Previsão irrelevante #nasdaq100

 

Fazer previsões para um período relativamente curto já é desafiador, e acredito que a maioria acaba não se realizando ou passa desapercebida. Ontem assisti a um call, e um dos slides apresentava a projeção dos juros feitas pelo mercado no final de 2021 e a atual, essa enorme diferença corrobora minha ideia. Veja que o mercado é uma fonte importante, pois muito dinheiro está envolvido



Às vezes me pergunto quais os motivos para publicar essas projeções. Entendo que existem profissionais que são pagos para isso, mas e os que não são? Sem dúvida, para alguns diz respeito ao ego ou para justificar suas posições achando novos incautos para seguir nesse caminho. Ben Carlson publicou em seu site A Wealth Of Common Sense um artigo questionando a afirmação de Stanley Druckenmiller, um lendário gestor de Hedge Fund. Sua previsão é que esta será uma década perdida – e não está falando do Brasil (!), mas da bolsa americana.

Stanley Druckenmiller disse à CNBC que sua suposição básica é que as ações dos EUA não vão a lugar nenhum por uma década:

Só estou dizendo que tivemos um furacão a favor por 30 ou 40 anos, e está revertendo, e eu não ficaria surpreso - na verdade, é minha previsão central – se o Dow não estiver muito mais alto do que hoje daqui a dez anos.

Druckenmiller tem sido publicamente um baixista por muitos anos, mas uma década perdida no mercado de ações aconteceu no passado e provavelmente acontecerá novamente no futuro. Esta é a natureza dos ativos de risco.

No entanto, eu não concordo necessariamente com a afirmação dele de que nós tivemos o vento a favor por 30-40 anos.

Sim, os 12-15 meses após a queda da pandemia foram um dos períodos mais fáceis de ganhar dinheiro em ativos financeiros. E tivemos um mercado em alta de 2009 a 2021 que deu retornos surpreendentes aos investidores em ações dos EUA.

Mas as últimas duas décadas e a mudança foram tudo menos fáceis para os investidores.

Agora temos dois mercados de queda para o S&P 500 em menos de três anos. É a primeira vez que isso acontece desde a Grande Depressão.

Isso se soma à década perdida dos anos 2000, que viu o S&P 500 oferecer aos investidores retornos totais negativos de 2000 a 2009, enquanto o mercado foi reduzido pela metade, não uma, mas duas vezes.

A história está repleta de acidentes, crises e calamidades nos mercados financeiros. Leia um ou dois livros de história e você vai entender que cada geração teve que lidar com tempos desafiadores.

Mas você poderia argumentar que os últimos 20 anos ou mais foram mais desafiadores do que você pensa.

Tivemos quatro mercados legítimos de baixa nos primeiros 23 anos deste século. Houve apenas dois mercados de baixa nos últimos 23 anos de 1977-1999:

A queda de 1987 foi terrível, mas aquele ano realmente viu o mercado de ações terminar em território positivo e o mercado disparou dali para cima por vários anos. O mercado de baixa do início da década de 1980 foi semelhante à iteração atual, pois foi mais ou menos causado pelo Federal Reserve e pela alta inflação, mas essa desaceleração marcou uma excepcional oportunidade de compra.

As correções foram mais profundas e duraram muito mais neste século. Além disso, o mercado de ações experimentou volatilidade 40% mais alta neste século.

Isso se torna ainda mais evidente quando você olha para o retorno do ano fiscal:


De 1977 a 1999, houve apenas 3 anos de queda em uma base de retorno total para o S&P 500. O mercado subiu 20% ou mais em quase metade de todos os anos e não teve um único ano que terminou em dois dígitos.

Agora veja os retornos anuais desde 2000 (retornos de 2022 até 30/09):


Houve seis anos de queda, quatro dos quais caíram 10% ou mais. Só houve seis anos com ganhos de 20% ou mais e se 2022 ficar onde está, poderemos ver três anos de perdas de 20% ou pior.

Os retornos foram obviamente muito melhores nas décadas de 1980 e 1990 no mercado de ações, mas o mesmo vale para títulos e caixa1 também:

1 Aqui o Ben se refere a títulos de curto prazo (3 meses)

Qualquer coisa em que você colocou seu dinheiro foi bem. Os investidores poderiam realmente ganhar um rendimento em seus investimentos seguros. Títulos e caixa foram melhores de 1977 a 1999 do que as ações têm sido desde 2000.

Agora, você poderia discutir com o meu ponto de partida aqui. O ano 2000 pode vir a ser o pior ponto de entrada para as ações dos EUA na história (ainda pior do que a Grande Depressão). Pode dizer que estou escolhendo o que me convém, se quiser.

Afinal, o início da década de 1980 foi um período de altas taxas de juros, inflação alta e baixas valorizações. Nas décadas de 1980 e 1990, as taxas caíram, a inflação caiu e as valorizações subiram.

Foi uma época maravilhosa para ser um investidor.

Mas este século não tem sido tão maravilhoso.

Tivemos quatro quedas legítimas no mercado de ações. Estamos à beira da nossa quarta recessão.

