Ação despercebida
No meio de toda essa confusão sobre a saída, ou não, da
Inglaterra do euro - sem dúvida um elemento de risco importante, do outro lado
do mundo a China, de forma discreta, vem desvalorizando sua moeda. Nos últimos
meses tem se visto um enorme esforço por parte do governo Chinês, em manter sua
economia crescendo a níveis expressivos, se comparados aos padrões atuais nos
outros países.
Porém não está sendo fácil, se é que estão conseguindo. Com
um modelo voltado exclusivamente às exportações, mudar o rumo para o consumo
interno não se faz do dia para a noite. Se a “obrigação” de crescer não fosse
tão elevada, talvez pudesse ser atingida com mais eficiência. Figurativamente,
é como trocar de piloto com o carro a 150 km/h.
O resultado na China não tem sido muito animador, o governo
está tentando através do aumento de crédito incentivar sua economia, e o que se
está colhendo são empresas com sérios problemas de solvência. Esta pode ser a
razão para desvalorizar sua moeda.
No gráfico a seguir, a linha branca é de uma cesta de moedas
ponderadas pelo comércio, caiu 10% desde a desvalorização desastrada de
agosto último. Notem que mesmo depois de janeiro, quando a cotação do yuan
contra o dólar permaneceu estável – em azul, continuou a cair.
Desta forma, a China exporta deflação para o resto do mundo.
Para que os leitores possam entender esse fenômeno, se um país desvaloriza 10%
sua moeda, um produto que anteriormente era vendido ao exterior por U$100, pode
agora ser vendido por US$ 90, sem que haja uma diminuição em seus lucros. É
natural, que internamente existirá uma pressão inflacionária, que do ponto de
vista teórico, tende a representar em média 10% da desvalorização, o que nesse exemplo
representaria 1% adicional no nível de inflação.
O mesmo efeito poderia ocorrer na Inglaterra, caso a votação
seja pelo Brexit. Os economistas calculam que haveria uma desvalorização da
libra em torno de 15%, e isso exportaria deflação para a Europa, seu maior parceiro
comercial, o que não deixaria Mario Draghi nada feliz.
E assim vamos vivendo, num mundo onde cada país busca
desvalorizar sua moeda para permitir maior competitividade externa e como
contrapartida exporta deflação.
Um detalhe interessante que tenho observado, é sobre a
divergência entre as chances de haver ou não o Brexit, quando se compara as
casas de apostas e as pesquisas de opinião. O responsável pela casa Ladbrokers,
Matthew Shaddick, aponta uma probabilidade de 76% da Inglaterra ficar, enquanto
as pesquisas assinalam as chances entre elas mais ou menos iguais. Acontece que na casa de apostas o
valor médio apostado para a permanência é de 450 libras, enquanto da saída 75
libras.
Em outras palavras, um pequeno grupo de apostas elevadas
influenciam dramaticamente em favor da permanecia, enquanto uma quantidade
muito maior está apostando na saída, embora com valores menores. Resumindo:
...” Um grupo pequeno de pessoas mais ricas está influenciando um grupo maior
de indivíduos mais pobres”.... Acontece
que no voto não existe esta distinção, e se esse for realmente o caso, a
votação deverá ser muito mais apertada.
No post a-busca-por-retorno, fiz os seguintes comentários
sobre o SP500: ...” Agora, a bolsa está
adentrando na área onde diversas vezes tentou o seu rompimento e não conseguiu
- entre 2.100 e 2.130. Não existe nenhuma garantia que irá romper agora,
entretanto, os sinais são nesse sentido”...
A bolsa ficou muito próxima do nível máximo apontado acima,
atingindo 2.120, mas em seguida retrocedeu. Não foi por muito tempo, pois agora
se encontra próximo a 2.100 novamente.
Daqui em diante será diferente, ou vai ou racha! Eu anotei
no gráfico uma formação muito comum em análise técnica, denominada de
ombro-cabeça-ombro, e o SP500 poderia estar formando a parte final do ombro.
Assim, ou ele rompe acima dos 2.130 de uma forma expressiva, ou pode sofrer um
bom tombo de pelo menos 10%.
Como comentei no post acima: ...” não me coloco a fazer nada agora, ou passa os 2.130 e entramos com
um trade na compra, ou não passa e analisamos se vai valer uma venda”....
Talvez esse seja um caso interessante de como é importante respeitar alguns
níveis sem posição. Para o investidor que está com posição, o efeito emocional
poderá levá-lo a tomar decisões erradas, e inibi-lo de entrar, quando a
situação for mais favorável.
O SP500 fechou a 2.085, com queda de 0,15%; o USDBRL a R$ 3,3783, com queda de 1,01%; o EURUSD a 1,1291, com alta de 0,45%; e o ouro a US$ 1.266, com queda de 0,11%.
Fique ligado!
Comentários
Postar um comentário