Influências do imediatismo #ouro
Vivemos
numa era onde recebemos notícias 24 horas por dia, 7 dias por semana. Muitas
vezes são repetidas com pequenas mudanças. Nesse emaranhado de informações,
estamos sujeitos a tomar decisões de diversas ordens, incluindo investimentos.
Ontem comentei sobre os dados ruins da inflação nos EUA, já que aqui estamos
convivendo há alguns meses com essa situação.
O
articulista Barry Ritholtz, em seu blog The Big Picture, fornece uma visão
sobre como as pessoas reagem nessas situações.
O
Índice de Preços
ao Consumidor anunciado ontem de 6,2%
é
o mais alto que vimos este ano. Não me surpreenderia se esta for a maior alta
que veremos durante todo este ciclo. Tem havido suficiente debate sobre isso para
que eu não queira aumentar o barulho, ou repetir a mim
mesmo. Em vez disso, quero discutir algumas razões pelas quais parece
que temos tantas dificuldades com o conceito de "transitório".
Podemos entendê-lo intelectualmente, mas achamos mais difícil gerenciar emocionalmente. O matemático e filósofo francês Blaise Pascal resumiu nossas circunstâncias observando: "Todos os problemas da humanidade decorrem da incapacidade do homem de sentar-se sozinho tranquilamente em uma sala ."
É
ainda pior na era moderna. As forças por trás de nossa "incapacidade de
sentar-nos silenciosamente" incluem o ciclo de notícias 24/7, Efeitos de Recência, Mídias
Sociais, até mesmo FOMO — Fear of missing out
[Medo de perder o bonde]. Talvez o mais significativo de todos seja o conceito
de Tempo; mais especificamente, a
maneira como vivenciamos o tempo na era moderna.
Há
o Aqui
e Agora — praticamente só isso. Nossas memórias
são
lembranças falíveis, nostálgicas, propensas a erros e auto
editadas para nos fazer parecer e sentir-nos melhor. O futuro é
desconhecido e impossível de conhecer, é principalmente um pensamento positivo
que muitas vezes não consegue antecipar o (retrospectivamente)
óbvio, ao mesmo tempo que sempre deixa de ver o inesperado por completo.
E
nós
mal existimos dentro desses parâmetros. Raramente estamos presentes, ficamos
facilmente entediados, sempre procurando uma distração.
E o"agora
mesmo" é
o melhor que podemos esperar.
É alguma surpresa que tenhamos
dificuldades com o conceito de transitório?
Nossas
experiências com o tempo nem sempre foram assim.
Em seu livro,
Four
Thousand Weeks3 [Quatro Mil Semanas], Oliver
Burkeman explica que o próprio conceito de tempo era desconhecido
pela maioria das pessoas há apenas alguns séculos.
Os agricultores medievais não vivenciavam o tempo como "uma
entidade abstrata — como uma coisa", em vez disso seguiam
os ritmos da Natureza. Havia estações, regidas pelo movimento de planetas e
estrelas, ou os deuses, dependendo da sua escolaridade. Dia e noite, Inverno e
Verão. Não havia o sentido de que algo pudesse estar errado, mas de que não havia
nada para se preocupar, as coisas passariam em breve depois de algum período
(ou não), e então poderíamos voltar ao normal.
Não
é
assim que operamos hoje.
Hoje,
formamos uma ideia de que algo como a inflação poderia ser transitório,
poderia muito bem durar 6 ou 9 ou 12 meses, e depois desaparecer. Entendemos o
conceito de cadeias de suprimentos interrompidas e reabertura pandêmica.
Colocamos essa ideia dentro de uma estrutura intelectual mais ampla, imaginando
como ela afetará o Comércio Global, o Fed, e o Mercado de Títulos, e até mesmo
a Casa Branca. Lemos sobre ela, pesquisamos, computamos os números, fazemos as
comparações históricas. Nós entendemos completamente a ideia e a arquivamos em
nossas próprias memórias.
Tudo
isso aconteceu em uma segunda-feira
aleatória em março.
