Inflação causa raiva #usdbrl

 


Uma das muitas distorções que ocorreram depois da pandemia é o sentimento dos americanos. É esperado que a população fique feliz quando a economia está indo bem. Entretanto, não é o que se nota recentemente nos EUA, onde o PIB cresceu substancialmente, porém a pesquisa de sentimento está na mínimas.




À primeira vista somos levados a acreditar que é ainda consequência da pandemia – receio enraizado— ou uma distorção que será ajustada no tempo. Acredito que não é nenhuma das duas. Dois artigos publicados sobre esse tema revelam motivos distintos: Reade Pickert comenta na Bloomberg que o motivo é a expectativa de inflações mais elevadas no futuro, segundo essa pesquisa. O consumidor acredita que a inflação para os próximos 5 a 10 anos será de 3,2%, acima dos 3% da pesquisa anterior.




Acredito que Reade bateu na trave, não acredito que uma pesquisa de inflação para um prazo tão longo possa afetar o sentimento hoje. Robert Armstrong comenta na sua coluna Unhedged um outro motivo mais palatável em meu entender.

Uma queixa comum entre os partidários democratas é que Joe Biden e seu partido não recebem crédito por uma economia forte, que apresenta níveis de emprego e crescimento real à frente dos vistos no resto do mundo desenvolvido. E o sentimento não está melhorando, mesmo com a taxa de inflação caindo e os mercados encenando uma recuperação. A leitura preliminar de novembro para a pesquisa de sentimento do consumidor da Universidade de Michigan foi de  60,4, a mais baixa desde maio e consistente com a tendência miserável que se estende por quase dois anos:




Na Unhedged, não achamos isso nada surpreendente. Os preços subiram quase 20% desde o início da pandemia; o preço dos alimentos subiu 24%, a energia 37%. Que isso faça o mundo parecer maligno e imprevisível é natural. Não importa que os salários, em média, tenham acompanhado o ritmo. Se eu recebo um aumento, eu ganho; não é um mero sintoma de uma forte produção nacional. Se o preço dos alimentos está subindo, isso é uma economia ruim, ou culpa do governo. Também não importa que a taxa de inflação tenha caído. As pessoas não veem a taxa de mudança do lado de um galão de leite. Eles veem um preço muito diferente do que já foi.

Mesmo assim, pode-se perguntar por que o sentimento não melhorou, mesmo quando indiscutivelmente o preço mais importante de todos – a gasolina – caiu nas últimas seis semanas. Isso pode ser explicado pelo fato de que, embora o sentimento do consumidor possa cair rapidamente, ele demora a se recuperar. É como uma reputação pessoal: construída lentamente, perdida em um instante. Observe como o sentimento (a linha azul no gráfico abaixo) caiu muito rapidamente nas recessões de 1991, 2001 e 2008, mas depois demorou para voltar a um nível consistentemente alto.




O momento atual pode parecer um pouco estranho, na medida em que o sentimento do consumidor e as mudanças nos gastos reais (a linha rosa) parecem acompanhar um ao outro historicamente, mas agora estão se separando. Como as pessoas podem sentir que os tempos são ruins e, ainda assim, continuar gastando alegremente? Bem, se você aceitar que as pessoas acreditam que as mudanças nos preços nominais são algo ruim por si só, qualquer que seja a renda nominal que esteja fazendo, esse mistério desaparece. Sentimento e gastos não precisam viajar juntos.

Essa é uma conclusão que deveria fazer qualquer governante com intenções de se reeleger não descuidar nenhum minuto dos índices de inflação. O emprego também é importante e é uma condição necessária, mas não suficiente, para garantir a reeleição. Isso me remete ao país vizinho, Argentina que se encontra a uma semana de suas eleições para presidente. De um lado um maluco – assim se denomina — Javier Milei e o socialista Sergio Massa que ocupa o cargo de ministro da Economia no atual governo. A eleição será no próximo domingo cujas pesquisas apontam um empate técnico.

Um documento de apoio a Milei foi assinado por vários ex-líderes sul-americanos. Dentre os nomes o que chamou minha atenção foi Mario Vargas Llosa, ganhador de prêmio Nobel de Literatura. O comunicado diz: o candidato governista Sergio Massa representa a continuidade de um modelo econômico “fracassado” que jogou o país “em permanente estagnação durante décadas”. Se as conclusões acima forem verdadeiras, Milei deveria ser eleito presidente pois no quesito inflação nuestros Hermanos têm a medalha de ouro. Saberemos em breve.

Quanto às boas notícias vindas dos EUA sobre crescimento do PIB, quando observadas em valores reais este é menos pujante do que parece. O gráfico abaixo deixa claro que o PIB cresce de acordo com a curva que prevalece de longo prazo e não houve a aceleração que se mostra em valores nominais. Talvez esse também seja o motivo do mau humor dos consumidores.




No post melhora-pero-no-mucho fiz os seguintes comentários sobre o dólar: ... “ No momento, o patamar está em teste e ,caso não ocorra a reversão, o próximo será ao redor de R$ 4,80 conforme destacado com o símbolo em verde” ...




Vou partir da hipótese que a correção da onda (B) azul terminou. O motivo não é extremamente convincente, mas num intervalo de 1 hora se pode notar 5 ondas que ocorreu na semana passada (destacada com a elipse). Em todo caso, vou aguardar o rompimento do nível de R$ 4,9538, ou ainda melhor se houver uma retração que levaria o dólar em algum ponto não inferior a R$ 4,8577.




Muito cuidado se deve tomar em situações semelhantes ao que ocorre com o dólar – movimento complexo de correção, para não se deixar influenciar pelo viés da análise. Existe uma tendência de “querer estar certo” não observando as regras da análise técnica, como fazer vistas grossas a situações ainda não confirmadas.

O leitor assíduo sabe que tenho a visão de alta do dólar há muito tempo, e nesse período houve falsos movimentos nesse sentido. Procurei, e procuro ser diligente, mas também sou humano. Bem, se eu me precipitar, o stop loss é meu guardião.

O SP500 fechou a 4.411, sem alteração; o USDBRL a R$ 4,9095, com alta de 0,13%; o EURUSD a 1,0697, com alta de 0,15%; e o ouro a U$ 1.946, com alta de 0,47%.

Fique ligado!

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