Sobrou a torcida #IBOVESPA
Resumo:
O panorama bancário está numa corda bamba, com os
pequenos e médios bancos na mira após apostas falhadas sobre a eternidade das
baixas taxas de juros. Em destaque, a supressão dos títulos do Tesouro na SLR,
apontando para um frenesi de compras bancárias para esquivar-se das perdas,
revela a trama densa das finanças atuais. As manobras para
"liquefazer" o sistema, embora reduzam o risco sistêmico, obscurecem
a transparência crucial para a estabilidade do mercado. Estamos vendo uma
repetição dos erros, com políticas emergenciais da era-Covid ainda em voga,
transformando o gerenciamento de riscos numa arte de adivinhação.
A flexibilização das regras SLR aponta para uma
estratégia desesperada de sustentar o sistema bancário, permitindo-lhes ser
compradores infinitos de dívidas, uma jogada arriscada quando consideramos a já
complexa dinâmica do mercado de títulos. Os bancos, agarrando-se aos títulos do
Tesouro como se fossem botes salva-vidas, enfrentam uma tempestade perfeita: a
emissão de títulos dispara, e a transparência despenca, tornando a já
turbulenta arena financeira num terreno ainda mais minado.
A análise técnica aponta para um futuro incerto nos
títulos de 10 anos, com possibilidades variando entre uma contenção temporária
e uma ascensão vertiginosa além dos picos prévios. O desenrolar depende do
ultrapassar de um limiar crítico, um lembrete pungente de que, no jogo da
especulação, as apostas são altas e as garantias, uma miragem.
Na análise técnica do Ibovespa, a recente publicação do
índice de inflação americano jogou água fria nas previsões otimistas,
provocando um recuo que, embora marginal, deixou exposta a vulnerabilidade do
índice à volatilidade externa. Mantenho a posição de observador, com uma visão
otimista para o futuro, sem que isso justifique uma posição agora.
Recentemente, pouco se tem falado sobre a solidez do setor
bancário. No ano passado, em março, descobrimos que as apostas feitas pelo SVB
e outros – sobre as quais escrevi um post autoexplicativo, "Ascensão e
Queda do MHB" – de que a taxa de juros permaneceria baixa "ad
infinitum" falharam. Outro setor que também enfrentará muitos
problemas daqui para frente são os pequenos e médios bancos que concederam
empréstimos imobiliários para escritórios a taxas baixas, o que impactou
diretamente o NYCB ‘outra maneira de
quebrar bancos”. Se há algo certo, é que os bancos torcem, imploram ou
fazem o que for necessário para que os juros caiam. Tyler Durden comenta em seu
site, ZeroHedge, a situação dos bancos que detêm uma carteira de títulos do
governo e questiona se esses títulos são um colateral para eventuais perdas no
crédito ou um alerta vermelho.
A conversa mais recente é sobre a eliminação dos títulos do
Tesouro do cálculo da SLR (Supplemental Liquidity Ratio), usada para determinar
quanto os bancos precisam reservar para ajudar a "gerenciar o risco".
Já Vimos Esse Filme Antes
A crise da Covid provocou um caos no mercado. Para gerenciar
a queda acentuada e rápida, o Fed agiu cortando as taxas para zero e iniciando
o QE infinito. Também eliminou a exigência de reservas dos bancos, o que
significa que não precisavam mais manter reservas contra passivos de depósito.
Como já sabemos, não há nada mais permanente do que um programa governamental
temporário, então essa política imprudente ainda está em vigor.
Vale lembrar aos nossos leitores que tentamos simplificar ao
máximo para ilustrar um ponto. O sistema e a rede de regras são extremamente
complexos, especialmente no que tange à mecânica do mercado de títulos do
Tesouro.
Outra ajuda veio no ano passado, quando mais falências
bancárias foram testemunhadas do que durante a crise financeira de 2008 (Great
Financial Crisis). A grande medida acomodativa para salvar o sistema foi
permitir que os bancos classificassem seu portfólio de títulos (tesouro) como
" ao par" (100%) para evitar registrar perdas. Isso foi oportuno e
conveniente, já que o TLT (ETF de Títulos do Tesouro) perdeu cerca de 30% em
2022. Como resultado da debandada no mercado de títulos de 2022 (a pior de
todas), o sistema ficou preso com um monte de perdas nos livros.
Todas essas mudanças de regra visam "liquefazer" o sistema, reduzindo assim as chances de um choque sistêmico. Porém, essas novas regras comprometem a transparência. Nunca temos certeza de quem está segurando o quê, podendo assim perder o rastro de onde residem as minas terrestres.
