O Fim da moleza Monetária #S&P 500

 


A questão da dívida pública, como apontado pelo Mosca, não é um problema até que se torna um. E, em maio de 2025, o mundo financeiro parece ter acordado para essa realidade, com os holofotes voltados para Japão e Estados Unidos, onde déficits colossais começam a gerar consequências palpáveis. No Japão, a dívida de 240% do PIB, outrora financiada a juros irrisórios, agora enfrenta um mercado de títulos em colapso, com os juros disparando após um leilão de bonds de 20 anos com a pior demanda em mais de uma década. Nos EUA, a recente desclassificação da dívida soberana pela Moody’s, embora minimizada pelo mercado, acende um alerta sobre a sustentabilidade fiscal. Este texto mergulha nessas dinâmicas, misturando a audácia de questionar dogmas financeiros com a sofisticação de análises que conectam mercados globais, mantendo a consistência com o tom do blog Acertar na Mosca.

O Japão, como destacado pelo Mosca, sempre foi um enigma no mercado de moedas. Como uma nação com dívida tão elevada — maior que a de qualquer grande economia — pôde manter o iene como moeda de refúgio? A valorização histórica do iene, de ¥350 em 1971 para ¥75 em 2011, reflete uma confiança que desafia a lógica, mas que agora parece esgotada. Com o iene cotado a ¥145, a “moleza” do Banco do Japão (BOJ) enfrenta um teste de fogo. O leilão de bonds de 20 anos em maio de 2025, com um bid-to-cover ratio no menor nível desde 2012 sinaliza que investidores estão receosos. Os juros de 20, 30 e 40 anos atingiram máximas históricas, com o de 20 anos subindo 15 pontos-base, refletindo temores sobre a retirada do BOJ do mercado de títulos e a incapacidade de compradores tradicionais, como seguradoras, de preencher o vácuo.

Essa dinâmica japonesa ecoa preocupações globais sobre o financiamento de dívidas em um ambiente de juros crescentes. Nos EUA, o rebaixamento da Moody’s, embora tenha causado apenas uma breve turbulência no S&P 500, reforça o argumento do Mosca: déficits crescentes, antes projetados como problemas futuros, estão batendo à porta. A dívida americana, agora superada em rating por dez outros países, como Alemanha e Canadá, enfrenta um mercado onde investidores estrangeiros reduzem sua participação em leilões de Treasuries de 30 anos. Como apontado por John Authers, a falta de demanda externa e a sobrevalorização do dólar — 20% acima da paridade de poder de compra — sugerem que o “rei dólar” pode estar perdendo seu trono.




O Japão, no entanto, enfrenta um desafio estrutural mais grave. A combinação de uma demografia em colapso e políticas que sustentam “firmas zumbis” — empresas mantidas vivas por empréstimos subsidiados — explica sua estagnação econômica. Desde 2000, o PIB japonês cresceu apenas US$200 bilhões, um desempenho inferior ao de Nigéria e Paquistão. Como detalhado por Maxwell Tabarrok, a população em idade ativa do Japão é a menor desde 1973, e a taxa de fertilidade está entre as mais baixas do mundo. Isso reduz a força de trabalho e a inovação, com a taxa de patentes por trabalhador caindo desde 2000. As firmas zumbis, que saltaram de 7% em 1990 para 30% em 1996, drenam recursos de setores produtivos, travando a destruição criativa essencial para o crescimento.





Este gráfico mostra a explosão de firmas zumbis no Japão, evidenciando como políticas de crédito frouxo perpetuam ineficiências econômicas.

Apesar disso, o Japão mantém uma qualidade de vida invejável, com habitação acessível, infraestrutura impecável e baixíssimos índices de criminalidade. A política de zoneamento nacional, com apenas 12 zonas inclusivas, contrasta com a rigidez ocidental e permite construção abundante, mantendo preços de moradia baixos. A ordem social, reforçada por uma população idosa e baixa imigração, garante segurança e limpeza. Contudo, como alerta Tabarrok, essa fundação está sob pressão: o peso da demografia e das firmas zumbis pode rachar até as bases mais sólidas.

