Mudança em curso #IBOVESPA
Desde 2022, o Mosca vem alertando para uma mudança
estrutural que redefine os mercados financeiros globais: a quebra de uma
tendência de longo prazo nas taxas de juros, que agora aponta para um patamar
mais elevado. Essa transição, longe de ser uma anomalia passageira, sugere que
os próximos anos, quiçá décadas, serão marcados por juros mais altos. A
recomendação de manter carteiras de bonds com prazos de vencimento curtos tem
se mostrado acertada, protegendo portfolios contra a volatilidade decorrente
dessa nova realidade. Este texto aprofunda a análise desse cenário,
incorporando perspectivas recentes do Federal Reserve, do Deutsche Bank e do
mercado global, com foco nas implicações para os investidores.
A narrativa de juros baixos, que caracterizou as últimas
décadas, terminou. Como o Mosca destacou no post publicado em dezembro de 24 “agora-e-para-valer”, a era de juros próximos a zero foi uma exceção histórica, e o mercado
finalmente internalizou que taxas mais altas vieram para ficar. A previsão de
que os juros de 10 anos nos EUA poderiam alcançar 6,23% nos próximos dois anos,
após a provável conclusão da onda (4) vermelha, mantém-se relevante.
Na última análise diária, o Mosca observa que os juros de 10
anos estão próximos de um movimento de alta, com uma possível queda marginal
para 4,16% ou 4,10% antes de retomar a trajetória ascendente. Essa visão,
embora não descartada, é tratada com cautela, pois a tendência de alta parece
mais provável.
Essa dinâmica não se restringe aos Estados Unidos. O
Deutsche Bank, em relatório recente, aponta que o Reino Unido e o Japão
enfrentam pressões semelhantes. No Japão, os rendimentos dos JGBs de 30 anos
atingiram máximos históricos, enquanto os Gilts de 30 anos no Reino Unido estão
próximos dos maiores níveis desde 1998, a apenas 10 pontos base dos picos de
2007. Esses movimentos refletem um contexto de aumento da dívida pública
global, com proporções de dívida/PIB de 100% nos EUA e no Reino Unido e 250% no
Japão em 2025, contra 41%, 42% e 113%, respectivamente, em 1999. Essa escalada
da dívida em um ambiente de juros mais altos cria um território inexplorado
para o mercado de bonds, onde o controle da inflação será crucial para evitar
uma crise de oferta no longo prazo.
No âmbito da política monetária, o Federal Reserve está sob
escrutínio. Bill Dudley, em coluna na Bloomberg, endossa a proposta de Ben
Bernanke para que o Fed publique relatórios monetários trimestrais, semelhantes
aos do Banco Central Europeu e do Banco da Inglaterra. Esses relatórios
ofereceriam cenários alternativos, reconhecendo a incerteza econômica e
detalhando como o Fed reagiria a desvios das projeções centrais. A sugestão
surge em um momento em que o Fed enfrenta críticas por sua comunicação opaca.
Dudley argumenta que projeções medianas do FOMC, como as do Summary of Economic
Projections (SEP), são insuficientes para transmitir a função de reação da
política monetária. Um relatório mais robusto poderia preparar os mercados para
ajustes mais rápidos, evitando choques como os observados em 2021, quando a
inflação surpreendeu.
A proposta, porém, não é unânime. Bill English, ex-chefe de
assuntos de política monetária do Fed, alerta que relatórios da equipe técnica,
sem o peso dos formuladores de política, poderiam gerar confusão. Ainda assim,
Dudley defende que a influência das projeções da equipe técnica sobre o FOMC é
significativa, justificando sua relevância. O presidente do Fed, Jerome Powell,
parece inclinado a avançar com a ideia, embora a implementação possa se
estender até o fim de seu mandato em maio de 2026. Essa iniciativa, se
concretizada, poderia sinalizar que Powell está preparando o terreno para um
cenário de juros mais altos, algo que o Mosca já antecipa desde 2022.
No Japão, a pressão sobre os juros reflete não apenas a
dinâmica global, mas também desafios domésticos. O fraco leilão de JGBs de 20
anos, com a menor demanda em uma década, e a comparação do primeiro-ministro
japonês da situação financeira do país com a Grécia intensificaram as
preocupações. A próxima reunião do Banco do Japão (BoJ), em 17 de junho, será crucial,
com o mercado atento à possibilidade de o BoJ manter ou ajustar o ritmo de
redução de compras de títulos, em meio a um aumento de 44 pontos base nos
rendimentos de 30 anos apenas em maio.
Para os investidores, o cenário exige adaptação. A
recomendação do Mosca de priorizar bonds de curto prazo segue válida,
minimizando a exposição à volatilidade dos rendimentos. Além disso, a alta
global dos juros sugere que ativos sensíveis a taxas, como ações de
crescimento, podem enfrentar ventos contrários, enquanto setores como bancos e
seguradoras podem se beneficiar. A inflação, embora sob controle em alguns
mercados, permanece uma variável crítica. Como o Deutsche Bank aponta, a
abundância de oferta de títulos no longo prazo exige que a inflação seja
contida para evitar uma espiral de rendimentos insustentáveis.
O Mosca mantém a visão de que os mercados estão em uma
inflexão histórica. A normalização dos juros, embora dolorosa para alguns, é um
retorno à racionalidade financeira após anos de políticas monetárias
extraordinárias. A audácia está em reconhecer que o futuro não será uma
repetição do passado e que a preparação para juros mais altos é não apenas
prudente, mas necessária. A sofisticação está em navegar esse ambiente com
estratégias que equilibrem risco e oportunidade, mantendo a disciplina em um
mercado que testa a paciência dos mais experientes.
Análise Técnica: IBOVESPA
No post “we-are-still-open”, comentei sobre o IBOVESPA: “O objetivo da onda 3 azul está na faixa de 140,5 mil a 142,4 mil pontos – há também um objetivo de menor grau em 139,3 mil. Em seguida, virá uma onda 4 azul ‘chata’ – toda onda 4 é chata! Estou avaliando se saio antes, pois ela pode trazer uma queda entre 3% e 5%. Fiquem atentos a partir de agora.”
Quem acompanha o Mosca com frequência percebe que, em
algumas situações, a ideia principal se expressa na forma como o texto é
escrito, nem sempre de maneira explícita. Captar essas nuances é essencial.
Feitas essas considerações, o texto acima deixa claro que estou com o dedo no
gatilho, especialmente porque a bolsa já atingiu o primeiro objetivo
mencionado.
Uma análise mais detalhada do mercado brasileiro aponta para dois cenários: o objetivo citado acima e outro mais ambicioso. Sei que, ao optar por liquidar a posição ao alcançar o objetivo, pode ser difícil reingressar no mercado. Por outro lado, permanecer investido e assistir a uma eventual retração, após atingir um alvo traçado, pode ser frustrante. Dado que as bolsas internacionais parecem indicar uma possível pausa, decidi liquidar a posição na abertura, a 140.109 pontos, deixando o mercado determinar se minha decisão foi precipitada. Afinal, não sou particularmente fã desse ativo.
O S&P 500 fechou a 5.844, com queda de 1,61%; o USDBRL a
R$ 5,6423, com queda de 0,44%; o EURUSD a € 1,1325, com alta de 0,37%; e o ouro
a U$ 3.318, com alta de 0,87%.
Fique ligado!
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