Carta na manga #IBOVESPA
Os EUA e a Europa estão querendo se defender da enxurrada de
produtos produzidos na China, o que, do seu ponto de vista, é fundamental para
não levar o país a uma depressão. Esperar por um aumento do consumo interno é
uma falácia que venho ouvindo desde 2015, quando ocorreu a primeira crise e
nunca se materializou. Recentemente, com o colapso do mercado imobiliário, fica
ainda mais difícil, pois mexe com a confiança do consumidor. Sendo assim, não
resta outro caminho – o de sempre – as exportações. Dentro delas, o mercado de
veículos vem ganhando porte, sendo atualmente o líder nesse segmento mundial.
Hoje os EUA estão anunciando o aumento de tarifas para carros elétricos que passa a ser de 100% e dobrando os impostos para os semicondutores em 50%. A lista é composta por 387 produtos. O mesmo está sendo estudado pela Europa nesse sentido. A China, percebendo esse movimento, há tempos está direcionando suas exportações para os mercados emergentes – basta ver o mercado brasileiro, onde a BYD e a GMC estão oferecendo seus veículos com preços 50% menores que seus concorrentes.
Porém, estamos falando da segunda economia mundial e os
volumes de produção são muito grandes. Não teria como fazer a conta, mas
acredito que os mercados emergentes não sejam suficientes para escoar toda a
produção. Além disso, esses países irão, em breve, colocar salvaguardas para
não matar as indústrias locais, o que poderia colocar a China numa segunda
rodada de dificuldades.
Conforme acompanhamos o andamento dessa batalha, notamos que
a China domina a área de minerais de forma quase que absoluta. Essa liderança
não deve ter sido conquistada por acaso. Jon Emont relata no Wall Street
Journal que os esforços ocidentais para fazer alguma diferença estão
definhando.
Nos últimos anos, o Ocidente tem tentado romper o domínio da
China sobre minerais críticos para a defesa e tecnologias verdes. Apesar dos
esforços, as empresas chinesas estão se tornando mais dominantes, não menos.
Elas estão expandindo operações, supercarregando o
fornecimento e fazendo os preços caírem. Seus concorrentes não conseguem
competir.
Vejamos o níquel, que é necessário para baterias de veículos elétricos. Plantas de processamento chinesas que pontilham o arquipélago indonésio estão produzindo vastas quantidades do mineral a partir de novas e crescentes instalações, sacudindo o mercado.
Enquanto isso, a gigante mineradora Glencore, com sede na Suíça, está suspendendo as operações em sua planta de níquel na Nova Caledônia, um território francês, concluindo que não pode sobreviver, apesar das ofertas de ajuda financeira de Paris. A Horizonte Minerals, do Reino Unido, cuja nova mina brasileira era esperada para se tornar uma grande fonte ocidental, disse no mês passado que os investidores desistiram, citando excesso de oferta no mercado.
Pelo menos quatro minas de níquel na Austrália Ocidental
estão encerrando suas atividades.
Projetos de lítio nos EUA e na Austrália foram adiados ou
suspensos após um aumento na produção chinesa no país e na África Subsaariana.
A única mina dedicada ao cobalto nos EUA também suspendeu
operações no ano passado, cinco meses após dignitários locais participarem da
cerimônia de abertura. Seus proprietários dizem que estão lutando contra uma
inundação de cobalto produzido na China, proveniente da Indonésia e da
República Democrática do Congo.
No ano passado, a produção não chinesa de cobalto refinado caiu para o seu nível mais baixo em 15 anos, de acordo com a Darton Commodities. A participação da mineração de lítio feita dentro da China ou por empresas chinesas no exterior cresceu de 14% em 2018 para 35% este ano, segundo a Fastmarkets, um fornecedor de informações sobre commodities. No mesmo período, o processamento de lítio realizado dentro da China subiu de 63% em 2018 para 70%, segundo a Fastmarkets.
O que é mais preocupante para os produtores ocidentais é que há poucos sinais de abrandamento.
"É assim que a China faz as coisas. Eles tendem a
construir mais capacidade, seja em alumínio, cimento ou níquel", disse
William Adams, chefe de pesquisa de metais básicos da Fastmarkets. As empresas
chinesas "buscam participação de mercado, e a consequência disso é o
excesso de oferta."
Os funcionários ocidentais também estão soando o alarme. Em
resposta a uma pergunta no mês passado sobre o domínio da China no níquel, a
vice-primeira-ministra canadense Chrystia Freeland disse que o mercado foi
inundado, tornando inviáveis os negócios em democracias de livre mercado.
"Acreditamos que esse comportamento pode ser
intencional, com o objetivo de levar empresas em nosso país e nos de nossos
aliados à falência", disse ela. Freeland não forneceu mais detalhes ou
evidências para a afirmação.
O Ministério das Relações Exteriores da China não respondeu
a um pedido de comentário.
O grande lobo mau
As empresas chinesas continuam a aumentar, graças a anos de
aquisições agressivas. A Zijin Mining, uma empresa estatal chinesa, disse que
aumentaria a produção de lítio em cerca de 85 vezes este ano a partir de uma
base baixa e em mais cinco vezes no próximo ano.
