Economistas só pensam naquilo: alta de juros! #IBOVESPA
Durante minha vida profissional, me deparei com muitos
economistas e posso dizer: são profissionais diferentes. Poderia dividir em
dois grupos distintos quanto a sua opinião sobre política monetária: aqueles
que detestam esse instrumento e sempre acham que os juros estão altos, e os que
adoram e continuamente acreditam que devam subir. Esse último grupo tem até um
nome oriundo do maior defensor, o economista Milton Fridman, de monetaristas,
eu chamaria de juristas
No primeiro grupo, não poderia deixar de destacar dois que
ficaram muito próximos a mim: Ibrahim Eris – ex-presidente do Banco Central
brasileiro e Luis Paulo Rosenberg, ambos meus sócios na Linear. Não me recordo de
nenhuma vez em que os vi sugerindo alta de juros — talvez esteja exagerando,
mas é como eu os visualizo. Esse grupo tem uma visão mais socialista, enquanto
o outro uma visão mais de mercado.
Num ciclo de alta de juros ponto ótimo é aquele em que o
nível é suficiente para acalmar a demanda e levar a inflação para os níveis
desejados, sem fazer com que a economia entre em recessão. Assistindo da
numerada, é fácil criticar o banco central por ter feito de mais ou de menos,
mas é uma tarefa muito difícil. A autoridade monetária se baseia numa pilha de
dados onde parte é atrasada, parte é sentimento tanto dos consumidores como dos
empresários, e parte é real. Mesmo que isso fosse suficiente, sempre existe a
incógnita do ser humano, que não necessariamente reage com a lógica.
Hoje acabei de me deparar com uma delas. O mercado
imobiliário americano é movido a crédito desde seu início, praticamente ninguém
compra uma casa a vista e uma parcela significativa do valor (~70%) é
financiada em prazos muito longos de 30 anos. Até pouco tempo atrás, a taxa
para esse fim era de 3,6% a.a. e com a alta dos juros hoje está próxima dos 8%
a.a. Por exemplo: um valor de U$ 500.000,00 teria uma prestação de U$ 2,3
mil/mês com juros de 3,6% a.a., enquanto com uma taxa de 8 % a.a. a prestação
iria para U$ 3,7 mil, um aumento de 60%. Tudo indicaria uma retração nesse
mercado, e os preços tenderiam a no mínimo cair pouco. Veja o que está
acontecendo.
A maior parte do mercado está apostando que o ciclo de alta de juros terminou. Hoje tem reunião do Fomc, e é esperado que o Fed não aumente, porém deixaria a porta aberta se precisar aumentar mais à frente. O mercado acha que a segunda opção é história para boi dormir e daqui em diante se deve esperar quando começará os cortes. Mas um economista do grupo monetarista, Bill Dudley, comenta na Bloomberg que não é bem assim.
O Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) acha que pode fazer uma pausa. Na visão das autoridades do Fed, eles precisam apenas sentar e esperar enquanto se instala o aperto monetário que já fizeram gradualmente, desacelerando a economia e empurrando a inflação de volta para a meta de 2% do banco central.
Eles podem estar cometendo um grande erro.
As autoridades podem oferecer vários argumentos para manter
as taxas de juros em espera, que é o que os mercados esperam que elas façam na
reunião do Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc, na sigla em inglês).
Registaram-se progressos consideráveis no restabelecimento do equilíbrio do
mercado de trabalho e na redução da inflação. A política monetária atingiu um
cenário restritivo. Os efeitos totais dos anteriores aumentos das taxas de juro
ainda não foram sentidos, e a recente subida dos yields das obrigações aperta
as condições do mercado financeiro, negando a necessidade de novas altas das
taxas de curto prazo.
Vejo quatro falhas potencialmente fatais nesse pensamento.
Primeiro, o mercado de trabalho – embora em melhor
equilíbrio – ainda está muito apertado para que o Fed atinja sua meta de
inflação de 2%. Os empregadores não agrícolas têm criado cerca de 275.000
empregos por mês, superando em muito o crescimento sustentável da força de
trabalho. A proporção de vagas não preenchidas por trabalhadores desempregados
permanece em 1,5, bem acima da proporção de 1 para 1 que o chair do Fed, Jerome
Powell, considera apropriado. A inflação salarial permanece acima de 4%, o que
– salvo crescimento inesperadamente rápido da produtividade – não é consistente
com a inflação geral de 2%.
Em segundo lugar, o desempenho da economia sugere fortemente
que a política monetária não é suficientemente restritiva. O Produto Interno
Bruto (PIB) aumentou a uma taxa anualizada ajustada pela inflação de 4,9% no
terceiro trimestre de 2023, superando em muito a média anual de 20 anos de
2,1%. Mesmo que o crescimento desacelere acentuadamente no quarto trimestre,
está longe de ser certo que a folga econômica será suficiente para empurrar a
inflação para baixo.