O
dia seguinte trouxe outros dados consistentes com ela. Então,
no dia seguinte, alguns dados foram maiores; no dia seguinte mais baixos. Os
mercados balançaram e viraram, o fluxo de notícias acelerou. Todos os
dias depois, havia uma nova narrativa da hora, outro meme, um novo thread no
Twitter. Guerras de preços por moradias! Preços dos carros usados! Relatórios
de ganhos trimestrais incluíam CEOs mencionando a inflação. O Google Trends viu
um grande aumento nas pesquisas sobre a inflação. Os preços da madeira subiram
(depois caíram), assim como o Carvão, o Aço, e o Petróleo. Os preços da carne
subiram bem a tempo do Dia de Ação de Graças. Histórias intermináveis sobre
aumento de preços. Sabe quanto custa
comprar 12 galões de leite por semana? Não, por que alguém deveria saber disso?
Dia
após dia, uma interminável
enxurrada de notícias e comentários de entendidos e dados e
ruídos.
Tudo
isso, não por coincidência, na verdade confirma
a tese original de que a inflação causada pelas cadeias de suprimentos interrompidas e a reabertura vacinada
pós-pandemia
fariam os preços subirem antes que caíssem
ao normal.
Aqui
estamos nós, no Aqui e Agora,
com os
dados mais recentes do CPI, e com as máximas de 30 anos, não
há
nada nos dados que também não confirme
essa tese. Entendemos tudo isso, e
ainda assim — AINDA ASSIM — não temos a capacidade de nos sentarmos
sozinhos tranquilamente em uma sala.
A ideia trazida por Bary Ritholtz é a de que a alta
da inflação era totalmente esperada e que, até que prove não ser temporária,
não se deve projetar um descontrole inflacionário, e que a reação dos mercados
foi muito mais do que se poderia esperar por causa da manchete do número.
Existem alguns analistas, porém, que não têm uma
visão tão otimista, pois não acreditam que os argumentos para a alta da
inflação sejam oriundos da Covid, como é descrito no relatório da Gavekal,
mediante a resposta a algumas perguntas:
A
China está pronta para reabrir?
Não. Parece provável que a China permanecerá fechada até após as Olimpíadas de
Pequim em fevereiro, e talvez até depois do congresso do Partido Comunista em
outubro próximo, quando Xi Jinping está definido para obter um terceiro
mandato. Concretamente, isso significa que empresários estrangeiros acharão
difícil visitar a China para verificar suas cadeias de abastecimento e, assim,
melhorar a sua eficiência.
A
falta de semicondutores é devida à Covid? Não. As sementes de hoje da escassez de
semicondutores foram plantada quando a guerra comercial EUA-China se
transformou em uma guerra tecnológica, criando incerteza para produtores de semicondutores,
que reagiram restringindo os gastos de capital.
A
falta de energia de hoje está ligada à Covid? Não. Tem mais a ver com destruição de
capital vista no setor na última década, o impulso ESG e a retórica da
transição de energia. Tudo isso aumentou o custo de capital das empresas de
energia, fazendo-os retornar capital aos acionistas, em vez de perfurar novos
poços de petróleo. Mesmo com a alta dos preços do petróleo, os 50 maiores
produtores de energia dos EUA, em conjunto, não planejam um aumento de gastos
de capital. E por que será o fariam quando as manchetes gritam sobre a
necessidade de descarbonizar rapidamente? Assim, na ausência de uma recessão
global, a escassez de energia deve durar.
Se
todas as empresas fossem reabertas, os deslocamentos da cadeia de abastecimento
desaparecessem e os trabalhadores aparecessem, poderíamos produzir o suficiente
para atender a demanda?
Provavelmente não. Nos últimos dois anos, o mercado altista em tudo impulsionou
o patrimônio líquido das famílias dos EUA em cerca de US $ 29 trilhões — um aumento
recorde em tempo tão curto. O resultado provavelmente será um aumento no
consumo por um bom tempo. Mas a produção conseguirá acompanhar? Uma das
principais preocupações é que nos últimos 18 meses de Covid, poucas pessoas
terão começado a construir uma nova fábrica, treinar uma nova força de trabalho
ou perfurar um novo poço de petróleo. O consequente desequilíbrio oferta-demanda,
portanto, parece sustentar preços mais altos por mais tempo. A menos que, claro,
os preços dos ativos virem para baixo e destruam os ganhos dos últimos anos.
