Círculo vicioso #SP500
O mundo está obcecado com as questões americanas e fingiu
não perceber – ou simplesmente não quer enxergar – a crise econômica chinesa. A
verdade é que as coisas estão indo de mal a pior por lá, como vou expor. Como
meu ex-sócio Luis Paulo Rosenberg costumava dizer, pode até dar todos os
estímulos necessários, mas se os consumidores não se sentem seguros, suas
compras estagnam.
Não é segredo que o modelo chinês depende fortemente das exportações. Apesar de seus esforços para substituir as vendas para os EUA e Europa, isso leva tempo e nem sempre o que é vendido nesses países pode ser consumido em outros. Atualmente, suas exportações para a maior economia do mundo estão despencando dramaticamente, e, como podem observar a seguir, o México é um dos grandes beneficiários, juntamente com Singapura nas exportações para os EUA.
A solução imediata seria o aumento do consumo interno, mas isso é uma missão quase impossível dada a educação dos cidadãos chineses. Inicialmente, apresento uma pesquisa feita pela Bloomberg sobre suas intenções em 2024. Olhem a primeira pergunta: "Você acredita que a economia vai melhorar logo?" Surpreendentemente, 100% responderam não. Nunca vi tamanha unanimidade em uma observação.
Os dois próximos slides corroboram a pesquisa acima, onde o crédito – residências, cartão de crédito, em base anual – mostra-se negativo. O outro não deixa dúvida de que os chineses estão preferindo poupar ao invés de gastar.
Tudo isso observado tem impacto no crescimento esperado para a China, e não poderíamos esperar algo diferente. Os investidores estão consistentemente diminuindo suas expectativas para o PIB, que, não podemos esquecer, há alguns anos crescia a índices invejáveis de 7% ao ano.
As bolsas desse país não param de cair, e os investidores não encontram motivos para continuar, mesmo com suas ações estando baratas em critérios fundamentalistas. No passado, suas intervenções deram certo em momentos críticos, mas agora tomam medidas pontuais sem grande repercussão. O Financial Times trouxe algo que me surpreendeu: o governo teria pedido para alguns institucionais não venderem suas ações.
As autoridades chinesas, nos últimos dias, instruíram alguns investidores institucionais a não vender ações, à medida que os reguladores enfrentam pressão renovada para estabilizar os preços das ações após a acentuada queda nas primeiras semanas do novo ano.
Desde outubro, os reguladores do mercado têm fornecido
instruções privadas, conhecidas como "orientação de janela", a alguns
investidores, impedindo que sejam vendedores líquidos de ações em determinados
dias.
Tais restrições à venda ajudaram a impulsionar um aumento de
cerca de 3% no índice de ações de referência CSI 300 na última semana de 2023,
disseram os traders. No entanto, à medida que as restrições em alguns fundos
mútuos menores e em corretoras foram relaxadas no novo ano, o índice reverteu
completamente esses ganhos e está mais de 4% abaixo este mês.
Pequim reimplementou tais restrições agora em empresas de
valores mobiliários — grandes investidores institucionais na China que atuam
como corretoras e têm braços de negociação proprietários — de acordo com
traders e gestores de investimentos em três instituições financeiras
diferentes.
Os investidores e traders também afirmaram que a mudança de
direção pelos reguladores, a mais recente de uma série de reviravoltas, está
distorcendo o mercado e minando a confiança mais ampla.
"Esse tipo de orientação de janela cria uma pressão de
venda atrasada, mas não é como se você pudesse adiá-la para sempre", disse
um diretor de uma empresa de valores mobiliários com sede em Xangai, cuja mesa
de negociação proprietária foi recentemente orientada a evitar novamente a
venda líquida. "O sentimento de mercado eventualmente ditará o
desempenho."
Os reguladores financeiros estão sob pressão dos principais líderes para encerrar uma venda prolongada que deixou o CSI 300 19% abaixo no último ano. Medidas públicas para reavivar a demanda, como cortes nas taxas de negociação e compras de ações de bancos por um fundo de investimento do governo central, não conseguiram restaurar a confiança dos investidores.