Ao permitir que os bancos não façam a marcação a mercado,
perdemos transparência e, mais importante, a avaliação de preço. Com o governo
comprando seus próprios títulos, há muito perdemos a avaliação do preço mais
importante de todos - as taxas de juros: o preço do "dinheiro".
Por 10 anos, assistimos às taxas de juros serem manipuladas
para baixo enquanto dívidas e déficits disparavam. Isso significava que os EUA
(e muitos outros países) podiam se endividar a taxas cada vez mais baratas,
mesmo com dívidas e déficits inflando. Repetimos uma citação favorita de uma
apresentação recente: “Esta é uma divergência incrivelmente simples (taxas mais
baixas e dívida mais alta) que desafia cada regra, conceito e pedaço de lógica
nos mercados financeiros.”
A Terceira É a Vez da Sorte
A nova mudança na regra do SLR1 poderia permitir
que os bancos se tornassem compradores infinitos da dívida do Tesouro. Isso,
especialmente porque a emissão de títulos do Tesouro está alcançando os picos
vistos durante a crise da Covid, mesmo que a emergência tenha passado há muito
tempo.
1 SLR – Statutory Liquidity Ratio e a
percentagem mínima de deposito que um banco comercial tem que manter em caixa,
ouro ou outros títulos.
Em outras palavras, apesar de supostamente termos uma
economia forte, o Tesouro está vendendo/emitindo títulos a uma taxa vista pela
última vez durante a crise da Covid.
Conclusão
Que conveniente para os bancos poderem comprar títulos do
Tesouro, não sofrerem nenhum prejuízo e não terem que se preocupar com perdas
por marcação a mercado. Tudo isso acontece em um momento oportuno, quando a
emissão de títulos começa a ganhar vida própria.
Vale ressaltar que nossa análise mais aprofundada sobre
"A Grande Tomada" revelou que o mercado de títulos também está
fracionado (não há o suficiente para todos; alguns títulos são contabilizados
por mais de um proprietário).
Parece uma proposição arriscada continuar referindo-se aos
títulos do governo como "colateral puro", "sem risco" ou
"ativo seguro".
Fiquei surpreso como os bancos mantiveram as posições de
títulos após o estresse do ano passado. Tenho uma regra que sigo rigorosamente:
qualquer negociação/posição baseada em uma premissa que não se concretiza, eu
zero e pronto! Aprendi da maneira mais difícil que não agir assim te coloca na
posição de torcedor e atrapalha o raciocínio em tudo o que você faz. Só de
zerar a posição, sente-se um alívio, como se tirasse um peso das costas.
Infelizmente, o Mosca não tem boas notícias para os bancos.
Embora eu não tenha postado nem sugerido operações com taxas de juros dos
títulos do governo americano, continuo acompanhando esse mercado atentamente. A
seguir, apresento duas possibilidades que vejo para os títulos de 10 anos:
A primeira, que considero mais provável, é que os juros de
10 anos fiquem contidos por um tempo, formando um triângulo, para depois
voltarem a subir e ultrapassarem a alta de 5,25% – conforme mostrado no gráfico
abaixo. A outra hipótese considera que a alta já está em curso. Deve-se
acompanhar o nível de 4,7%; se ultrapassar esse patamar agora, infelizmente,
não tenho boas notícias nessa área.
A publicação do índice de inflação americano hoje pela manhã despejou um balde de água fria no mercado. A inflação total foi de 0,4%, acima da expectativa de 0,3%, elevando a taxa anual para 3,5%, enquanto a inflação core também de 0,4% ao ano elevou a taxa anual para 3,8%, ambas ainda muito distantes do objetivo do Fed. Conclusão: o corte de juros esperado para junho foi por água abaixo.
Em um post intitulado "Trocando de Camisa",
fiz os seguintes comentários sobre o Ibovespa: "Nada de muito
significativo em termos de preço ocorreu na última semana. Parece que a queda
atual coloca em perspectiva os objetivos mencionados anteriormente. Destaquei
no gráfico o nível de 125.876 como importante a ser superado".
A bolsa chegou a tocar esse nível e em seguida voltou a subir, ameaçando a parte superior da área que destaquei em verde abaixo. Com o anúncio do CPI americano hoje, recuou apenas marginalmente, deixando ainda exposta a parte superior do gráfico. Mantenho exatamente a posição de observador, com uma visão otimista para o futuro, sem que isso justifique uma posição agora, pois ainda não posso descartar a possibilidade de uma queda no intervalo entre 123,3 mil e 122,4 mil.
O SP500 fechou a 5.160, com queda de 0,95%; o USDBRL a R$ 5,0781, com alta de 1,38%; o EURUSD a € 1,0742, com queda de 1,04%; e o ouro a U$ 2.330, com queda de 0,96%.
Fique ligado!
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