O crescimento projetado decorre de sua compra em 2022 de um
ativo ocidental — uma mina intocada premium na Argentina — que está programada
para começar a bombear lítio este ano.
A mina foi descoberta em 2015, quando Waldo Perez, um
geólogo nascido na Argentina, coletou amostras em um lago remoto a 13.000 pés
acima do nível do mar nos Andes, que se revelou parte de um grande depósito de
lítio. Ele formou uma empresa canadense chamada Neo Lithium com parceiros,
garantiu os direitos minerais, listou-a na Bolsa de Valores de Toronto e
intensificou a exploração.
Em 2021, eles decidiram vender.
Constantine Karayannopoulos, presidente da Neo Lithium na
época, disse que cortejou potenciais compradores — mineradoras e fabricantes de
baterias de VE — do Japão, Alemanha, EUA, Coreia do Sul e Austrália, mas houve
pouco interesse. Com os preços do lítio subindo na época, ele disse que estavam
cautelosos em se juntar à "frenesi alimentar" e gastar muito dinheiro
na mina, caso ela não fosse lucrativa.
As três melhores ofertas recebidas pela empresa foram de
empresas chinesas, incluindo a oferta vencedora de US$ 750 milhões da Zijin,
cujo maior acionista é uma empresa estatal chinesa.
A venda passou por uma revisão do governo canadense, mas
perturbou legisladores conservadores no país e nos EUA.
OPEC de um único membro
A China tem muitas vantagens na corrida para garantir
minerais. Seus mineradores são agressivos e com bolsos cheios, fazendo apostas
em países ricos em recursos que as empresas ocidentais há muito consideram
corruptos ou instáveis, como Indonésia, Mali, Bolívia e Zimbábue. Bancos
estatais fornecem financiamento para usinas e parques industriais no exterior,
abrindo caminho para mais investimentos privados chineses.
O rápido desenvolvimento industrial da China também
significa que suas empresas passaram décadas refinando a arte de transformar
minério bruto em metais. Eles podem configurar novas instalações rapidamente e
a baixo custo. Um estudo publicado em fevereiro pelo Oxford Institute for
Energy Studies estima que os custos de construção de uma refinaria de lítio
fora da China são de três a quatro vezes maiores do que construir uma dentro do
país.
No leste da Indonésia, empresas chinesas construíram uma
frota de plantas de níquel e cobalto altamente eficientes nos últimos anos,
depois de dominar uma tecnologia que os mineradores ocidentais consideravam há
muito tempo problemática e cara. As plantas operam com energia a carvão, parte
dela nova, em um momento em que o mundo está buscando eliminar a energia suja.
A Talon Metals está tentando competir. A empresa, com sede
em Toronto, controla uma rica reserva subterrânea de níquel no centro de
Minnesota — uma mina que a Casa Branca diz fazer parte de seu plano para
quebrar a dependência dos EUA de minerais chineses. O Departamento de Energia
destinou mais de US$ 100 milhões para a Talon construir uma refinaria na Dakota
do Norte para processar minério de Minnesota e outras partes da América do
Norte.
A Tesla concordou em comprar o níquel para baterias de
carros.
"Políticos dos EUA de ambos os lados do corredor
percebem que não podemos permitir que a China se torne uma 'OPEC de um único
membro' para minerais críticos como o níquel", disse Sean Werger,
presidente da Talon, no mês passado, referindo-se ao cartel do petróleo formado
por muitos dos principais produtores mundiais para coordenar o fornecimento.
A indústria mineral é uma prioridade nacional para Pequim.
Investimentos em metais e mineração sob sua Iniciativa do Cinturão e Rota
atingiram níveis recordes no ano passado, de acordo com um relatório do
Griffith Asia Institute da Austrália. Os empréstimos oficiais chineses para
projetos minerais em países em desenvolvimento geralmente oferecem taxas mais
baixas do que os empréstimos comerciais, de acordo com a AidData, um
laboratório de pesquisa universitária em William & Mary, na Virgínia.
Enquanto isso, as empresas ocidentais lutam para obter
empréstimos. Amos Hochstein, um dos principais assessores de energia da Casa
Branca, disse este mês que os bancos ocidentais relutam em financiar projetos
em países ricos em minerais e arriscados, e que a China é frequentemente o
único jogador.
A legislação dos EUA aprovada em 2022 oferece incentivos
para fabricantes de veículos elétricos comprarem minerais domesticamente ou de
países com os quais os EUA têm acordos de livre comércio. A partir do próximo
ano, as baterias poderão ser desqualificadas para subsídios se contiverem
minerais extraídos ou processados por empresas chinesas.
Na terça-feira passada, a Casa Branca anunciou novas tarifas
sobre a China, incluindo minerais críticos como grafite natural, nos quais
Pequim domina.
Os mineradores ocidentais esperam que essas disposições
eventualmente impulsionem a demanda por seus minerais, embora alguns temam que
os fabricantes de automóveis possam encontrar alternativas. Eles também esperam
que as empresas chinesas reduzam a produção.