Em vez disso, a Comissão Reguladora de Valores Mobiliários
da China e as bolsas de valores de Xangai e Shenzhen recorreram à emissão de
orientações de janela privadas. A CSRC, Bolsa de Valores de Xangai e Bolsa de
Valores de Shenzhen não responderam aos pedidos de comentários.
As autoridades foram obrigadas no início de janeiro a
permitir vendas líquidas em fundos mútuos menores, que enfrentavam resgates
crescentes de clientes preocupados com quedas adicionais nos preços, disseram
traders e gestores de fundos.
Essas alienações assustaram os investidores de varejo
chineses, disseram os traders e gestores de investimentos, desencadeando uma
venda renovada. Isso sobrecarregou alguns dos maiores fundos mútuos do país,
que ainda enfrentam limites rigorosos de venda líquida, com pesadas perdas.
As recentes intervenções diferiram do padrão geralmente
adotado por Pequim, disseram os traders. O governo ainda não mobilizou fundos e
instituições financeiras estatais, a chamada "equipe nacional", para
comprar ações em grande escala, como fizeram durante quedas anteriores.
Para as empresas de fundos mútuos, a gravidade das
restrições à venda líquida é baseada nos ativos sob gestão de um determinado
fundo, com fundos maiores enfrentando policiamento mais rigoroso.
"Não há um bom histórico desse tipo de intervenção em
ações realmente funcionando", disse Mohammed Apabhai, chefe de estratégia
de negociação na Ásia no Citigroup. "Sim, ela pode potencialmente aliviar
parte da pressão de venda, mas o mercado chinês é muito impulsionado pelo que
está acontecendo com os fundamentos e as atitudes em relação aos negócios
privados mais do que qualquer outra coisa."
Permitir que alguns fundos menores vendam mais ações
permitiu que atendessem à demanda por resgates, mas os gestores de fundos
disseram que essas exceções eram concedidas apenas caso a caso por autoridades,
que não forneciam nenhuma justificativa para rejeitar um pedido ou aceitar
outro.
Xia Chun, economista-chefe da Forthright Financial Holdings
em Hong Kong, disse que as restrições às vendas líquidas provavelmente não
elevariam o sentimento do investidor na China.
"Os investidores de varejo não receberão bem tal
orientação de janela, de qualquer maneira, porque simplesmente não está
funcionando", disse ele.
Essa medida é horrível para os gestores, retirando sua
autoridade na busca de melhores alternativas para seus cotistas. O efeito pode
ser ainda pior, pois deveria acelerar o resgate daqueles que ainda não
solicitaram, criando um rela círculo vicioso.
A China, por ser a segunda economia do mundo e adotar um
capitalismo que cada vez mais tem se tornado autoritário, merece um
acompanhamento mais de perto. O governo parece um pouco atordoado, sem saber o
que fazer.
No post riscos-sem-medição fiz os seguintes
comentários sobre o SP500: "... Nessa nova versão, o SP500 deveria
terminar no nível de 4.837/4.870, uma alta em relação aos níveis atuais um
pouco superior a 2%. Sob esse prisma, não parece um bom risco x retorno, porém,
existe uma contagem alternativa muito positiva..."
Por enquanto, a opção que estou adotando continua válida, não havendo motivos para sugerir algo mais agressivo, como mencionei no post acima – contagem alternativa. Notem que a máxima histórica do SP500 em 4.818 está muito próxima de ser rompida, e é provável que os investidores queiram testar. O objetivo para o término desse movimento a onda 1 verde deve ser entre 4.870 / 4.899.
Como amplamente
comentado aqui, não me sinto atraído a sugerir qualquer sugestão de trade nesse
momento. Vamos continuar acompanhando.
O SP500 fechou a 4.765, com queda de 0,37%; o USDBRL a R$ 4,9258, com alta de 1,30%; o EURUSD a € 1,0873, com queda de 0,67%; e o ouro a U$ 2.027, com queda de 1,31%.
Fique ligado!
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