O medo predomina #usdbrl
Não adiantam
argumentos quando a emoção está envolvida; é ela que dita nossas ações em
momentos de euforia ou medo. Podem notar que, na maioria das vezes em que tomamos
alguma decisão nessas condições, quando estas cessam percebemos que nossa
decisão provavelmente seria diferente. Muito pior: quando uma perda financeira
está envolvida, esta tem impacto duas vezes superior ao ganho. Um bom exemplo
de situação extrema está numa história do escritor Stephen King, de quem sou fã
desde seu primeiro livro.
Um dos
melhores filmes baseados em suas obras é sem dúvida “Um Sonho de Liberdade”, em
que um banqueiro é injustamente condenado à prisão perpétua. No conto de King,
lá pelas tantas, o pobre ex-banqueiro explica a seu melhor amigo o motivo de
uma de suas decisões mais cruciais (não vou dar spoiler, assistam ao filme). “Só
tem na verdade dois tipos de pessoa quando o problema fica sério. Digamos que o
dono de uma casa cheia de obras de arte bem caras ficasse sabendo de um baita
furacão indo bem na direção da casa dele. Um desses dois tipos simplesmente
espera pelo melhor. O furacão vai desviar, nenhum furacão ousaria destruir
minhas riquezas. E mais: Deus não deixaria, e no pior dos casos eu tenho
seguro. Esse é um tipo. O outro simplesmente supõe que o furacão vai entrar
direto na casa dele. Se o pessoal da meteorologia falar que o furacão mudou de
caminho, ele vai achar que vai mudar de novo só para acertar a casa dele. Esse
segundo tipo sabe que não tem mal nenhum em esperar pelo melhor contanto que
você esteja preparado para o pior.”
Essa passagem
me veio à lembrança assim que eu li o artigo de Ben Carlson no site A Wealth
of Good Sense, em que ele fala da tendência em acreditar no pior,
justamente quando as coisas vão mal. O interessante é que sua conclusão não
deixa de ser otimista.
Um leitor
pergunta:
Você tem
cara de ser uma pessoa relativamente otimista quando se trata dos mercados. Você
pode nos dar seu cenário mais pessimista para o mercado de ações agora? Estou
preocupado que o pior ainda esteja por vir.
Esta é uma
avaliação justa.
Eu sou uma
pessoa do tipo copo-meio-cheio por caráter.
Não posso
provar isso, mas acho que otimismo ou pessimismo é algo com o qual você nasce. Eu
por acaso nasci uma pessoa mais otimista, que vê principalmente o lado bom das
coisas. (Só tenho pessimismo permanente em relação ao meu time de coração e às
barbeiragens dos outros motoristas.)
Mas quando se
trata de investir, você também precisa equilibrar otimismo com realismo. Para
mim, isso significa ser um otimista racional de longo prazo com o entendimento
de que as coisas podem e vão ficar muito ruins no curto prazo de vez em quando.
É assim que as
coisas funcionam. Como agora, por exemplo. As coisas parecem muito ruins
financeiramente falando.
Você poderia
pensar em hiperinflação ou um colapso do dólar ou uma invasão alienígena, mas
vamos nos ater aos cenários mais realistas para o ambiente de mercado atual.
O maior
risco agora é um erro de política do Fed ou de outros bancos centrais. Este
também tem a maior probabilidade de ocorrer, na minha estimativa.
Minha
preocupação aqui não é baseada em uma leitura errada dos dados econômicos ou
algo desse tipo por parte de Jerome Powell e companhia. É mais o elemento
humano envolvido em seu processo de tomada de decisão.
Fatores
externos podem afetar nossas decisões, estejamos cientes deles ou não.
Pesquisadores
da última década estudaram mais de 1.000 decisões de liberdade condicional por
8 juízes israelenses. Ao analisar o momento das decisões, os autores do estudo
notaram um padrão em termos de quando esses criminosos condenados compareceram diante
dos juízes.
Dois terços
dos pedidos de liberdade condicional foram concedidos quando eles se
apresentavam diante de um juiz logo pela manhã. Mas esses números caíam bastante
antes do almoço.
Então,
milagrosamente, depois do almoço, o número de pessoas que recebiam liberdade
condicional voltava para 65% ou mais.
Mas no final
do dia, quase ninguém conseguia liberdade condicional.
Eles
calcularam que os presos em liberdade condicional tinham entre duas e seis
vezes mais chances de serem libertados se fossem um dos três primeiros
prisioneiros do dia a ver um juiz do que os três últimos prisioneiros do dia.
Tenho certeza
de que há muitos fatores em jogo aqui, mas eles concluíram que os juízes
estavam mais mal-humorados logo antes do almoço porque estavam com fome. Uma
vez que eles se alimentavam, eles estavam com um humor muito melhor. E no final
do dia eles estavam de mau humor novamente depois de trabalhar o dia todo e
ficar com fome novamente para o jantar.
