O receio do petróleo #bitcoin #usdbrl

 


Neste final de semana, como já é de conhecimento público, o Irã realizou um ataque inédito ao território de Israel, utilizando aproximadamente 350 artefatos bélicos entre mísseis e drones. O que talvez o público desconhecesse é o sofisticado "Iron Dome" – que utiliza um radar para detectar e interceptar foguetes, mísseis e drones de curto alcance, além de outros sistemas para projéteis de longo alcance. Com uma taxa de 99% de acerto, pouca destruição ocorreu dentro do território.

Derrotado, o Irã não conseguiu atingir nenhum de seus objetivos mínimos e agora ameaça que qualquer retaliação terá uma resposta dura. É a primeira vez que vejo um país derrotado por 10 a 0 ainda tentar fazer algum tipo de ameaça. Imagino que muitas cabeças militares devem ter literalmente rolado naquele país.

Observando a reação dos mercados durante o final de semana, e considerando que apenas as criptomoedas negociam 24 horas por dia sem parar, sua principal representante, o bitcoin, chegou a cair 15%, mostrando mais uma vez fragilidade na hora que deveria representar um refúgio. A conclusão que se pode chegar é que na hora do "vamos ver", refúgio mesmo é o dólar. Hoje pela manhã, a queda retrocedeu para -1,5%.



Os aliados, leia-se principalmente os EUA, estão desesperadamente pedindo para que Israel não lance retaliações. Israel deve muito aos americanos, seus provedores de armas e recursos. Nem acho que seria inteligente qualquer ação agora. O principal motivo do presidente americano é que tem eleições presidenciais chegando no final do ano e uma alta do preço do petróleo, mesmo sendo o maior produtor mundial, neste momento seria de grande utilidade ao seu oponente, Trump. O mercado de petróleo reagiu de forma discreta, subindo levemente durante as horas de tensão e retorcendo agora pela manhã. Mas será que isso é suficiente? Não é opinião da Gavekal, do qual faço um resumo a seguir.



Conforme medido pelo índice CRB, as commodities estão agora com aumento de 13% desde o início do ano. Talvez mais importante, os preços das commodities parecem prontos para desafiar os altos níveis vistos em 2022 após a invasão da Ucrânia pela Rússia. Dado esse precedente, seria fácil descartar a alta de 2024 como resultado direto do ambiente geopolítico tenso atual, com a guerra em Gaza, ataques de mísseis dos Houthis no Mar Vermelho e medos de que o Irã tome ações contra Israel – elaborado antes do ataque do final de semana – adicionando um pesado prêmio de risco aos preços das commodities. No entanto, provavelmente há mais na atual alta das commodities do que preocupantes manchetes geopolíticas. Considere o seguinte:

- Sinais estão crescendo de um aumento síncrono da produção industrial ao redor do mundo. Nas últimas seis semanas, quase todas as pesquisas PMI surpreenderam positivamente, assim como os indicadores líderes da OCDE e os números de produção industrial. Até mesmo retardatários como Alemanha e China tiveram surpresas positivas. Resumindo, o crescimento da manufatura — o crescimento mais intensivo em commodities — está se mostrando mais forte do que quase todos esperavam no início de 2024.



- A demanda dos mercados emergentes, exceto China, continua forte. Um dos temas recorrentes da Gavekal ao longo dos últimos anos é que muitos investidores ainda estão presos à ideia de que a China está no coração do crescimento dos mercados emergentes. Claro, a China foi o motor dominante do crescimento dos mercados emergentes de 2000 a 2020. Mas esse não é mais o caso. Embora o crescimento chinês tenha decepcionado nos últimos anos, o crescimento em países como Índia, Indonésia, Brasil e México disparou.

- A realização está crescendo de que agora vivemos em um mundo inflacionário. Não são apenas os dados de crescimento que surpreenderam positivamente. Os dados de preços também, pelo menos nos mercados desenvolvidos. Os mercados emergentes são o principal destino para a capacidade excedente da China e para as commodities que a Rússia vende com desconto para financiar seu esforço de guerra. Nos mercados desenvolvidos, déficits orçamentários descontrolados, inflação verde e falta de investimento em infraestrutura significam que a inflação está se mostrando muito mais persistente do que a maioria esperava.

No geral, a maioria dos mercados emergentes agora enfrenta muito menos restrições em suas tentativas de industrialização e de subir na cadeia de valor. Talvez nada ilustre isso melhor do que o recente aumento nas exportações de automóveis da China. Os carros que a China vende hoje acabam em grande parte nos mercados emergentes, onde são comprados por consumidores que nunca possuíram um carro antes. O resultado final é um mundo com mais carros nas estradas e uma maior demanda por gasolina, cobre, alumínio e borracha.

Os principais riscos destacados no relatório que poderiam afetar a continuação do boom inflacionário global são:

1. **Um Federal Reserve mais restritivo**: Após a divulgação da inflação nos EUA, aumentaram as chances de que o Federal Reserve tenha que recuar de sua recente postura dovish.

2. **Recuperação tímida da China que pode desaparecer**: Embora todos os sinais continuem apontando na direção certa para a China, e após uma queda de 12% em janeiro, o índice MSCI China está agora estável desde o início do ano, indicando uma recuperação modesta que ainda é vulnerável.

3. **Outra grande desvalorização do iene**: Uma nova queda acentuada no iene poderia desencadear uma desvalorização no renminbi e uma competição de desvalorização entre China e Japão.

Se a Gavekal estiver correta, estamos entrando numa nova era de crescimento do mundo, em que o preço das commodities estará em alta. Para o receio do presidente Biden, o preço do petróleo deverá ficar elevado e, se o conflito escalar, Trump pode começar a fazer as malas rumo a Washington.

No post --- conectando os fios --- fiz os seguintes comentários sobre o dólar: ... "Tudo indica que o dólar deverá atingir os níveis de R$ 5,1274 ou um pouco mais acima, R$ 5,1755, de forma tortuosa. Ultrapassar esses níveis é possível, mas por enquanto nenhum ímpeto se observa na alta"... "Passada mais uma semana, o mercado vem se desenrolando da maneira que eu esperava: subindo de forma lenta e tortuosa"...




O mercado chegou no ponto nesta manhã. O que pode ocorrer daqui em diante? Uma observação sobre a repercussão dos eventos do final de semana na moeda dos países emergentes: o real desponta como sendo o mais afetado, o que me leva a concluir que a reação é por motivos locais – em situações semelhantes no passado recente teria sido bem diferente.

Se a onda V verde que eu estou esperando não fosse de forma diagonal, eu poderia apostar numa continuidade da correção, mas como não é o caso, o caminho traçado em laranja no gráfico pode estar em curso. Como resolver esse dilema? Daqui em diante existem duas hipóteses:

- O dólar continua subindo e ultrapassa o nível de R$ 5,22 e rompe a reta paralela. Nesse caso, é possível que a alta tão esperada que levaria o dólar a casa dos R$ 7,00 – a ser mais bem calculado à frente – esteja em andamento;

- O dólar faz meia-volta e volta a cair, podendo ir buscar níveis mais baixos conforme o gráfico aponta.



- Ei, David, vai nos deixar na expectativa sem nenhuma direção?

Só tenho uma frase para te aliviar nesse momento: "Let the market speak!" Hahaha...

O SP500 fechou a 5.061, com queda de 1,20%; o USDBRL a R$ 5,1823, com alta de 1,27%; o EURUSD a € 1,0624, com queda de 0,16%; e o ouro a U$ 2.386, com alta de 1,82%.

Fique ligado

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