Europa na linha de tiro #S&P500

 


O euro, desde sua criação, tem sido um experimento ousado, mas problemático, como o Mosca sempre destacou. Países com economias tão distintas, como Itália e Alemanha, jamais poderiam compartilhar uma moeda única sem atritos. Na década de 1990, enquanto a Itália lidava com juros de 8% a 9% ao ano, a Alemanha operava com taxas de 3%. Essa disparidade, que já evidenciava diferenças estruturais, foi mascarada pela intervenção do Banco Central Europeu (BCE), que equalizou os juros por meio da compra de papéis. Contudo, essa uniformidade artificial não resolveu o cerne do problema: a incapacidade do bloco de sustentar taxas de crescimento comparáveis às de outras economias ocidentais. A rigidez do euro, somada às tensões geopolíticas e às ameaças tarifárias dos Estados Unidos, coloca a Europa em uma posição cada vez mais delicada.

No curto prazo, a chegada de Donald Trump à Casa Branca intensificou as pressões sobre o bloco. Sua decisão de suspender o apoio financeiro e militar à Ucrânia deixou o país exposto à intensificação dos ataques russos. A Europa, que poderia preencher esse vácuo, limita-se a discursos inflamados, enquanto a falta de ação concreta expõe sua fragilidade geopolítica. Trump, com sua retórica de “Putin ficou louco”, parece mais inclinado a gestos teatrais do que a intervenções decisivas. A Europa, por sua vez, hesita em assumir a liderança, seja por falta de unidade ou por receio de escalar o conflito. Essa inércia não apenas compromete a Ucrânia, mas sinaliza uma vulnerabilidade que pode ser explorada por adversários.

Paralelamente, a ameaça de tarifas de 50% sobre produtos europeus, agora postergada para 9 de julho de 2025, conforme noticiado pelo Wall Street Journal, adiciona uma camada de incerteza econômica. A prorrogação, negociada após um apelo da presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, oferece um respiro temporário, mas não elimina o risco. Trump, com sua visão de que a União Europeia foi criada para “tirar vantagem” dos EUA, mantém uma postura beligerante, criticando desde o déficit comercial de US$ 250 bilhões até os impostos sobre valor agregado (VAT) e regulações europeias. A pressão é clara: ou a Europa cede às demandas americanas, ou enfrentará um impacto econômico devastador. Segundo a Bloomberg Economics, tarifas de 50% poderiam reduzir as exportações europeias aos EUA pela metade, um golpe especialmente duro para a Alemanha, que já enfrenta projeções de crescimento zero.




A reação dos mercados a essas ameaças tarifárias tem sido surpreendentemente contida, como apontado por John Authers em seu artigo na Bloomberg. Após um breve susto, o índice Stoxx 600 recuperou rapidamente o terreno perdido, refletindo a percepção de que as ameaças de Trump são, em parte, táticas de negociação. Analistas como Maximilian Uleer, do Deutsche Bank, observam que os investidores estão cada vez mais céticos quanto à implementação dessas tarifas, considerando o histórico de recuos do presidente americano. Contudo, essa aparente calma não deve ser confundida com complacência. A Europa enfrenta um dilema: ceder às exigências de Trump, sacrificando políticas como o VAT, que gera €1 trilhão anualmente, ou preparar-se para retaliar, possivelmente mirando o setor de tecnologia americano, que depende da Europa para 20-30% de sua receita.




A escalada das tensões comerciais coincide com um momento de introspecção para a Europa. A dependência do bloco em parceiros externos, como os EUA, para sua prosperidade econômica é um ponto fraco que Trump explora habilmente. Lionel Laurent, em sua coluna na Bloomberg, sugere que a Europa deve usar essas pressões como um catalisador para reformas internas. Um aumento de apenas 1% no comércio intraeuropeu, segundo economistas do BNP Paribas, poderia compensar uma queda de 10% nas exportações para os EUA. Isso exige, no entanto, a remoção de barreiras domésticas e uma mudança na mentalidade de países como a Alemanha, onde a frugalidade fiscal limita investimentos em crescimento.

Geopoliticamente, a Europa também precisa responder à sua crescente marginalização. A relutância em assumir um papel mais assertivo na defesa da Ucrânia, aliada à dependência de fornecedores americanos para sua segurança, reforça a percepção de fraqueza destacada por Antony Blinken em entrevista ao Le Figaro. A ascensão de empresas como a Rheinmetall, impulsionada pela demanda por armamentos, é um sintoma dessa mudança de prioridades, mas não uma solução completa.




O Mosca sempre defendeu que a Europa precisa de uma estratégia coesa para enfrentar esses desafios. A prorrogação do prazo tarifário até julho oferece uma janela de oportunidade, mas não uma garantia. A UE deve negociar com firmeza, oferecendo concessões estratégicas, como maior compra de gás natural liquefeito dos EUA, sem abrir mão de sua soberania econômica. Ao mesmo tempo, precisa acelerar reformas internas para desbloquear o potencial do mercado único. A alternativa é um futuro de estagnação econômica e irrelevância geopolítica.

A Europa está na linha de tiro, entre a retórica imprevisível de Trump e a agressividade russa. Como o Mosca já apontava, o euro não é a solução para as disparidades do bloco, e a falta de crescimento robusto apenas amplifica suas vulnerabilidades. A próxima década será decisiva: ou a Europa se reinventa, ou corre o risco de ser esmagada pelas forças globais que a cercam. A força, como Blinken observou, é o que Trump respeita. Cabe à Europa demonstrá-la. Sendo assim, é provável que daqui a 10 anos o Mosca continuará com críticas abrasivas a Europa.

 

Análise Técnica

No post “o-fim-da-moleza-monetária” fiz os seguintes comentários sobre o S&P 500: “A onda C azul pode estar próxima de seu fim, no nível atual, ou buscar a faixa de 6.210/6.230, destacada no retângulo do gráfico. No momento, o Mosca prefere observar de camarote, com o gráfico na mão e sem pressa para agir”




Atualmente, considero a sequência de ondas em vermelho como uma formação diagonal. Caso essa interpretação esteja correta, a onda (4) vermelha deve interromper o otimismo predominante no mercado, com uma queda adicional de cerca de 5%. No entanto, essa configuração não é definitiva, e também avalio uma contagem mais tradicional para essas cinco ondas em vermelho. É importante destacar que não posso descartar a possibilidade de a onda 4 azul ainda estar em formação, possivelmente na forma de um triângulo. Somente acima do nível de 6.099 será possível eliminar essas incertezas. Por enquanto, mantenho-me sem posição neste mercado.




O S&P 500 fechou a 5.921, com alta de 2,05%; o USDBRL a R$ 5,6449, com queda de 0,44%; o EURUSD a € 1,1329, com queda de 0,51%; e o ouro a U$ 3.304, com queda de 1,14%.

Fique ligado!

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