Nos EUA, o cenário é menos dramático, mas não menos preocupante. A resiliência do S&P 500, impulsionada por investidores de varejo que compraram US$4,1 bilhões em ações após a queda inicial do downgrade, mascara fragilidades. A falta de participação de investidores institucionais, como apontado pelo Bank of America, sugere que o rali pode ser insustentável. Além disso, o projeto de lei fiscal em tramitação no Congresso, descrito como “decentemente grande” por Glenmede, pode ampliar o déficit, pressionando ainda mais os juros dos Treasuries e o dólar.

O Mosca destaca que a inflação, agora uma realidade, torna insustentável financiar dívidas a juros zero. No Japão, o BOJ enfrenta um dilema: reduzir compras de bonds sem colapsar o mercado ou manter a intervenção, adiando o inevitável. Nos EUA, a complacência com o déficit pode ser abalada por eventos como o projeto de lei fiscal ou novas tarifas, que já enfraquecem o dólar contra moedas asiáticas. A valorização de moedas como o won coreano e o baht tailandês, como mostrado no gráfico de Authers, sugere que o mercado antecipa negociações comerciais mais flexíveis.




Este gráfico ilustra a recente apreciação de moedas asiáticas frente ao dólar, reforçando a tese de enfraquecimento do “rei dólar”.

Para o Japão, a reversão do curso exige atacar a crise demográfica com subsídios agressivos à natalidade e reformas para eliminar firmas zumbis. Nos EUA, a contenção do déficit e uma política monetária hawkish são cruciais. Ambos os países, como sublinhado pelo Mosca, estão em um ponto de inflexão onde a “moleza” monetária não é mais viável. A audácia de enfrentar essas questões agora determinará se Japão e EUA evitarão um colapso fiscal ou se sucumbirão ao peso de suas dívidas.

Quer Perder no Mínimo 30% do Seu Investimento em 1 Ano?

O título é provocativo, eu sei. Mas, como o Mosca gosta de cutucar, vamos direto ao ponto: será que investir nas small e mid caps americanas é mesmo uma boa ideia? No início de 2025, as ações de empresas menores têm superado as gigantes, surfando uma onda de otimismo entre analistas e investidores, que parecem ter adotado uma visão quase dogmática sobre valuations. Ontem, ouvi Charles Gave, da renomada Gavekal, no seu podcast, defendendo com fervor os mercados da Ásia e Europa. O argumento? Os EUA estão “absurdamente caros”, enquanto essas regiões são uma pechincha. Até agora, essa migração tem dado certo. Mas será que a história confirma essa aposta?

O gráfico abaixo fala por si só. Ficar fora das small e mid caps americanas, representadas pelo Russell 1000, tem sido uma escolha correta, a menos que você acredite que “agora é diferente”. E, convenhamos, essa frase é um clássico prenúncio de ciladas no mercado.




- David, você não acha que está sendo arrogante ao questionar analistas tão renomados?

Minha abordagem pode soar provocativa — talvez até um pouco demais, admito —, mas o Mosca se guia pelos gráficos, não por opiniões, por mais respeitáveis que sejam. Como enfatizo: Let the Market Speak! E, por enquanto, os números não justificam o entusiasmo cego por uma fuga para as small caps americanas.

 

Análise Técnica

No post “trump-inside-information”, comentei sobre o S&P 500: “A onda 5 azul, que está se formando, parece meio ‘desajeitada’, sem as características de uma onda direcional clássica, o que se alinha ao cenário atual. Por ser uma onda final e considerando esse aspecto, vou classificá-la como uma onda 5 vermelha diagonal. Com base nesse critério, uma oportunidade de compra pode surgir ao final da onda 4 vermelha, que precisaria cair abaixo de 5.450.”




Por enquanto, nem mesmo o rebaixamento da dívida americana pela Moody’s abalou a bolsa. Ontem, o S&P 500 ameaçou cair na abertura, mas recuperou todo o terreno perdido, mostrando resiliência. A onda C azul pode estar próxima de seu fim, no nível atual, ou buscar a faixa de 6.210/6.230, destacada no retângulo do gráfico. No momento, o Mosca prefere observar de camarote, com o gráfico na mão e sem pressa para agir.




O S&P 500 fechou a 5.940, com queda de 0,39%; o USDBRL a R$ 5,6662, com alta de 0,26%; o EURUSD a € 1,1284, com alta de 0,37%; e o ouro a U$ 3.294, com alta de 2,03%.

Fique ligado!

Comentários