Acabaram-se os salva vidas

 

Na construção de um portfólio leva se em consideração o nível de risco que se deseja assumir. Além disso, é importante ter em mente o que se deve fazer caso as condições assumidas para o futuro ficam ameaçadas.

No mercado internacional tinha se como ideia genérica de que uma carteira de títulos do governo era um hedge para a carteira de ações, o que em linguagem coloquial do mercado se chama de porto seguro.

Um artigo publicado pelo Wall Street Journal aponta que essa ideia não está funcionando recentemente.

O mês de setembro prejudicou os acionistas, não só porque as ações caíram, mas também porque os ativos que compraram para proteger suas carteiras também caíram. Da alta do S&P 500 no dia 2/9, ações, títulos do governo, ouro, bitcoin e o índice de volatilidade VIX caíram.

Essa falta total de hedge é incomum, mas os investidores precisam se acostumar com a ideia de que os títulos do governo não fornecem mais o lastro para uma carteira.

Não foi apenas o padrão normal de retorno de ativos que quebrou, dentro do mercado de ações, a correção nas Big Techs acabou com muitas das formas confiáveis de minimizar as perdas. Ações de alta qualidade, empresas com balanços fortes e lucros confiáveis, caíram mais do que o mercado.

Dentro do S&P 500, as ações baratas ou de “valor” superaram o índice, embora ainda tenham perdido dinheiro. Mas enquanto as ações de crescimento dominadas pela Big Tech perderam entre as grandes empresas, entre as pequenas empresas o crescimento bateu o “valor”. O desempenho do setor também não seguiu nenhum padrão perceptível. E as ações que normalmente sobem e caem mais rápido ou mais lentamente do que o mercado, conhecido no jargão do mercado como beta alto ou baixo, não se comportaram de forma previsível.

Agora que a “espuma” foi tirada das grandes ações de crescimento disruptivo, podemos esperar que as relações normais de mercado se reafirmem. Mas o maior hedge contra perdas, títulos do tesouro, provavelmente não voltará como uma ferramenta útil por anos.

O problema apareceu no Japão na década de 1990 depois que o país cortou as taxas de juros e os rendimentos dos títulos públicos caíram. Mas tornou-se mais óbvio com a Alemanha. Na crise da zona do euro de maio de 2011 a julho de 2012, os bunds alemães de 10 anos ganharam 25%, semelhante à perda das ações da zona do euro. Mas neste ano a queda do rendimento e as taxas de juros já negativas significavam que havia pouco mais a ganhar: os Bunds não protegeram quase nada do mercado de ações, de fevereiro, da alta para a baixa. Depois disso, renderam essencialmente nada.

Os títulos do tesouro americano seguiram o exemplo. Na primeira fase da pandemia eles subiram cerca de 10%, antes do breve período de caos no mercado de títulos. Mas desde então, eles têm estado estagnados dando aos investidores pouca ou nenhuma proteção — inclusive infligindo uma pequena perda à medida que as ações caíram da alta de 2 de setembro.

O problema é que, com rendimentos tão baixos, é difícil que os juros caiam muito mais, fazendo com que os preços subam. O Federal Reserve ainda pode intervir com uma nova Operação Twist para comprar títulos mais longos, o que poderia reduzir o rendimento de 10 anos um pouco de seus atuais 0,7%. Mas mesmo que fosse reduzido a zero, isso ofereceria um ganho de preço potencial insignificante de apenas 7%.

É claro que o Fed poderia seguir o Japão e a Europa para tornar as taxas de juros negativas, o que criaria mais espaço para ganhos de títulos, mas os formuladores de políticas têm insistido repetidamente que tal política seria inadequada para os EUA. Vale a pena notar que, o Reino Unido costumava dizer o mesmo, mas agora está contemplando abertamente a ideia.

Mesmo as taxas negativas só proporcionam uma breve pausa, no entanto: o Banco Central Europeu calcula que poderia, em princípio, ir tão baixo quanto menos 1%, mas se os rendimentos dos bund alemães seguissem o exemplo, o ganho de preços para os investidores ainda seria de apenas 7%. Isso não fornece muita proteção contra quedas no preço das ações.

 "A renda fixa agora é 100% fixa e 0% de rendimento", diz Jan Loeys, estrategista de longo prazo do JPMorgan. Ele recomenda que os investidores desistam totalmente da cobertura de curto prazo e se concentrem em como obter ganhos no longo prazo. Isso inclui o uso de mais instrumentos que oferecem volatilidade de curto prazo, mas retornos de longo prazo mais previsíveis, como “junk bonds” ou ações preferenciais.

