O contrato ousado #SP500


 No passado era comum o uso de contratos criativos. De imediato lembrei quando a inflação era muito, muito elevada e crescendo. Isso ocorreu 1989, antes do governo Collor. As distorções eram tão grandes que a NTNB da época, que pagava correção monetária do mês mais juros, ficou tão defasada que os juros desse papel tinham que compensar parte da diferença de inflação corrente. Se não me falhe a memória chegou a algo como CM + 70% a.a.! Eu brincava dizendo que esse papel pagava CM ao quadrado, pois os juros quase se igualavam a inflação percentualmente.

A taxa pré-fixada era uma piada, coloquem na sua HP e calculem a taxa anual correspondente a 70% a.m. Isso aí, 60.000% a.a.! Esse foi um período no qual se ganhou muito dinheiro nos mercados, mas a população empobreceu significativamente.

Com esse nível de taxa dava para inventar muitos produtos. Um que ganhou a preferência dos clientes do Banco Francês foi o CDB ouro. A chamada era a seguinte: aplicar num CDB pré-fixado com resgate em 6 meses e no final optar por receber o valor com taxa pré-fixada ou “X” gramas de ouro, o maior dos dois ‑ onde “X” era calculado pela divisão do valor aplicado e da cotação do ouro na data inicial. Tinha um apelo forte, pois era uma forma de manter o valor real do dinheiro ‑ em dólares ‑ caso a inflação explodisse, por outro lado, se a inflação ficasse estável, teria um bom rendimento. A montagem da operação era simples, com uma parte do rendimento pré comprava-se uma call de ouro. Conclusão, mais de 90% receberam em ouro. Hoje em dia essa operação é conhecida como COE.

Esse exemplo mostra como imaginar um contrato criativo usando finanças. John Authers publicou na Bloomberg as condições financeiras do maior valor de contratação para um jogador de beisebol. De cara achei que ele não tinha mais nada interessante para escrever, pois fez uma relação com a situação vivida pelo banco central japonês. Por outro lado, é tão diferente que resolvi relatar.

Os agradecimentos fervorosos devem ir para Shohei Ohtani, astro do beisebol japonês que no fim de semana assinou um contrato de 10 anos no valor de US$ 700 milhões para se mudar para o Los Angeles Dodgers. Esse é o maior contrato de todos os tempos para um jogador de beisebol. Mas agora, temos os detalhes de como está estruturado, e isso o transforma em uma das melhores histórias financeiras em anos.

Ohtani vai receber essa quantia espaçada no tempo. Na verdade, ele só vai receber US$ 2 milhões anuais na próxima década. A partir de 2034, assim que seu contrato for concluído, os Dodgers começarão a pagá-lo US$ 68 milhões por ano, e o farão por uma década. O último pagamento deve chegar quando ele tiver 50 anos. Isso está dentro das regras estabelecidas pela Major League Beisebol, e ambos os lados entraram livremente no acordo. Na verdade, aparentemente foi ideia do próprio Ohtani, pois seus agentes fizeram a mesma proposta para todas as outras equipes que os abordaram. Então, se eles querem fazer isso, não há razão para que não o façam. Mas por que você gostaria de estruturar um negócio dessa forma?

Tanto os Dodgers quanto Ohtani sabem tudo sobre Bobby Bonilla, ex-jogador do New York Mets cujo contrato foi estruturado de forma tão ridícula para o futuro que os Mets continuam pagando US$ 1,19 milhão por ano e devem continuar até 2035. Aposentou-se em 2001. O dia 1º de julho, o dia em que os Mets lhe escrevem o cheque todos os anos, agora é comemorado como o Dia da Bonilla entre os especialistas do beisebol. Isso tudo é extremamente embaraçoso para os Mets, que têm um histórico de gastar dinheiro não sabiamente, mas também até certo ponto para Bonilla, pois há uma sensação de que ele está sendo pago por não fazer nada.

Ohtani não é apenas o jogador mais versátil desde Babe Ruth, mas agora parece que ele vai substituir Bonilla como a maior ilustração viva do Valor do dinheiro no Tempo. Presumo que todos os leitores estejam familiarizados com o conceito. Apenas por precaução: o dinheiro prometido a você no futuro vale menos do que o dinheiro na mão agora, e deve ser descontado pela taxa de juros que você poderia ter ganho com ele se o recebesse agora. Quanto maior a taxa de juros (ou "taxa de desconto"), mais dinheiro você está entregando ao adiá-lo para o futuro. O US$ 1,19 milhão que Bonilla recebe em 2035 valerá muito menos do que valeria em 2001, e tanto ele quanto o Mets sabiam disso quando fizeram o negócio.