A contração média do PIB para as três recessões de 1977-1999 (em 1980, 1981-82 e 1990-1991) foi de 2,1%. A contração média do PIB para as três recessões desde 2000 foi de -8,2%.

A taxa de desemprego dos EUA atingiu níveis de dois dígitos apenas uma vez entre 1977 e 1999 (10,8% em 1982). Isso já aconteceu duas vezes desde 2008 (10,1% em 2009 e 14,7% em 2020).

Os investidores também tiveram que lidar com o 11 de Setembro, as guerras no Iraque, Afeganistão e Ucrânia, a insurreição no Capitólio, a crise da Zona do Euro, a pior pandemia em mais de 100 anos e agora os níveis mais altos de inflação em 40 anos.

Uma década perdida em ativos de risco é um risco legítimo para os investidores? Certamente. Isso já aconteceu antes e provavelmente acontecerá novamente no futuro.

Mas eu não acredito no fato de que os investidores de alguma forma tiveram o vento na popa por 40 anos seguidos.

Se você acha que as últimas duas décadas têm sido fáceis para os investidores você não tem prestado atenção.

Imagine que eu tivesse um inside information de Deus que as ações não terão valorização alguma nos próximos 10 anos, o que eu faria com essa informação? Não investiria na bolsa por 10 anos, será que em 10 anos não vai ter um período positivo? Mais do que isso, vou lembrar dessa previsão daqui a 2, 3 anos? Respeito o Druckenmiller, mas qual o sentido nessa previsão, mostrar que está super pessimista, ou recuperar sua imagem pelos erros constantes que vem cometendo, como se todos esses anos errados pudessem ser apagados por essa previsão? Alguém precisa avisá-lo de que vai demorar!

Ben Carlson publicou uma serie de dados para concluir que os últimos 40 anos não foram fáceis para a bolsa, mas se observado sem o que ocorreu no meio do caminho foi muito bom. Desta forma mostra a Druckenmiller que não concorda com sua tese. Precisava tanto esforço? Não seria mais fácil dizer que essa previsão – de que a bolsa vai fazer água nos próximos 10 anos - é somente a opinião de uma pessoa. Além do mais, o modelo que Ben utiliza para alocar os ativos de seus clientes é baseado em outro critério.

Nem vale a pena anotar no seu calendário, pois quando chegar daqui a 10 anos nem vai lembrar o porquê dessa anotação achando que foi um bug do seu computador.

Talvez, antes de me envolver no mundo da análise técnica, eu pudesse ficar receoso, mas não agora. A forma como faço as entradas no mercado me deixa seguro da minha decisão, pois é feita segundo um critério bem definido e com parâmetros estabelecidos caso essa ideia não se desenrole conforme o imaginado.

Sr. Druckenmiller, sua previsão não me auxilia em nada. Sem querer ser pretensioso, é uma previsão irrelevante!

Hoje foram anunciados os dados de emprego. Houve a contratação de 263 mil novos postos, ficando praticamente igual ao consenso de 255 mil. Já a taxa de desemprego caiu para 3,5%, causada pela saída do mercado de trabalho de 250 mil — o que surpreendeu os analistas, já que as condições econômicas estão piores, ficando a dúvida sobre o que estariam fazendo no lugar de busca um posto de trabalho. Quanto aos ganhos salarias, permaneceram no mesmo patamar de 5% a.a.



Esses dados justificam a previsão de alta dos juros esperada pelo mercado, sendo a próxima em novembro. Vejam a ironia, esses resultados deveriam ser comemorados pelo governo, mas dada a situação atual não são positivos, mostram um mercado de trabalho robusto. Poderíamos exportar alguns desempregados para lá! Haha ...

No post o-espadão, fiz os seguintes comentários sobre a nasdaq100 eu elenquei dois cenários; o que estou trabalhando dizia: ... “Nesse cenário a bolsa deveria atingir uma mínima entre 10.640/10600 conforme apontado no gráfico abaixo com o símbolo em verde. Notem que nessa situação o potencial de queda adicional seria da ordem de 4,5%” ...



Durante esta semana, fomos estopados em nossa posição vendida na bolsa. O leitor poderá se perguntar por que tenho associado um stop loss tão justo que ocasiona a saída da posição, embora o mercado caminhe no sentido desejado. Os dois motivos que poderia elencar são: primeiro, que estamos próximos de uma possível reversão da bolsa – o que já pode ter acontecido; segundo, que os movimentos de retração de um mercado de baixa são violentos e podem recuperar uma parcela significativa da queda, e este não tem sido diferente.


O gráfico com janela de 1 hora acima estabelece os níveis a serem observados. No sentido da alta, se a nasdaq100 ultrapassar 11.647 fica comprometido o cenário em que prevejo novas quedas sem que ainda possa supor que a queda iniciada este ano tenha terminado. Por outro lado, indo abaixo da área compreendida entre 11.230/11.120, ganha tração o objetivo elencado no post acima de 10.650/10.590.


O SP500 fechou a 3.639, com queda de 2,80%; o USDBRL a R$ 5,1996, sem variação; o EURUSD a € 0,9741, com queda de 0,58%; e o ouro a U$ 1.694, com queda de 0,96%.

Fique ligado!


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