Os investidores não estão mais propensos a sofrer perdas de curto prazo agora do que eram no passado, no entanto, e a busca por alternativas aos títulos do tesouro é forte. O problema é que, muitos dos instrumentos sugeridos, também são sensíveis às mesmas coisas que as ações.

O ouro, por exemplo, é apontado como o ativo defensivo final, mas compartilha a sensibilidade das ações à inflação. Tanto o ouro quanto a bitcoin também são dominados pela especulação, então quando há um busto especulativo — como em setembro —se pode esperar que compartilhem as perdas de ações, que estão sendo vendidas por traders transformando em caixa.

As opções de colocação devem proteger contra quedas no mercado, mas perder dinheiro quando as ações estão de lado ou para cima, implica que são um hedge caro no longo prazo. A negociação de volatilidade é ainda pior, custando muito mais que a volatilidade de curto prazo, e sendo bagunçada quando a volatilidade sobe ou cai em linha com as ações, como fez em agosto e setembro.

Em resumo, hoje em dia, as boias de segurança não funcionam, principalmente porque o juro está artificialmente comprimido pela ação dos bancos centrais, e pior, no caso de um cenário mais benigno, provavelmente terão um impacto negativo na carteira. Na linguagem de mercado, o retorno é assimétrico.

O artigo não mencionou a possibilidade de investir em outras moedas com a intenção de proteção. As candidatas para esse fim são o yen japonês e o franco suíço. O yen nesse período de volatilidade apresentou uma oscilação mais forte em março que durou poucos dias, depois disso, ficou contido no retângulo em verde, sem nenhuma relação com a bolsa que subiu nesse período, e em setembro, quase não saiu do lugar.

Em relação ao franco suíço, o banco central desse país vem fazendo fortes intervenções no mercado, comprando euros, o que fez com que sua moeda tenha uma trajetória muito semelhante à da moeda única, desfazendo qualquer relação com a bolsa.

O leitor poderá se perguntar o que sobra como proteção? Quando todos os ativos andam de forma mais ou menos correlata, e não levando em considerações situações especificas como proteção contra a alta da inflação, instabilidade política e outras, a única coisa que sobra é a moeda, dinheiro embaixo do colchão. Opa! Nem essa serve mais, se a Polícia Federal pegar vai concluir que é resultado de corrupção. Hahaha ...

No post pistas-de-um-tombo, fiz os seguintes comentários sobre o dólar: ...”  Eu antevejo 2 possibilidades para o dólar: a primeira seria uma correção mais dilatada dessa alta, onde poderia ocorrer a reversão entre R$ 5,66/R$ 5,77, ou se suplantado, ao redor de R$ 5,96. Depois disso um movimento de queda levaria o dólar novamente a R$ 4,80. Vejam gráfico a seguir as flechas em amarelo” ...

O dólar não ultrapassou o nível apontado acima entre R$ 5,66/R$5,77, nem tampouco iniciou um movimento de queda mais pujante, deixando o cenário incerto no curto prazo. Em todo caso, não pretendia sugerir nenhum trade enquanto o quadro não se tornar mais claro.

Vamos observar os níveis mais adiante. No gráfico a seguir, existem 2 possibilidades, resolvido o que ocorrer no curto prazo. Esses níveis foram mencionados no post acima: ... “ o dólar atingiria novas máximas cujo objetivo seria ao redor de R$ 6,18/ R$ 6,24, que se ultrapassado, levaria o real a R$ 6,98” ...


Existem momentos de mercado onde não fica claro qual o movimento a ser seguido no futuro. Normalmente, isso ocorre em correções, haja visto a grande quantidade de configurações possíveis. Nessas ocasiões se deve focar em parâmetros mais longos que possibilitam o cálculo de níveis a serem seguidos. O caso do dólar se encaixa neste momento, e ao invés de ficar apontando diversas configurações ao leitor, que somente o confundiria, prefiro aguardar maiores evidências para expor meus objetivos.

O SP500 fechou a 3.408, com alta de 1,80%; o USDBRL a R$ 5,5670, com queda de 2,06%; o EURUSD a 1,1782, com alta de 0,56%; e o ouro a U$ 1.911, com alta de 0,69%.

Fique ligado!

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