Abaixo está a fórmula básica de matemática financeira que todos aprendem, com PV = valor presente, FV = valor futuro e r = taxa de juros. Parece simples, mas isso não impede que os alunos da primeira semana de MBA batam cabeça.

VP = FV/(1+r)

O mais interessante é que Ohtani é do Japão. Ele nasceu em julho de 1994 e, portanto, não se lembra de índices sequer de 1%. Os títulos japoneses de três meses estão rendendo menos do que isso desde pouco antes de ele completar dois anos. Para sua geração de japoneses, e de fato aqueles 10 ou 20 anos mais velhos, o Valor do dinheiro do Tempo tem sido um conceito irrelevante e acadêmico desde que eles podem se lembrar; US$ 1 milhão em 10 anos vale tanto quanto US$ 1 milhão hoje, se você não precisar disso agora.

Tenho certeza de que Ohtani e seus assessores sabem de tudo isso. Mas ainda é fascinante que esse contrato excepcionalmente agressivo tenha sido proposto por alguém japonês. Tantas coisas são possíveis se você estiver acostumado com a ideia de que há pouco ou nenhum custo para esperar. Todas as afirmações a seguir têm um grau de verdade para eles:

Ohtani nunca recebera US$ 700 milhões ou US$ 70 milhões por ano. Descontado no rendimento atual de 10 anos, vale US$ 46 milhões por ano pelos próximos 10 anos (aparentemente, eu estava com preguiça de verificar; esse é o número oficial da Major League Beisebol).

Ao estruturar o negócio dessa forma, Ohtani dá aos Dodgers muito mais dinheiro para gastar em outros bons jogadores enquanto ele está jogando por eles. Isso é puramente para seu benefício. Enquanto isso, os Dodgers estão correndo um risco. Se eles de alguma forma não ganharem um monte de campeonatos com Ohtani, os pagamentos que continuarão fazendo a ele até 2044 serão ainda mais embaraçosos do que os pagamentos do Mets a Bobby Bo. Eles também tornarão muito mais difícil para contratarem novos bons jogadores nesse período.

Estruturar os pagamentos dessa forma dá a Ohtani a chance de ir para algum lugar com impostos muito mais baixos do que a Califórnia antes de receber seu dinheiro. (Embora isso esteja sujeito a quaisquer leis contra evasão fiscal e lavagem de dinheiro que esteja em vigor daqui a 10 anos).

Ohtani está recebendo tanto que pode se dar ao luxo de esperar até completar 40 anos para receber seu dinheiro. Sua renda de endosso já é fabulosa. Ninguém lhe pagaria US$ 70 milhões em 2024 – mas ele é rico o suficiente e confiante o suficiente em seu poder aquisitivo para abandonar dezenas de milhões no futuro.

Ohtani e seus assessores devem ter muita fé em Jerome Powell e no Fed (a quem ouviremos na quarta-feira). Se a inflação não voltar a cair e subir para dois dígitos, isso vai parecer um grande erro para ele.

Isso significa imortalidade para Shohei Ohtani. Mesmo que sua carreira no beisebol se esgote (improvável), seu lugar como o primeiro exemplo que os professores de finanças oferecem aos alunos de MBA no início do curso está garantido, por muito mais tempo do que seu contrato continuará pagando.

Todo o episódio mostra por que o Banco do Japão é tão cauteloso.

 O problema central que o Banco do Japão vem tentando combater durante praticamente toda a vida de Ohtani tem sido o colapso da crença de que há algum custo para adiar compras ou pagamentos. Se as taxas de juros são sempre zero, não há razão para não esperar. Se forem negativos, há até um motivo para adiar. Nessas condições, é difícil fazer com que as pessoas gastem, o consumo e o investimento parem e a economia permaneça constipada. Em países onde as pessoas esperam ter que pagar juros e estão acostumadas com o aumento dos preços, o adiamento parece muito mais caro, e por isso há maior urgência.