Somos todos
humanos e os membros do Fed também.
Eles estão
sendo criticados pela mídia financeira e especialistas econômicos há meses
sobre como eles perderam o bonde no pico inflacionário e não fizeram nada sobre
isso antes.
Então, acho
que há uma possibilidade real de que eles corrijam demais na direção oposta e
se esforcem demais agora para tentar provar sua credibilidade.
Você não
acha que vamos mandar a economia para uma recessão para provar nosso argumento?!
Nós vamos lhe mostrar!
Além disso,
acho que aprendemos que o Fed é muito bom em estimular a economia e manter o
sistema financeiro à tona quando as coisas estão realmente ruins, mas não há
evidências de que eles saibam o que estão fazendo quando se trata de pisar no
freio e desacelerar as coisas.
Algo que anda
de mãos dadas com um erro de política seria se as taxas de juros e a
inflação continuassem subindo ou a inflação simplesmente permanecesse elevada.
O número da
inflação hoje veio mais forte do que o esperado.
Minha pesquisa
mostra, tudo o mais permanecendo constante, que o mercado de ações tende a ver retornos acima
da média quando a inflação está baixa e/ou caindo, e retornos abaixo da média
quando a inflação está alta e/ou subindo.
A inflação
alta e renitente provavelmente seria um coisa ruim, porque isso significaria
que o Fed iria aumentar as taxas de juros de forma mais agressiva.
O outro
risco aqui é que algo inesperado assuste os investidores.
Durante um
mercado em alta, dizem que as ações passam por cima de um muro de preocupações.
É muito mais fácil ignorar outras coisas quando as ações já estão subindo e as
pessoas não estão em pânico.
Mas no meio de
um mercado em baixa, os investidores estão tensos e apenas procuram algum motivo
para vender. Não é preciso muito para fazer os investidores entrarem em pânico
no meio de um pânico.
Considere o
mercado de urso de 2000-2002.
O mercado em
alta dos anos 1990 terminou no início de 2000, depois que as ações de
tecnologia nos levaram a níveis de avaliação absurdos.
Daquele ponto até pouco antes de 11 de setembro, o S&P 500 caiu mais de 28% em relação às máximas:
Você pode ver que as ações tiveram quedas maiores a partir daí, caindo mais 33% de 11 de setembro até o fundo no final de 2002.
Para ser
justo, as ações apanharam feio logo após o 11 de setembro e tiveram uma forte
alta no meio do mercado de baixa nos meses que se seguiram. Mas você também
teve os escândalos da WorldCom e da Enron, além de uma pequena recessão em
2001.
A questão é
que não foram apenas as altas avaliações que afetaram o mercado. As ações estavam
em tendência de baixa e depois vieram mais más notícias. Adicionar ainda mais
pânico ou incerteza a um mercado já em pânico pode tornar as coisas ainda
piores.
Eu acho que
você poderia dizer que a guerra na Ucrânia foi aquele evento externo que piorou
as coisas aqui, mas qualquer outra coisa fora do comum acontecendo do ponto de
vista geopolítico ou do sistema financeiro provavelmente não seria a melhor
coisa agora.
Por outro
lado…
…as pessoas
sempre supõem que um Cisne Negro tem que ser um evento negativo.
E se tivermos
algum tipo de cisne negro positivo que torne as coisas melhores do que o
esperado?
E se a
inflação cair mais rápido do que as pessoas pensam a partir dos níveis atuais?
Esta foi a taxa de inflação da última vez que o Fed estava tentando jogar a economia dos EUA em uma recessão na década de 1980:
Depois que a inflação atingiu o pico de 14,8% em março de 1980, os números mensais seguintes foram de 14,7%, 14,4% e 14,4%. A inflação permaneceu teimosamente alta por vários meses antes de finalmente cair.
Às vezes, a
economia não faz o que você quer imediatamente. É mais como virar um navio de
guerra.
Outros eventos
positivos de cisne negro podem ser:
E se de alguma
forma o Fed for capaz de se virar e orquestrar um pouso suave se o mercado de
trabalho continuar forte?
E se os ganhos
não caírem tanto quanto você suporia em uma desaceleração econômica?
E se a guerra
terminar abruptamente?
Não são apenas
boas notícias que fazem com que os mercados de baixa cheguem ao fim, mas
notícias melhores do que o esperado que são simplesmente menos ruins.
Viu, você
sabia que eu tinha que trazer a coisa para o copo meio cheio, mesmo quando
parece que o copo está vazio agora.
