Br - Exit
Nassim Taleb, um conhecido investidor e autor de vários
livros, cujo mais famoso chama-se Black Swan, é especialista em eventos fora da
curva. Criou uma relação entre a população de cisnes com o mercado financeiro. A
maior parte dos cisnes são brancos mas também existem raros que são pretos, da mesma
forma os mercados funcionam normalmente na maioria do tempo, mas existem
momentos críticos de grande volatilidade.
Seu pensamento é que um investidor não pode correr o risco
de perder tudo nestes momentos, e ao contrário pode se beneficiar dessas
situações.
Hoje foi um desses dias, a decisão do povo britânico de
abandonar a comunidade europeia pegou o mercado totalmente de surpresa. Como
comentei ontem, os preços dos ativos não levavam em consideração esta hipótese.
Como consequência, a libra desabou, levando a sua cotação para a menor dos
últimos 30 anos.
Durante minha vida profissional passei por situações
semelhantes, posso dizer que não é nada agradável. Em dias como hoje, nenhum
modelo de risco funciona, vale as decisões movidas por stoploss ou pela angústia
de ver os prejuízos aumentando a cada minuto.
O impacto não será só financeiro, consequências políticas
podem ser ainda mais graves. Os defensores ao redor do mundo para mudanças
ganham força, afinal para quem está na dúvida, a decisão arriscada tomada pelo
povo britânico dá força a esses grupos. O primeiro beneficiado que me vem a
cabeça é Donald Trump, que já pela manhã fez as seguintes declarações: “ Eles
(os britânicos) retomaram seu país, do mesmo modo que nós faremos com a América”. Na França, provávelmente, creserá um movimento de saída do euro, sem
falar na Itália que não conseguiu se recuperar desde a crise de 2008.
Mas como fica daqui em diante? Acredito que ninguém tem uma
resposta clara das consequências, mas eu elencaria 3 grandes questões:
1.
A incerteza do que mais pode mudar, e/ou a queda
dos ativos financeiros, implicará nos investimentos, principalmente na
Inglaterra?
2.
A Grã-Bretanha conseguirá manter o mesmo nível
de acesso aos mercados europeus?
3.
O referendo resultará em fragmentação política e
econômica na Europa?
Uma pesquisa feita com os votantes para saber qual era o principal
motivo para sua decisão, teve como resposta majoritária os imigrantes.
Outro subproduto desta decisão foi a forte segmentação de
opiniões dentro da Grã-Bretanha, como pode ser visto no desenho abaixo. Com uma
diferença tão pequena, os conflitos internos deverão aumentar.
Antes de comentar sobre os mercados, não fosse a péssima
notícia vinda do exterior, estaríamos comemorando o resultado de nossas contas externas.
Em grandes números, o déficit encolheu novamente para US$ 29,5 bilhões (1,7% do
PIB). A entrada de investimento estrangeiro subiu levemente em termos anuais
para US$ 79,9 bilhões (4,6% do PIB), que é mais do que suficiente para
financiar o déficit.
As contribuições foram em todas as rubricas mas o grande
destaque deve-se dar novamente a balança comercial, com um superávit mensal de
US$ 6,3 bilhões, apontando para um acumulado anual de US$ 55 bilhões.
Talvez um dado que poderia causar um pouco mais de preocupação
foi a elevada saída de investimento em carteira de US$ 6,8 bilhões, embora se
tivesse que escolher, melhor assim, investimento direto positivo e de carteira
negativo que o contrário, o primeiro é de muito melhor qualidade.
Quanto as reservas estão intactas e a posição de swap do BC
baixaram muito, encontrando-se ao redor de US$ 60 bilhões. Talvez esse tenha
sido o motivo da performance mais positiva hoje do real, quando comparado aos
seus pares emergentes.
Bem sobre o mercado mundial existem algumas observações que
considero importantes. A seguir o gráfico compara a performance das bolsas europeias.
A cor laranja é o índice FTSE 100 da Inglaterra, veja que sua performance foi menos ruim se comparado a Alemanha, França e principalmente a Itália. Mesmo considerando
que a Libra foi a moeda que mais se desvalorizou, isso por si só não seria uma
razão para afirmar que a bolsa londrina ficou mais barata. Assim, o mercado
interpretou que não foi tão ruim assim para a Inglaterra, ou foi muito pior
para o resto da Europa.
Os juros de 10 anos:
oscilaram 30 pontos entre 1,7% a.a. para 1,4% a.a., o que equivale a uma
variação de 2,3% no preço desses títulos. Fechou no meio do caminho a 1,57% -
indefinido.
Já no câmbio foi uma salada mista:
Europa: a libra tomou o maior tombo com queda de 8,3%, euro 2,6%, o
franco suíço 1,5% - esperado.
Japão: yen se
valorizou 3,5% - esperado.
Moedas emergentes G8:
dólar canadense 1,7%; dólar australiano 1,7% e o dólar neozelandês 1,7%, e eles
não combinaram! – surpresa positiva.
Outras moedas
emergentes: peso mexicano 3,7%; rand sul-africano 4,5% e real 1,1% - supressa
no real, a moeda que menos caiu entre todas, com exceção do yen e claro o yuan,
que teve uma queda de 0,6%.
Commodities: ouro
subiu 5%, e graças à atualização do stop ontem saímos sem perdas; prata 2,6% -
positivo pelo ouro e negativo pela prata, pois deveria ter subido mais.
Ainda é muito cedo para tirar qualquer conclusão, será necessário
alguns pregões. No final de semana vou avaliar se este primeiro dia depois do
Brexit foi suficiente para comprometer a perspectiva de algum ativo.
O SP 500 fechou a 2.037, com baixa de 3,60%; o USDBRL a R$ 3,3760,
com alta de 1,14%; o euro a 1,1102, com baixa 2,50%; e o ouro a US$ 1.317, com
alta de 4,92%.
Fique ligado!
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