Fomos enganados!

 

Se você perguntar a 100 analistas, se a bolsa está correlacionada a economia, sou capaz de apostar que todos responderão que sim. Mas será que é realmente acontece ou se criou uma “lenda” sobre isso? Um artigo da Bloomberg desmascara essa teoria.

Desde que as ações dos EUA começaram a se recuperar de suas profundezas no final de março, houve uma gritante, e muitos diriam perturbadora, desconexão entre o impacto devastador do Covid-19 na economia e o clima de celebração do mercado de ações. Sete meses depois, essa desconexão é tão profunda como desde março. O vírus continua a atormentar a economia e o bem-estar de milhões de americanos enquanto o mercado caminha mais alto.

E a verdade é que não há nada de incomum nisso. Como apontado no artigo publicado em junho, o mercado e a economia raramente se movimentaram em conjunto, e por uma boa razão: O mercado não é a economia. Seu trabalho é tabular a visão consensual dos investidores sobre o futuro das empresas de capital aberto. Não presta atenção às empresas privadas, ao governo ou a outras partes importantes da economia.

A julgar pelas respostas recebidas e pelas conversas sobre o assunto em geral, muitas pessoas não gostam dessa conclusão. Quando a economia está instável, eles parecem querer que o mercado esteja também. Mas por quê? Uma das razões pode ser que um ticker de ações é muitas vezes a primeira, e talvez apenas, fonte de informações financeiras ou econômicas que as pessoas encontram, então eles o usam reflexivamente como um indicador da economia. Outra razão pode ser que o presidente Donald Trump e outros políticos apontam incessantemente para um mercado em ascensão como evidência de uma economia forte.

Seja qual for a razão, é importante distinguir entre os dois, não apenas como uma questão de alfabetização financeira básica, mas também porque o mercado muitas vezes obscurece o que está acontecendo na economia mais ampla. Os anos desde a crise financeira de 2008 são apenas o exemplo mais recente. O mercado de ações teve um desempenho muito melhor do que o normal desde a crise, principalmente porque a América corporativa obteve enormes lucros. Enquanto isso, a economia tem lutado para crescer, abandonando muitos americanos e ampliando a distância entre ricos e pobres. Covid-19 aprofundou ainda mais essa divisão. Se olhasse apenas para o mercado, dificilmente saberia que algo estava mal.

Ainda assim, alguns insistem que a atual ruptura entre o mercado e a economia é incomum. No artigo de junho, comparei o crescimento histórico do mercado, medido pelo Índice S&P 500, com a economia, medida pelo Produto Interno Bruto, líquido da inflação e em vários períodos. Não foi encontrado nenhuma correlação. Alguns leitores se opuseram que o ajuste para a inflação era desnecessário, pois adiciona outra variável à análise, e que um punhado de empresas dominam o S&P 500, ambos obscurecendo a relação subjacente entre o mercado e a economia.

Então se processou os números novamente, primeiro comparando o S&P 500 e o PIB sem ajustar para a inflação. O resultado é o mesmo. A correlação entre as variações anuais do PIB nominal e os retornos anuais para o S&P 500, incluindo dividendos, foi de somente 0,11 de 1930 a 2019, e a correlação ao longo dos períodos de 10 anos foi de 0,04. Em outras palavras, não houve correlação. (Uma correlação de 1 implica que duas variáveis se movem perfeitamente na mesma direção, enquanto uma correlação de 1 negativo implica que duas variáveis se movem perfeitamente na direção oposta, e próximo a 0 indica que não existe correlação)


Então foi calculado os números usando o Índice de peso Igual para as empresas do S&P 500, que, como o nome sugere, dá a cada empresa uma ponderação igual no índice, cerca de 0,2% cada. O resultado foi o mesmo novamente. A correlação entre as variações anuais do PIB nominal e os retornos anuais para o índice de igual peso foi de 0,02 negativo de 1990 a 2019. Os números são mais ou menos os mesmos quando se ajustam à inflação.

Um comentarista, no entanto, sugeriu um ajuste que moveu os números. "O mercado e a economia não estão totalmente desconectados", disse Nathan Tankus, que escreve um blog acompanhando o impacto econômico global do Covid-19. "O PIB não é uma medida muito limpa da economia neste contexto. Uma melhor é as vendas corporativas."

Nunca para deixar uma proposta ir sem ser testada, foi pesquisado os números mais uma vez. Acontece que as vendas corporativas e o PIB estão fortemente relacionados. A correlação entre as variações anuais do PIB nominal e o crescimento anual das vendas para o índice de igual peso foi de 0,63 de 1990 a 2019. É ainda mais forte ao longo de períodos de 10 anos, um quase perfeito 0,89. Assim, as vendas corporativas são um bom substituto para o PIB.

E há alguma relação entre vendas e preços de ações. A correlação entre o crescimento anual das vendas e os retornos anuais para o índice de igual peso foi de 0,49 no período e de 0,4 nos períodos de 10 anos. Esses números apoiam a visão de Tankus de que o mercado e a economia não estão totalmente desconectados, embora também reforcem o fato de que os dois divergem a maior parte do tempo.