Você pode ler sobre a última reviravolta do Banco do Japão aqui; nossos repórteres em Tóquio foram informados de que o banco não vê urgência em mover as taxas overnight de volta para território positivo do seu nível atual de -0,1%. Na semana passada, como o Points of Return noticiou, comentários do vice-governador do BOJ de que algumas empresas poderiam até se beneficiar de taxas mais altas foram tomados como um indício de que uma medida poderia ser iminente - era mais realista vê-los como o início de uma campanha constante para preparar o povo japonês para a mudança.

As negociações salariais do Japão para começar o novo ano podem ser cruciais. Se os trabalhadores agirem como Ohtani e decidirem que não precisam pressionar por dinheiro aqui e agora para compensar a inflação do último ano, então pode ser muito mais difícil escapar do pântano deflacionário. Os últimos dados de inflação de preços ao produtor, mostrando aumentos ano a ano quase de volta a zero, são outro lembrete de que os rumores da morte da deflação japonesa podem ser muito exagerados. O gráfico a seguir começa no mês de nascimento de Ohtani:

 Fim de uma era?

 PPI japonês está quase de volta a zero




O episódio de Ohtani é um lembrete de porque o Japão, sozinho entre as principais economias, realmente quer que a inflação aumente. Ter taxas de juros positivas pode transformar o comportamento do consumidor e das empresas. O dilema é que mudar para taxas positivas muito rapidamente poderia estrangular o retorno da inflação antes que ela se consolide. E enquanto esperam, os japoneses e o resto de nós podemos pelo menos desfrutar de assistir a um jovem extraordinário que está revolucionando o beisebol e também, aparentemente, as finanças.

Imaginem um contrato deste tipo no Brasil, com a taxa de juros nos níveis atuais, poder-se-ia chegar a números absurdos, lógico, em reais. Mas quem se arriscaria a um contrato de 20 anos deste tipo?

Minhas considerações sobre esse contrato são: sobre o risco do contrato ser em valor fixo não é um grande problema, um telefonema para Wall Street e pronto, um contrato de swap de juros eliminam esse risco; sobre o imposto é valido, embora o governo poderia taxar mesmo que ele não more mais em Los Angeles, afinal, o serviço foi feito durante sua permanecia; agora o principal risco não foi tocado por Authers, e se o Los Angles Dodgers for rebaixado como vai conseguir pagar? Sem me alongar na questão seu contrato vai ter uma enorme redução de valor, passara a categoria de distress debt! Não venha me dizer que o fato de nunca ocorrido é uma garantia, veja o que aconteceu com o Santos. Em esportes o risco é muito elevado.

O indicie de inflação americano CPI veio dentro das expectativas subindo 0,3% no mês e 4% a.a. em 12 meses, o denominado core CPI que exclui combustíveis e alimentos subiu 0,1% no mês e foi para 3,1% em 12 meses. Agora, o que não foi ótimo foi o indicie chamado de SuperCore que exclui residência. Ele subiu 0,5% no mês e 4,10% em 12 meses. Não acredito que esses dados altera a decisão do Fed amanhã.

No post https://acertarnamoscabitcoin-vamos-devagar-bitcoin fiz os seguintes comentários sobre o SP500: ... “Ainda está obscuro qual a melhor forma de enquadrar o SP500 desde a alta que ocorre a partir do final de outubro” ...




Atualizei com uma nova contagem o SP500, não que solucionou a questão colocada acima, porém desta forma é possível deixar os dois indicies da bolsa americana com a mesma contagem. Nesse novo cenário, o SP500 estaria em seu último lance de altaonda (V) azul. Isso teria consequências importantes a se considerar: como podem observar no gráfico abaixo, existem dois níveis para o término dessa onda: 4.709 (alta de 1,5%) ou mais provável 4.813 (alta de 4%); depois uma correção terá andamento cujo objetivo que ainda serão mais bem calculados são: 4.242 / 4.087 / 3.938; por último lembrar que ondas 5 podem terminar antes.




Eu sempre posso estar errado na minha opção de contagem, essa alta foge dos padrões normais, muito forte, que pode indicar mais altas a frente, o que implica numa onda (v) azul terminando bem mais adiante. Eu optei pela versão conservadora em função da correção que se avizinha. Let the market speak!

O SP500 fechou a 4.643, com alta de 0,46%; o USDBRL a R$ 4,9658, com alta de 0,56%; o EURUSD a € 1,0797, com alta de 0,33%; e o ouro a U$ 1.979, sem variação.

Fique ligado!

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