Um pouco de teoria

 

Existem algumas tecnicidades nos mercados de juros que acredito não ser de conhecimento de boa parte dos leitores. Dentro dessa premissa o comentário de hoje será sobre a curva de juros.

Nos últimos dias assiste-se uma quebra de braço entre os políticos e o ministro da economia Paulo Guedes. O motivo principal seria que os primeiros querem aprovar o “Renda Brasil” sem a contrapartida de receitas, o que iria aumentar o déficit público. Isso tem ocasionado a alta de juros identificada na sua curva.

Para que se entenda melhor esse assunto, a Bloomberg publicou um artigo instrutivo.

Em primeiro lugar, para os novatos do mercado de dívida, lembre-se que os preços dos títulos e os rendimentos se movem em direções opostas. A quantidade de dinheiro que um detentor de títulos deve receber é pré-determinada, desta forma, se alguém paga menos para adquirir um título, então o retorno esperado - ou rendimento - sobe. Isso significa que quando há um movimento de alta nos títulos (ou seja, as pessoas estão comprando-os), os rendimentos são menores. Por outro lado, quando os títulos caem de preço, os rendimentos sobem. Além disso, cada uma dessas situações pode ocorrer enquanto a curva está inclinando (o prêmio para uma dívida mais longa está crescendo) ou achatando (o prêmio está encolhendo).

A seguir, estão os quatro tipos de mudança de curva que podem ocorrer:

“Bear Steepening”

Este tipo de mudança pode acontecer quando o Federal Reserve dos EUA pratica taxas de juros próximas a zero e decide diminuir ainda mais, enquanto também inunda o sistema com liquidez (como fez durante o auge dos riscos pandêmicos) - e sinaliza que planeja manter as taxas de curto prazo ancoradas por anos para impulsionar o crescimento e aumentar a inflação. A possibilidade para outra dose de estímulos fiscais, com intuito de ajudar a produção dos EUA, também elevou os rendimentos de longo prazo em setembro e início de outubro - antes do presidente Donald Trump cancelar as negociações sobre um pacote do Congresso - uma vez que, uma economia fortemente reavivada, é mais provável que produza inflação no caminho.

“Bull Steepening”


Quando o mercado entra nesse ciclo, os títulos sobem, arrastando os rendimentos para baixo. A inclinação ocorre porque os títulos mais curtos têm apreciação - empurrando seus rendimentos para baixo, enquanto a taxa dos mais longos não caem com a mesma intensidade. Isso amplia a diferença de juros entre os dois. Esse tipo de mudança pode ocorrer quando o Fed está cortando suas taxas de juros de referência de curto prazo, como fez após a crise financeira de 2008 - ou até mais cedo, quando os traders antecipam os movimentos do Fed.

Vale uma ressalva sobre esse cenário, nos dias de hoje parece impossível de acontecer, haja visto que, as taxas de juros estão próximas de 0%.

“Bull Flattening”

Os títulos se apreciam para todos os vencimentos, com os preços subindo e os rendimentos caindo. Isso explica a parte "Bull" do trade. O achatamento ocorre porque os títulos mais longos têm quedas nas taxas que se emparelham com as taxas dos mais curtos. Isso comprime o spread entre os dois, tornando a curva mais plana. Esse tipo de movimento pode acontecer, por exemplo, quando o Fed mantém as taxas estáveis, mas outras forças - tais atritos geopolíticos - estão pesando sobre as perspectivas de crescimento, ou leituras de inflação mais baixas incentivam a compra de títulos mais de longo prazo.

 “Bear Flattening”

Os títulos caem, independentemente do vencimento, acarretando alta dos rendimentos. Isso explica a parte “Bear”. O achatamento ocorre quando títulos mais curtos veem seus preços enfraquecerem mais, aumentando seus rendimentos em um ritmo mais rápido do que aqueles mais longos. Isso comprime o spread entre os dois, achatando a curva no geral. Movimentos como este podem ocorrer à medida que o Fed aperta a política enquanto a inflação permanece sob controle.

Essas são as 4 formas que a curva de juros pode se apresentar, e acontecessem dependendo do estágio em que a economia se encontra, conjugado as ações da autoridade monetária.

Quiz: Abaixo se encontra a curva da taxa de juros nominal no Brasil, em qual cenário se classifica hoje?

O gráfico acima é ilustrativo do que ocorreu no passado.

Amarela (31/12/2018) – Naquele momento a curva estava inclinada, com os juros curto a nível de 6,5%. Não existia uma expectativa pelo mercado de corte de juros, mas que acabou ocorrendo em 2019.

Verde escura (31/12/2019) – O BC efetuou um corte de juros durante o ano, e o mercado não acreditava em novos cortes, porem também não acreditava em altas. Note que a diferença entre o juro de 1 mês e de 5 anos, embora esse último mais elevado, não denota uma expectativa de alta, podemos considerar essa diferença como um prêmio de risco.

Verde claro – azul – vermelho (jun/ago/setembro2020) – Essas curvas entre si não são muito diferentes, apenas pioraram nos meses (diferença entre as taxas curta e longas).

Se você respondeu Bear Steepening acertou. O BC baixou a taxa SELIC para 2% a.a., o mercado acredita que além de ser temporário esse nível, a discussão fiscal coloca mais pressão sobre os juros longos. Notem que a curva está muito inclinada, entre o juro de 1 mês comparado com o de 5 anos a diferença é 5%.

Daqui em diante, quando vocês lerem no noticiário que o juro está subindo, ele quer dizer que, provavelmente a alta se dá nos juros longos.

No post o-novo-virus, fiz os seguintes comentários sobre o SP500: ...”  eu espero alguns dias de correção, onde o SP500 deveria ficar contido entre 3.280 – 3.350, a partir daí, teria um objetivo entre 3.700 – 3.800” ...


A mínima atingida foi de 3.207, um pouco abaixo do intervalo citado acima, desde então um movimento ascendente se iniciou.

As indicações parecem positivas desde que atingiu a mínima, mas correções podem nos passar a perna. Para que o leitor possa acompanhar melhor o andamento. Na região compreendida entre 3.495 e 3.280, nada é muito conclusivo. Acima do primeiro, aumentam as chances de o movimento de alta ter ganho curso, bem como, abaixo de 3.280, a correção ainda está em andamento.

O SP500 fechou a 3.446, com alta de 0,80%; o USDBRL a R$ 5,5997, com queda de 0,55%; o EURUSD a € 1,1760, sem variação; e o ouro a U$ 1.893, com alta de 0,37%.

Fique ligado!

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