Então, o que pode ser feito para esclarecer a confusão em torno do mercado e da economia? Os meios de comunicação, por exemplo, podem tornar os dados econômicos tão visíveis quanto os tickers de ações, garantindo que ver as ações saltarem é muito mais emocionante. Economistas e especialistas financeiros podem ser mais cuidadosos em usar o mercado como um proxy para a economia, e empurrar para trás quando os políticos fazem isso. Mas talvez a melhor maneira seja dizer claramente: o mercado de ações não se importa com a economia.

O resultado dessa pesquisa desmistifica a correlação imediata entre PIB e bolsa. Os leitores do Mosca podem ficar chocados com essa afirmação, porém esse é o resultado obtido nesse estudo por um período bastante longo.

O que poderia estar por traz disso? Vale a pena entender como um analista calcula o preço “justo” de uma ação. Existem algumas formas, porém a mais conhecida é descontar o fluxo de caixa futuro a valor presente. Existem uma serie de assunções a serem feitas: como irá evoluir as vendas, como a concorrência pode afetar os preços dos produtos, como o consumidor irá se portar no futuro, qual a taxa de desconto (juros) usada no cálculo, e várias outras. Vejam que nenhum indicador do PIB entra diretamente, embora seja razoável supor que afete os consumidores.

Vejamos o que ocorreu com a Covid-19. A economia levou um tombo de 30% no 2º trimestre, mas o governo resolveu colocar os juros em 0% além de prover dinheiro as pessoas que foram afetadas pela crise. Desta forma, se o governo continuar fazendo pacotes de ajuda até que a economia se recupere, o lucro das empresas não deveria ser afetado (logico que não falo dos extremos como companhias áreas e outras).

Na crise atual, acabou acontecendo uma grande concentração nas empresas de tecnologia que perfomaram melhor que as outras. O gráfico a seguir aponta a percentagem de empresas do índice que ganharam do SP500.


Outro fator que conta para o preço das ações, que está desassociado em grande parte da economia, e o seu múltiplo P/L.

Difícil de aceitar, não é? Mas essa é a conclusão que a estatística aponta!

No post o-panico-foi-exagerado, fiz os seguintes comentários sobre o Ibovespa: ...” O índice brasileiro vem subindo devagar e sempre, traçando um movimento que está de acordo com o esperado. Conforme aponto no gráfico a seguir, o objetivo mais provável é 102.270” ...


O índice foi no objetivo traçado pelo Mosca com uma ótima precisão, a máxima alcançada no dia 23 foi de 102.218. Bingo! Mas a retração que era esperada, para que pudéssemos entrar com um trade de compra, violou um nível importante.

Hoje terei que entrar no detalhe da análise técnica. O principal fator que originou a mudança de projeção foi o fato de o Ibovespa ter atingido a mínima de 93.386, quando a mínima anterior dentro da minha estratégia foi de 93.408 (apontado no gráfico acima com as flechas.

Desta forma, minha opção “red count” (na parte superior do gráfico do lado esquerdo marcado com um triangulo vermelho), entra em cena. Nessa nova contagem, o movimento de alta de março até final de agosto, não foi um “Panamá”, mas passa no teste, sendo assim, fico com ele como minha segunda opção (agora primeira).

Nessa nova consideração, estamos dentro de uma correção que deveria terminar em algum ponto dentro da elipse, sendo o mais provável dentro a do retângulo, ou seja:

1 º suporte – 90.700

2º suporte (preferência) – 86.000/84.200

3º suporte – 75.700/74.800

- David, não estou entendo, a diferença entre os dois pontos que fez você mudar completamente de previsão é mínimo, meros 22 pontos de um índice de 100 mil (0,02%). Não dá para ter flexibilidade?

Na teoria de Elliot Wave existem 3 regras básicas imexíveis. No caso em questão, a onda 2 não pode retrair mais de 100% da onda 1, e foi o que ocorreu. A flexibilidade nas regras é zero! A única saída seria se o dado do meu gráfico não estiver correto, o que acredito ser muito pouco provável, porém vou verificar amanhã. Por enquanto vale o que está exposto acima.

Não sei se notaram, mas a boa notícia é que, depois dessa correção terminada, um novo movimento de alta irá ocorrer, ou seja, a previsão de alta do Ibovespa no médio prazo não mudou, foi postergada com sofrimento no meio do caminho (para quem tem posições).

O SP500 fechou a 3.310, com alta de 1,19%; o USDBRL a R$ 5,7790, com alta de 0,32%; o EURUSD a 1,1673, com queda de 0,66%; e o ouro a U$ 1.867, com queda de 0,53%.

Fique ligado!

Comentários

  1. David, desculpa se a pergunta pode ser boba, mas contagem dos topos e vales na teoria de Dow não tem que ser com as cotações de fechamento ao invés de pegar as mínimas e máximas diárias?

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