Em terceiro lugar, a política monetária não opera com as
mesmas defasagens de antes. As condições financeiras se movem mais rapidamente,
antecipando mudanças nas taxas de juros de curto prazo, porque as autoridades
do Fed são muito mais transparentes sobre a política monetária. Para evidenciar, considere o próprio índice de condições financeiras do
Fed, apresentado neste verão. A versão com uma retrospectiva de
um ano mostra que o aperto atingiu o pico em dezembro de 2022, muito antes de a
taxa de fundos federais atingir seu auge. No final de setembro, o arrasto
incremental sobre a atividade econômica do ano seguinte havia se dissipado.
Em quarto lugar, a noção de que taxas de juros de longo
prazo mais altas podem substituir um aperto monetário adicional depende
criticamente do motivo pelo qual as taxas de longo prazo aumentaram.
Autoridades como a presidente do Fed de Dallas, Lorie Logan, e o chair Powell parecem acreditar que os investidores de títulos
estão simplesmente exigindo mais rendimento para emprestar por mais tempo (ou
seja, os prêmios de prazo aumentaram). Isso justificaria manter as taxas de
curto prazo mais baixas. Há, no entanto, explicações menos benignas. Os
rendimentos mais altos dos títulos podem refletir um aumento na taxa de fundos
federais "neutra" acima da qual a política monetária se torna
restritiva, ou podem indicar um aumento das expectativas de inflação. Em ambos
os casos, seriam necessárias taxas de curto prazo mais elevadas para exercer o
mesmo grau de restrição.
É difícil saber qual explicação está certa. A força da
economia sustenta a noção de que a taxa neutra é maior. Maiores gastos de
investimento atrelados à transição climática, bem como menor poupança devido a
déficits fiscais crônicos, apontam na mesma direção. Também há evidências de
que as expectativas de inflação estão aumentando: na Pesquisa de Consumidores
da Universidade de Michigan, as expectativas de inflação de um ano subiram de
3,2% em setembro para 4,2% em outubro, e as expectativas de longo prazo subiram
de 2,8% para 3%.
As autoridades do Fed estão tentando atingir duas metas:
reduzir a inflação para 2% e evitar uma recessão. Isso cria o risco de um erro.
Se a política monetária não for apertada o suficiente para empurrar a inflação
para 2% relativamente rapidamente, as expectativas de inflação podem derivar
para cima, reduzindo as taxas de juros ajustadas pela inflação e tornando a
política monetária menos apertada. Se isso acontecer, o Fed terá que agir de
forma muito mais agressiva para controlar a inflação, causando muito mais danos
econômicos ao longo do caminho.
Na década de 1980, o então presidente do Fed, Paul Volcker,
teve que infligir uma severa recessão aos EUA para desfazer os erros de seu
antecessor Arthur Burns, que permitiu que a inflação saísse do controle nos
anos 1970. Powell está amplamente ciente da história. No entanto, ele corre o risco de repeti-la.
Não tem como contestar os argumentos de Bill Dudley, um
economista sério e de renome, sendo ex-membro do Fed. O estabelecimento da
política monetária pode ser comparado a uma arte, cuja eficácia infelizmente só
se sabe ex-post. Não é instrumento de político — Lula e seu embate com
Campos Neto — ou conversa de botequim dos “Faria Limers”, como são chamados os
executivos financeiros hoje em dia – na minha época seria os “Avenida Paulisters”
Hahaha ....
Agora, Dudley poderia fazer parte do programa do Chico
Anysio, no quadro em que a Zezé de Macedo terminava: “ele só pensa naquilo”. Zezé
mudaria um pouco o contexto, mas manteria a frase para Dudley, com os juros
subentendidos naquilo!
No post energia-foi-uma-moda fiz os seguintes
comentários sobre o Ibovespa: ...” O gráfico abaixo contempla essa
possibilidade cujo objetivo final seria ao redor de 100 mil. Para que essa
opção se concretize é necessário que o nível de 111,6 seja rompido. Do outro
lado, acima de 117 mil coloca o IBOVESPA “na terra de ninguém”” ...
Está difícil de ter uma opinião mais assertiva sobre a bolsa brasileira. No curto prazo não consigo ter uma julgamento diferente de 50/50 para cima ou para baixo. Na semana passada coloquei a opção para baixo, agora vou colocar a opção para cima. No gráfico apontei com o símbolo em verde qual seria o objetivo nesse caso – 130 mil. Precisa antes ultrapassar 117 mil. Investir não é como jogar no Cassino onde as chances na Roleta é 47% de ganho e 53% de perda. Apostar agora seria semelhante considerando as corretagens. Vou esperar as 5 ondas vantagem da análise técnica em relação ao Cassino!
O SP500 fechou a 4.237, com alta de 1,05%; o USDBRL a R$ 4,9715, com queda de 1,25%; o EURUSD a € 1,0567, sem alteração; e o ouro a U$ 1.978, com queda de 0,23%.
Fique ligado!
Excelente escrita. E que potencia esta economia dos EUA.
ResponderExcluirImpressionante!
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