Não mencionei
Stephen King à toa. Quando recomendei a liquidação das carteiras de ações logo
ao primeiro sinal de Covid na China (o mercado ainda subiu um pouco por dez
dias depois disso), muitos me chamaram de fã de filme de terror. E, embora eu
tivesse acertado minha previsão sobre a calamidade que se seguiu, perdi o bonde
da compra nas mínimas em meados de março de 2020 e só voltei a recomendar a
compra em meados de maio, quando o mercado já havia recuperado metade da queda.
Fazendo as contas, meu nível de preços foi o equivalente a alguém que tivesse
mantido sua carteira durante os piores momentos e comprado nas mínimas para
fazer preço médio. Ou seja, o resultado de quem acreditou no pior e de quem
apostou na recuperação na hora certa foram praticamente iguais. A diferença,
claro, foi a qualidade do sono durante o terremoto.
Concordo com
Carlson: otimismo e pessimismo tendem a ser inatos. Mas, invertendo a frase do
banqueiro da história de King, preparar-se para o pior não deveria impedir que
se espere pelo melhor.
Tenho muita convicção de que o maior problema é a inflação americana. Se os economistas estiverem certos em suas projeções, tudo pode ficar diferente daqui a seis meses. Na visão do Banco Wells Fargo, dentro de 18 meses estaria ao redor de 2 %, um pouco mais talvez. Notem que o maior problema entre os itens são os serviços que ainda continuam subindo. Sobre essa categoria o Fed tem poucas armas.
Mas parece que por outro lado esses mesmos economistas estão a cada dia que passa elevando a chance de que ocorra uma recessão. Naturalmente, levam em consideração não só a inflação, mas o que o Fed vem dizendo que vai fazer na questão dos juros. Como a ilustração a seguir mostra hoje esse risco é de maior que 60%.
Combinando essas ideias, é razoável supor que o mercado acredita que o Fed vai fazer uma barbeiragem ou que não tem jeito mesmo, praticamente todas as vezes no passado o período de aperto monetário culminou com uma recessão. Para responder à pergunta que vale bilhões, entrar agora na bolsa é um bom momento? O gráfico do Deutsche Bank diz que não, pois a mínima só ocorreu no passado quando a recessão estava em curso, o que não é o caso agora.
O que fazer com tantas dúvidas? Como mencionado por Alberto Dwek em sua experiência no evento da Covid, duas decisões diferentes podem chegar ao mesmo resultado final, na verdade só se saberá ex post. Eu ainda acredito mais na análise técnica como indicador de nossas decisões.
No post o-fed-esta-levando-chute-de-todo-lado, fiz os seguintes comentários sobre o dólar: ... “Não tenho muita convicção no cenário em curso. Por quê? Primeiro que no curto prazo “está demorando muito para o dólar cair (identificado no gráfico com a elipse), isso me faz desconfiar que ao invés de ser uma onda II em laranja seja uma onda B”
Ainda não se pode saber qual dos dois caminhos o dólar pretende tomar, mas no curto prazo os dois indicam a possibilidade de queda, variando a extensão dela. Dessa forma, iniciei um trade de venda do dólar quando houve a recuperação a R$ 5,3250 apontado no gráfico abaixo com o símbolo em verde. O stop loss fica estabelecido no nível de entrada.
Quais os objetivos desse trade? No caso em que o dólar caia mais forte, seria R$ 4,38 e na outra situação R$ 4,91. Esse é um caso interessante que vale mencionar. Com uma visão mais longa no primeiro caso depois dessa queda (R$ 4,38), deveria haver uma correção para em seguida uma nova queda, ou seja, esse cenário é negativo para dólar num prazo mais longo; já no segundo o dólar estaria em alta até que atinja R$ 6,06. Com essas opções, a princípio, não se deveria sugerir um trade de venda pois tem direções opostas, porém no curto prazo ambas são de queda, razão do trade.
- David,
interessante! Como você vai saber em qual dos casos está o dólar?
Primeiro é
necessário que se confirmem, pois podemos ser estopados antes de poder definir
em qual dos dois. Eu não estou usando o stop loss que seria recomendado,
evitando essa situação. Em correções, normalmente busco entrar em preços
convidativos (pouco para perder e muito para ganhar), sem essa oportunidade
prefiro ficar fora.
O SP500 fechou
a 3.677, com alta de 2,65%; o USDBRL a R$ 5,2956, com queda de 0,57%; o EURUSD
a €
0,9835, com alta de 1,19%; e o ouro a U$ 1.648, com alta de 0,40%.
Fique ligado!
Excelente! Vc definiu antecipadamente a possível entrada no trade e, quando a oportunidade chegou, apertou o gatinho! Isso é trading mindfully. Abs
ResponderExcluirObrigado! Mas costumo dizer que os elogios só depois do trade terminado ....
Excluir