"Aos preços de hoje, a economia para novos projetos,
particularmente no Ocidente, não é viável", disse Kent Masters, CEO da
Albemarle, o maior produtor de lítio dos EUA, este ano. A menos que os preços
subam, Masters disse que não acha que há um "caso de negócios" para
uma cadeia de suprimento completa de lítio ocidental.
O artigo versa sobre algumas das principais matérias-primas
denominadas de críticas, mas não são só essas. A ilustração a seguir, elaborada
pela Bloomberg, é chocante. Nas matérias-primas denominadas de “Clean-Tech”,
eles têm praticamente um monopólio de todas! E, como o artigo acima menciona,
as outras indústrias vão morrendo por não terem um preço competitivo.
Do mesmo jeito que o Ocidente pode comprometer as empresas chinesas que produzem produtos de exportação, os chineses podem estancar a venda de matéria-prima fundamental para a produção de componentes eletrônicos, leia-se aqui chips: o ouro do século XXI. Embora seja algo extremo, vale a frase de desespero “morrer atirando”. Na opinião do Mosca, essa é a carta na manga dos chineses!
Hoje, a queridinha do mercado Nvidia anuncia seus resultados
do 1º trimestre. Não é por acaso que sua publicação é bem distante das suas
companheiras do recém-criado clube Magnificas Sete pelos investidores. Agindo
dessa forma, se destaca e passa a ser uma referência no mercado de tecnologia,
como comenta John Authers na Bloomberg.
É o Dia da Nvidia!
Prepare-se para um aniversário importante. Quando a Nvidia Corp., a maior fabricante de chips do mundo, anunciar os lucros do primeiro trimestre após o fechamento do mercado na quarta-feira, marcará um ano desde que seus resultados impressionantes para o mesmo período em 2023 foram tratados como uma validação da empolgação com a inteligência artificial e desencadearam um rali que ainda continua. Antes disso, seu valor de mercado já estava acima de US$ 750 bilhões; desde então, cresceu mais de US$ 1,5 trilhões.
Como já foi exposto antes em *Points of Return*, o que é
realmente notável sobre a Nvidia é a forma como seus lucros, receitas e margens
relatadas cresceram desde o lançamento do ChatGPT. É a maravilha da era. O
estrategista de ações do UBS, Jonathan Golub, diz que a Nvidia representa 52%
da capitalização de mercado do S&P 500. Seus lucros por ação devem expandir
em 411% em comparação com um ano atrás, contribuindo com 25 pontos percentuais
para o crescimento de 103% do mercado. E, ultimamente, a Nvidia tem feito um
ótimo trabalho em se manter bem à frente das altas expectativas.
Portanto, a Nvidia importa, e assim deve ser. Se ela deve
ser tão vital para o ânimo do mercado de ações como um todo é outra questão. A
correlação não prova a causalidade, mas é fascinante que o índice preço/lucro
do S&P 500 tenha aumentado mais ou menos perfeitamente em linha com as
mudanças no preço das ações da Nvidia nos 12 meses desde o Dia da Nvidia.
Amanhã saberemos se o crescimento dos resultados segue na tônica exponencial e, mais importante, o que a empresa espera daqui para frente.
No post e-o-vencedor-e-o-dardo fiz os seguintes
comentários sobre o Ibovespa: ... “Reitero minha visão anterior de que, por
enquanto, nenhuma indicação de posicionamento na bolsa brasileira é
recomendável. O canal de baixa que se encontra pontilhado no gráfico abaixo
está contendo os movimentos. O bom motivo é que aponta para uma correção; o mau
é que não se sabe onde ela termina” ...
A bolsa continuou em seu movimento lateral, porém muito contido, percorrendo o canal de baixa. No curto prazo, estaria rompendo esse canal que se encontra pontilhado no gráfico a seguir. Isso indicaria alguma ação? Não vejo nenhum atrativo de posicionamento por enquanto. Reforço meus dois argumentos: tudo indica que está numa correção; a onda 2 verde está muito longa. Eu publiquei o gráfico com janela semanal em função da comparação que faço a seguir.
Em função do último argumento, vou revelar uma possibilidade que pode ocorrer. Para ficar mais claro, a seguir se encontra o gráfico dessa nova estratégia que parece ganhar mais credibilidade.
A grande diferença entre os dois cenários é que, no primeiro caso, a alta da bolsa deveria atingir níveis mais elevados, enquanto nessa última o objetivo seria entre 134.3 mil e 137.7 mil e, ao invés de continuar subindo, uma nova queda ocorreria na onda B laranja. Em todo caso, como em ambas o próximo movimento seria de alta (depois que essa correção em andamento terminasse), não temos que nos preocupar no momento em qual dos casos se encontra.
O SP500 fechou em 5.307, com queda de 0,27%; o USDBRL a R$ 5,1562, com alta de 0,65%; o EURUSD a € 1,0820, com queda de 0,30%; e o ouro a U$ 2.379, com queda de 1,75%.
Fique ligado!
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