Juntando
tudo, fico com a crença de que a inflação de hoje é ou o resultado das
políticas fiscais e monetárias malucas atuais ou, alternativamente, o resultado
da desglobalização. Assim, para a inflação cair, precisaríamos ver uma mudança
na combinação de política fiscal / monetária nas principais economias do mundo,
da quais existem pouquíssimos sinais. Alternativamente, precisaria haver um
compromisso renovado com a globalização, mas neste aspecto as coisas parecem estar
indo na direção errada.
Nitidamente,
existe uma aposta em curso de dois grupos distintos, que irei chamar assim:
Temporários - São aqueles que
acreditam de uma maneira geral que a alta recente de inflação não vai perdurar
no futuro e deveria retornar aos padrões do primeiro mundo, ao redor de 2% a.a.
Nesse grupo, estão analistas da maior parte dos bancos e a grande maioria dos bancos
centrais dos países desenvolvidos.
Definitivos
– São
aqueles que acreditam que a inflação está em curso vai permanecer e deveria
continuar subindo pela inação dos bancos centrais. Nesse grupo, estariam empresas
de Research como a Gavekal, e alguns economistas de renome como Mohamed El
Erian e outros, bem como alguns bancos centrais que já iniciaram um movimento
de alta dos juros como o BCB.
E
onde se posiciona o Mosca? Agnóstico! Ver para crer, porém, mais
importante de tudo, se guiando pelo mercado através da análise gráfica.
No
post onde-está-john-ouro, fiz os seguintes comentários sobe o ouro: ...” estamos dentro de uma correção que pode ou não manter
a configuração que espero. Demarquei os níveis de risco, com o stop
loss em U$ 1.834. Se por acaso formos executados, poderá ser por dois
motivos: o movimento de alta que estou esperando está em curso — teria terminado no ponto W; ou a correção está tomando
outro curso” ...
Na semana passada, fomos stopados nessa posição no zero a zero; logo que sugeri o trade, notei depois de alguns dias que a configuração não estava seguindo o que eu esperava, razão de ter apertado o stop loss.
Como
mencionei acima — destaque feito agora —, ou o ouro pode estar em outra
configuração, ou o movimento de alta está em curso. Minha preferência ainda é
pelo primeiro caso. Como podem notar a seguir, minha hipótese agora se baseia
na formação de um triângulo.
Nessa conjectura, o ouro estaria num estágio avançado do triângulo na onda (D) em azul, que daria curso a uma queda para a formação da onda (E). A vantagem nesse caso é que temos parâmetros bem claros a seguir: A onda (D) não deveria ultrapassar U$ 1.916, caso isso aconteça a opção triangulo estará eliminada e a chance de o metal subir se eleva.
Caso o triângulo se confirme, a queda na onda (E) deveria levar o ouro a U$ 1.752, em seguida, estaria pronto para subir e ultrapassar a máxima histórica de U$ 2.072.
Como
podem perceber, a tese de alta do ouro que o Mosca tinha de longa data
pode estar se concretizando. Desde junho de 2020 se encontra em idas e vindas,
mas parece que o momento está se aproximando. No curto prazo, devo acompanhar o
desenrolar dos próximos dias.
Quero
aproveitar para enfatizar como é “chato” aguardar uma correção terminar. A princípio
não se sabe a extensão da retração, nem sua configuração, nem tão pouco o
prazo.
Nesses
momentos, qualquer trade deve ser executado nos extremos, os stop loss curtos,
pois mesmo que esteja certo na direção de longo prazo pode perder dinheiro.
Isso
não significa que não possa posicionar de maneira contraria ao movimento maior,
porém, se deve estar consciente que, se estiver errado, precisa zerar para não
se tornar um torcedor de algo que não acredita, somente por ter uma posição. O
trade recente se enquadra nesse caso, entramos e saímos no zero a zero, pois o
mercado não estava seguindo de acordo com minha hipótese, mas não viramos
torcedor, e assim, abertos para mudar de direção.
O
SP500 fechou a 4.649, sem alteração; o USDBRL a R$ 5,3989, com queda de 1,68%;
o EURUSD a € 1,1449, com queda de 0,27%; o ouro a U$
1.861, com alta de 0,66%.
Fique
ligado!
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