguida se movimenta para ficar sobrevalorizado ou subvalorizado, segundo esse critério.

Qual a explicação para tamanha dispersão? Na modesta opinião do Mosca, o que determina a cotação da moeda é o fluxo, e esse fluxo tem diversos componentes:

- Primeiro, e mais importante, o estoque de moedas detidos pelos bancos centrais, que nos últimos anos tem ganhado dimensões muito distintas do passado. Esses mastodontes movimentam seu estoque baseado em critérios de Asset Allocation. Sendo assim, se o euro se valoriza em relação ao dólar colocando essa participação acima do desejado, tendo a vender euro e comprar dólar, sem me preocupar se o dólar está barato ou caro segundo os modelos.

- Diferencial de juros: se uma moeda tem juros sensivelmente superiores a outra moeda, investidores tendem a comprar a primeira e vender a segunda, a fim de capturar esse diferencial. É verdade que ultimamente esse argumento perdeu atratividade, mas existe algum fluxo nesse sentido. Dificilmente esse investidor leva em consideração o modelo do câmbio em sua avaliação.

- Balança comercial: talvez esse seja o mercado onde o modelo pode ter algum efeito, porém ninguém vai deixar de importar ou exportar porque a moeda base está cara ou barata segundo o modelo. O importador ou exportador vai ter que fazer o ajuste segundo a sua necessidade, alterando os preços para ficar competitivo internacionalmente.

Conclusão do Mosca: o dólar vai subir ou cair pela percepção dos investidores em relação à política monetária e fiscal americana e seus impactos, mas não pelo modelo.

Em relação à bolsa de valores, o que está caro nos EUA são as empresas de tecnologia, como está sendo amplamente divulgado. As outras ações não divergem muito dos seus pares internacionais. Acontece que a maioria das empresas do setor Tech tem suas ações negociadas na bolsa americana, enquanto nos outros países essa parcela é bem menor. Sendo assim, não acredito que essa afirmação se pode fazer sem essa segregação.

De uma forma pragmática, o fato de estar barato não significa que uma enxurrada de recursos vai tornar essas ações caras — é preciso ter uma razão logica para tanto. Minha experiência me mostrou que, na grande maioria das vezes, as ações baratas ficam mais baratas.

Registrada a “baratice”, sugiro que continuemos com o acompanhamento técnico ao invés de usar os fundamentos.

No post pressao-monetaria, fiz os seguintes comentários sobre o ouro: ...” O objetivo para o próximo movimento de alta é entre U$ 2.250/U$ 2.300, sendo assim, estou propondo um trade de compra nos níveis atuais U$ 1.950, com stoploss a U$ 1.900” ...


Essa posição não durou 24 horas, fomos estopados na onda da vacina da Pfizer. O que ocorreu de errado? Para resumir a questão, o motivo foi que a correção ainda não havia terminado, e por conta de alguns indicadores indicava que isso poderia ter acontecido.

Veja a utilidade do stop loss. Se a decisão fosse tomada por outro critério, as indicações de que o ouro ainda deve subir permanecem, mesmo enfraquecido pela tese de que a vacina levaria a economia a normalidade e como consequência o juro teria que subir. Mesmo nessa condição extrema, muita coisa tem que acontecer. Nesse momento estaríamos na torcida para que suba.

Já no caso da análise técnica, o stop loss garantiu que a premissa não se concretizou. Sendo assim, o melhor é voltar à estaca zero.

Muito bem, o que devemos esperar daqui em diante? Essa queda abrupta indica que o ouro está numa correção complexa e que ainda poderão ocorrer quedas antes que o movimento de alta ganhe tração.

 No gráfico a seguir os seguintes intervalos são plausíveis de reversão: {U$ 1.820/U$ 1.807}; se rompido U$ 1.752; em seguida {U$ 1.676/ U$ 1.660/U$ 1.631}.


Continuando com o raciocínio do stop loss, e considerando esses intervalos e o nível de entrada, as perdas totais poderiam ser: U$ 140; U$ 200; ou U$ 250, contra uma perda realizada de U$ 50. Além do mais, e se o ouro mudou de direção e minha tese de alta tiver que ser eliminada?

Na análise técnica você faz uma suposição e coloca seu trade. Se não deu certo, é altamente recomendável que você saia da posição para refazer suas ideias. Nunca se deve ficar torcendo para o mercado voltar, e nunca use o seguinte argumento enganoso “e se eu sair e o mercado subir?” Minha resposta: qual é o problema? Desde que as condições técnicas e de risco-retorno sejam satisfatórias, entre de novo!

O SP500 fechou a 3.537, com queda de 1,00%; o USDBRL a R$ 5,4581, com alta de 1,24%; o EURUSD a 1,1804, com alta de 0,23%; e o ouro a U$ 1.876, sem variação.

Fique ligado!

Comentários

  1. Concordo com sua opinião. O que a China está fazendo com o Jack Ma e a IPO do Ant Group, mostra porque eles nunca serão tão atrativos para investimentos financeiros quanto os EUA. Se tivesse que apostar em algum pais, em ativos financeiros, seria nos EUA e não no Brasil ou demais emergentes.

    ResponderExcluir

Postar um comentário